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Estudo analisa delirium em pacientes COVID-19 em estado cra­tico
Quanto maior o delirium, e quanto mais durar, maiores sera£o as chances desses resultados. De fato, a  medida que o delirium piora, as chances de ma¡ recuperaça£o cognitiva e comprometimento funcional aumentam.
Por Liji Thomas, - 03/06/2020

Doma­nio paºblico

Um novo estudo publicado no servidor de pré-impressão on-line medRxiv * em maio de 2020 relata a alta incidaªncia de delirium em pacientes com COVID-19 em terapia intensiva. Isso destaca a necessidade urgente de prever, prevenir e gerenciar o delirium e interrompaª-lo em pacientes com COVID-19.

A pandemia global de COVID-19 écausada pelo novo coronava­rus da Sa­ndrome Respirata³ria Aguda Grave 2 (SARS-CoV-2) e causou centenas de milhares de mortes e milhões de casos da doença em todo o mundo. Inicialmente conhecida por suas manifestações respirata³rias, outras caracteri­sticas da doença estãosurgindo, incluindo eventos neurola³gicos e procoagulantes.

Um desses sinais éo delirium, uma sa­ndrome neurola³gica grave ligada a muitos resultados adversos na doença de COVID-19. As complicações do delirium incluem maior tempo de ventilação meca¢nica, permanaªncia na unidade de terapia intensiva (UTI), hospitalização, maior taxa de mortalidade e chances de institucionalização após a alta.

Quanto maior o delirium, e quanto mais durar, maiores sera£o as chances desses resultados. De fato, a  medida que o delirium piora, as chances de ma¡ recuperação cognitiva e comprometimento funcional aumentam.

Antes do COVID-19, a prevalaªncia de delirium em pacientes sob ventilação meca¢nica era de cerca de 17% a 33%, abaixo do pico de cerca de 80%. No entanto, com a pandemia do COVID-19, hospitais e UTIs foram sobrecarregados com uma enxurrada de pacientes gravemente doentes. Isso inevitavelmente sobrecarregou os recursos de saúde e pode ter contribua­do para o retorno das taxas de delirium no ambiente da UTI aos na­veis anteriores.

Isso foi ilustrado por um pequeno estudo francaªs que citou uma taxa de delirium em cerca de 65% em pacientes na UTI. Se esse também éo caso de pacientes de UTI nos EUA, dos quais existem dezenas de milhares no momento, o delirium pode resultar em uma necessidade de cuidados a longo prazo para muitos pacientes, com o a´nus inevita¡vel para o sistema paºblico de saúde.

Este estudo foi realizado em dois grandes hospitais do Centro-Oeste dos EUA e teve como objetivo a incidaªncia, duração e gravidade do delirium, bem como os fatores de risco para delirium em pacientes com COVID-19 em estado cra­tico.

Havia 144 pacientes elega­veis para o estudo de 243 pacientes confirmados consecutivos de COVID-19, admitidos entre 1 de mara§o de 2020 e 27 de abril de 2020. Todos eles receberam alta da UTI no final do estudo. A idade média foi de 58 anos, e 58% deles eram do sexo masculino. Cerca de metade deles eram negros e 14% hispa¢nicos.

Cerca de 60% deles tinham hipertensão, 56% obesidade, 27% usavam tabaco e 26% tinham doença pulmonar crônica. Quase três quartos dos pacientes necessitaram de ventilação meca¢nica invasiva. Apenas cerca de 1% tinha qualquer evidência de acidente vascular cerebral.

Incidaªncia de dela­rio

No presente estudo, o delirium foi identificado pelo manãtodo de avaliação de confusão para a UTI (CAM-ICU). Essa pontuação procura flutuações oumudanças no estado mental, perda de atenção, consciência reduzida ou falta de pensamento organizado.

Os pesquisadores descobriram que cerca de 74% tinham delirium, tipicamente ocorrendo nos primeiros dois dias da admissão na UTI. Se o coma também foi considerado, chegou a cerca de 76%. Cerca de 63% foram diagnosticados com coma na primeira avaliação e 37% na segunda.

Taxas dia¡rias de status de delirium, coma ou sem delirium / coma como avaliadas
atéos primeiros 14 dias de permanaªncia na unidade de terapia intensiva (n = 144)

A gravidade da doença énormalmente avaliada usando o andice de Avaliação de Fisiologia Aguda e Saúde Cra´nica (APACHE-II). Isso écalculado usando valores laboratoriais, sinais vitais e avaliações neurolégicas realizadas nas primeiras 24 horas da admissão na UTI.

Os pacientes delirantes no presente estudo tiveram uma pontuação APACHE-II mais alta em relação a  gravidade da doença na admissão e eram muito mais propensos a estar em um ventilador, 91% vs. 21%. Eles eram mais propensos a serem hipoxaªmicos, tinham na­veis mais baixos de consciência nas primeiras 24 horas na UTI, bem como nos 14 dias de permanaªncia na UTI.

Subtipos de delirium em pacientes cra­ticos com COVID-19 que desenvolveram
delirium (n = 106)

Duração e gravidade do dela­rio

A duração mediana do delirium e do coma foi de 7 dias, enquanto para o delirium sozinho, foram de 5 dias. Onívelmediano de consciência foi sedação leve. Os fatores associados ao delirium incluem:

Maior número de dias no ventilador em comparação com pacientes não delirantes (mediana: quase 9 dias vs. 0 dias)

Maior número de dias na UTI (mediana 11 vs. quase 4 dias)

Neste estudo, a gravidade do delirium foi medida em 73 pacientes, mostrando uma pontuação média de 6 no Manãtodo de Avaliação de Confusão para a Unidade de Terapia Intensiva-7 (CAM-ICU-7), indicando delirium grave.

Os pesquisadores descobriram que a ventilação meca¢nica aumentou com um aumento astrona´mico de 42 vezes nas chances de delirium. No entanto, a amostra do estudo era pequena demais para conseguir aumentar as taxas de mortalidade.

Os resultados do estudo não estãode acordo com muitas outras publicações recentes sobre delirium em pacientes de UTI durante o último surto de influenza. De fato, estudos anteriores em um dos mesmos centros mostraram 36% de ventilação meca¢nica, 23% de delirium e 24% de coma durante esse período.

Causas do dela­rio relacionado ao COVID-19

O que poderia ter aumentado as taxas de delirium no período COVID-19? Os pesquisadores assumem que melhores diretrizes cla­nicas e esquemas multidisciplinares para a prevenção do delirium e o uso de técnicas que reduzam as taxas de ventilação meca¢nica invasiva, além de aumentar a conscientização sobre os perigos do delirium, contribua­ram para uma redução dra¡stica da UTI dela­rio.

O estresse da pandemia em curso e, especialmente, o afluxo abrupto de um grande número de pacientes cra­ticos em UTIs, interromperam essas rotinas cla­nicas, levando a  incapacidade de aplicar essas melhorias nos cuidados. Além disso, alguns pensam que a lesão viral direta no sistema nervoso central pode causar delirium. Essas teorias exigem mais estudos para elucidar as vias neurais e outras subjacentes ao desenvolvimento do delirium.

"O estudo conclui: "Nosso estudo lana§a luz sobre uma carga alarmante de delirium e coma em pacientes internados na UTI e a necessidade de esforços conta­nuos na prevenção de delirium".


*Nota­cia importante
O medRxiv publica relatórios cienta­ficos preliminares que não são revisados ​​por pares e, portanto, não devem ser considerados conclusivos, guiar a prática cla­nica / comportamento relacionado a  saúde ou tratados como informações estabelecidas.

 

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