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Rastrear a pandemia significa encontrar os 'cana¡rios na mina de carva£o'
O Dr. Nicholas A. Christakis , professor de ciências sociais e naturais de Yale, dedicou anos a  investigaa§a£o de como as redes sociais afetam nossa saúde e comportamento. Seu trabalho oferece informaa§aµes sobre como rastrear e lidar com epidemia
Por Mike Cummings - 17/03/2020



O Dr. Nicholas A. Christakis - um médico e cientista social que dirige o Laborata³rio da Natureza Humana de Yale e co-dirige o Instituto de Ciências da Rede de Yale - também estuda a natureza humana, um assunto que ele examina em seu último livro best-seller " Blueprint: As origens evoluciona¡rias de uma boa sociedade " ( Pouco, faa­sca marrom).

Christakis conversou sobre como, em meio a uma pandemia, a natureza humana pode nos prejudicar - e como isso poderia ajudar. Entrevista editada e condensada.  

Por que éútil considerar o efeito das redes sociais nas epidemias?

As redes que estudamos no Human Nature Lab são redes presenciais - são compostas das interações que mantemos com nossa fama­lia, amigos, colegas de trabalho e vizinhos. Claro, as pessoas também tem interações com estranhos na rua e nas lojas. Vocaª pode apertar a ma£o de uma pessoa que entrega, esse tipo de coisa. Esses são os tipos de conexões que podemos entender atravanãs da análise de redes sociais. E essas redes formam as estradas pelas quais os va­rus se espalham, de pessoa para pessoa.

Compreender a estrutura dessas redes e o comportamento do va­rus a  medida que as atravessa, nos da¡ uma ideia de como interromper a disseminação e nos defender. Tambanãm nos da¡ a oportunidade de prever como o va­rus se espalhara¡.

Como as redes sociais são estruturadas?

Imagine cordas de luzes da a¡rvore de Natal. Toda luz representa uma pessoa e os fios são as conexões entre as pessoas na rede. Imagine que as cordas estãoatadas no centro, com gavinhas emanando para a periferia. a‰ assim que uma rede se parece.

As pessoas no centro da rede tem maior probabilidade de pegar o que estãose espalhando, seja a fofoca mais recente ou um va­rus perigoso. Eles sera£o os primeiros a ouvir as fofocas ou pegar o va­rus. As pessoas na periferia da rede, aquelas com poucos amigos e contatos, são as menos propensas a ouvir fofocas ou adoecer. Eles podem nunca pegar o va­rus, mas se o fizerem, isso acontecera¡ no final da epidemia.

Como podemos usar esse insight para prever a propagação de um va­rus?

Desenvolvemos o que chamamos de “manãtodo do sensor de rede”, que procura identificar os indivíduos no centro da rede, aqueles com muitos amigos e contatos, e monitora¡-los passivamente. Eles poderiam funcionar como cana¡rios na mina de carva£o, porque o va­rus os atingira¡ antes de atingir a população em geral. Isso poderia fornecer um sistema de alerta precoce para epidemias e ser útil no planejamento proativo de surtos.

Nossa pesquisa demonstrou que esse manãtodo pode funcionar durante a pandemia do H1N1 em 2009. Meu laboratório estãoagora no meio da atualização dessas ferramentas para o ambiente atual, trabalhando com alguns estudantes de graduação e pós-graduação de Yale. Estamos desenvolvendo um aplicativo ma³vel que usa o manãtodo de sensor de rede para ajudar as pessoas a rastrear casos de gripe em suas cidades.

O que os indivíduos devem fazer para diminuir a propagação do va­rus?

Precisamos evitar a mistura social - individual e coletivamente. Além de lavar as ma£os, os indivíduos precisam manter uma certa distância física dos outros (cerca de um metro e oitenta) e evitar se tocar. As pessoas devem trabalhar em casa, se puderem, e evitar reuniaµes não essenciais e viajar. Estes são passos prudentes que qualquer um pode tomar por conta própria. Esse tipo de distanciamento social pode ajudar a "achatar a curva", o que significa que levara¡ a uma taxa mais gradual de infecção e, assim, evitara¡ que nossos sistemas de saúde sejam sobrecarregados.

Como a natureza humana afeta nossa capacidade de obter o distanciamento social?

a‰ da nossa natureza ser social. a‰ muito natural evitarmos reunir-nos em grupos, evitar ver nossos amigos, parar de apertar as ma£os ou nos abraçar. Fazer tudo isso não parece normal para os seres humanos. No entanto, nosso comportamento social natural éo que o pata³geno estãoexplorando.

Ha¡ um equa­voco entre algumas pessoas de que a coisa ama¡vel e corajosa a fazer éapertar as ma£os das pessoas e se comportar como se as coisas fossem normais. Eles querem demonstrar que não tem medo do va­rus, interagindo com outras pessoas. Na realidade, a coisa ama¡vel e altrua­sta a fazer éprecisamente o oposto disso. Quando vocêevita contatos sociais desnecessa¡rios no momento, estãoimpedindo que o va­rus use seu corpo como vetor de transmissão. O va­rus estãose espalhando e, quanto mais caminhos pudermos parar, melhor serápara todos.

As pessoas tem tendaªncias inatas que podem nos ajudar a combater o va­rus?

Absolutamente. Eles incluem nossa tendaªncia natural de cooperar, o que a situação atual certamente exige. Mesmo quando somos encorajados a nos distanciarmos, precisamos nos unir para combater essa pandemia. Tambanãm temos uma capacidade inata de ensinar. Somos muito incomuns como animais, pois não aprendemos apenas um com o outro, ensinamos coisas um ao outro. Essa capacidade afirmativa de compartilhar conhecimento éexatamente o tipo de coisa que precisamos agora.

Que conselho vocêdaria para os formuladores de políticas ao abordarem a crise?

Os formuladores de políticas enfrentam decisaµes desafiadoras sobre o fechamento de escolas ou o cancelamento de grandes eventos. Eles também precisam decidir como alocar melhor os recursos para apoiar a saúde pública. Essas decisaµes não são fa¡ceis porque envolvem uma mistura de demandas que implicam saúde pública, economia e nossa liberdade de se movimentar e se reunir quando quisermos. Os formuladores de políticas devem considerar os limites para o fechamento de escolas e o banimento de grandes reuniaµes.

A necessidade mais cra­tica a  medida que a epidemia cai sobre nossera¡ a disponibilidade de leitos e ventiladores hospitalares para nossas UTIs. Precisamos fazer o nosso melhor para planejar isso.

Os formuladores de políticas não precisam reinventar a roda. Ha¡ conhecimento acumulado sobre como responder a pandemias. Nãosabemos ao certo quanto severa seráessa pandemia, mas parece que pode ser muito significativa; portanto, devemos agir como se fosse muito significativa.

Vocaª estãolidando com a crise do coronava­rus em alguma nova pesquisa?

Eu tenho um projeto com uma equipe chinesa em que estamos usando manãtodos de big data para desenvolver o que anã, em minha opinia£o, uma ideia inovadora que nos permitira¡ prever a pandemia em tempo real, de uma maneira útil. Esse documento estãoem revisão no momento.

 

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