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Apa³s o protesto ... o que vem depois?
Especialistas de Harvard falam sobre como transformar a energia do momento emmudanças duradouras
Por Christina Pazzanese - 13/06/2020


Manifestantes protestam contra a morte de George Floyd no EUA em Washington.

As conta­nuas manifestações nacionais lascadas após o assassinato de George Floyd desencadearam um debate entre grupos minorita¡rios e lideres, ativistas, acadaªmicos e funciona¡rios paºblicos sobre a melhor maneira de converter a energia deste momento emmudanças significativas e duradouras. Alguns pediram a revisão de leis que protejam os policiais da responsabilização ou permitam prática s que tendem a levar a força excessiva usada desproporcionalmente contra afro-americanos. Outros querem diminuir as fileiras de oficiais e mudar o financiamento para aumentar os servia§os sociais, reduzindo assim a necessidade de executores. Mas para muitos, a violência racial éapenas uma manifestação de disparidades sistemicas mais amplas que os afro-americanos enfrentam em áreas como saúde, educação, emprego, economia e moradia, que também devem ser abordadas.

David J. Harris, Ph.D. '92
Diretor-gerente, Instituto Charles Hamilton Houston para Raa§a e Justia§a,  Harvard Law School

Primeiro, e essencialmente, devemos contar com o que nossa história produziu. Por mais difa­cil que seja esse ca¡lculo, os indicadores revelara£o atéque ponto conseguimos. Para facilitar o processo, devemos reconhecer um ponto fundamental: “Na³s, o Povo” nunca incluiu todos nos. Isso não pode ser sujeito a debate.

Uma vez que reconhecemos essa exclusão definidora, podemos trazr as inaºmeras maneiras pelas quais, negando grandes grupos de pessoas, principalmente afro-americanos e nativos americanos, os direitos mais ba¡sicos de associação e participação - as qualidades de cidadania - diminua­ram as chances de vida de indivíduos e comunidades. Compreender o dano real e conta­nuo das políticas e prática s que tem acesso e oportunidade distribua­dos de maneira diferenciada, violência estatal e privação abrira¡ nossos olhos para avenidas para reparo e restauração.

Tambanãm devemos repensar nossas noções de justia§a. Nosso atual acoplamento entre criminalidade e justia§a nos prende a uma fixação pela punição, em vez de um sistema de justia§a. Entendo que a justia§a éfeita como a­ntegra, o que promove prática s que se concentram na saúde e no bem-estar de todos os residentes e comunidades inteiras, como caracteri­sticas da segurança.

Outro indicador mais tanga­vel de nosso progresso no caminho do acerto de contas seráse não apenas ouvimos e simpatizamos com o que as pessoas que sofreram hádécadas estãodizendo, mas agimos de maneiras realmente responsivas. Como as pessoas correm para as ruas com grande risco de reprimir a violência racial institucionalizada perpetuada pelo policiamento, a promoção de leis que proa­bem os estrangulamentos écompletamente surda. Nova York tinha essa proibição quando Eric Garner foi assassinado. As pessoas não estãopedindo um policiamento mais humano, mas sim um acerto de contas direto com a cultura e a instituição do policiamento, incluindo seu desembolso.

Todas as nossas instituições, do governo a  indaºstria, da academia a  imprensa, devem ouvir com mais atenção e responder mais diretamente. Ao considerar o horror que provocamos, vamos vencer o medo da palavra reparações e comea§ar o reparo extensivo de que precisamos.

Brandon Terry '05
Professor Assistente de Estudos Africanos e Afro-Americanos e Estudos Sociais, Harvard University

Brandon Terry. Foto do arquivo Kris Snibbe / Harvard

Estamos em um momento de intenso acerto de contas com a história americana da supremacia branca. Milhaµes de americanos parecem estar cada vez mais conscientes da ameaça existencial que nossas acomodações persistentes a  dominação racial representam para o futuro da democracia americana. Apoio várias demandas do Movimento por Vidas Negras,incluindo o rápido decarceramento, bilhaµes de da³lares em investimentos reparadores em comunidades negras e inda­genas e a transferaªncia de gastos econa´micos do policiamento e militares para formas radicalmente reimaginadas de educação, saúde e cuidado infantil, habitação e segurança pública. Minha esperana§a, no entanto, éque lembremos que a história da pola­tica progressista na Amanãrica nos ensina que, se não capacitarmos cidada£os comuns, especialmente os mais vulnera¡veis, a advogar e proteger tais ganhos, édifa­cil que nossas realizações sobrevivam. além de momentos de intensa paixa£o e atenção. Tais demandas devem estar situadas dentro do chamado para uma sociedade democra¡tica fortalecida.

Precisamos, por exemplo, de uma nova Lei de Direitos de Voto para resistir ao desmantelamento da Corte Suprema das disposições mais efetivas da lei de 1965 e de esforços sustentados por republicanos e subversivos estrangeiros para suprimir a votação entre cidada£os raciais da classe trabalhadora, pobres e minorizados. O ato sujeitaria a gerrymandering a uma revisão não partida¡ria, estenderia o direito de voto a pessoas presas e ex-encarceradas, alteraria radicalmente ou aboliria o Colanãgio Eleitoral, concederia Washington, DC, estado e estudaria maneiras de incentivar as áreas metropolitanas (atravanãs de doações em bloco e outras medidas ) para buscar a integração pola­tica. Tambanãm precisamos de legislação que, em busca da democracia econa´mica, melhore drasticamente a capacidade e a proteção de trabalhadores para organizar, greve, negociação coletiva, e buscar ações reparadoras em casos de discriminação. Tambanãm, como Elizabeth Warren propa´s, obrigaria as grandes empresas a ter uma representação substancial dos trabalhadores em seus conselhos, aumentaria a fiscalização antitruste contra os crescentes monopa³lios de tecnologia e restringiria o doma­nio privado da infraestrutura pública (por exemplo, a Internet).

Alan Jenkins '85, JD '89
Professor de Pra¡tica, Harvard Law School

Acredito que éhora de uma Terceira Reconstrução: uma reconsideração fundamental de nossa Constituição, sistemas, instituições e prática s para defender os direitos humanos e garantir oportunidades iguais para todos. Em relação ao nosso sistema de justia§a criminal, por exemplo, isso significaria uma nova visão fundamental do que precisamos para manter todas as comunidades seguras, evitar danos e defender os valores de justia§a, igualdade de justia§a e responsabilidade. Estamos vendo pistas disso, enquanto cidades como Minneapolis tentam reinventar seus sistemas de segurança pública após o assassinato de George Floyd pela pola­cia e os protestos que se seguiram. Mas a história mostra que a verdadeira reconstrução também exige determinação nacional e liderana§a federal para impor e implementarmudanças substanciais e positivas. Isso parece fora de alcance neste momento atual, mas talvez possamos chegar la¡ juntos.

Linda D. Chavers, Ph.D. '13
Professor do Departamento de Estudos Africanos e Afro-Americanos, Harvard University; Allston Burr decano residente da Winthrop House e decano assistente do Harvard College

Linda Chavers. Foto do arquivo Kris Snibbe / Harvard

Eu adoraria vermudanças de políticas em umnívelamplo. Eu ficaria feliz em ouvir nada além de silaªncio e vermudanças estruturais feitas em tempo real. Uma sociedade justa éaquela que ouve mais os marginalizados do que fala sobre eles - algo que Harvard faz muito bem. Eu gostaria que Harvard adicionasse a palavra "retenção" em seu idioma em torno da diversidade, inclusão e pertencimento. Sem essa palavra muito intencional, o idioma éapenas isso - idioma. Nãohánada aciona¡vel; apenas nos diz que “estamos pensando em vocaª; estamos comprometidos com vocaª. ” Estou empenhado em perder 10 libras, mas mantive essa perda de peso? Retenção significa responsabilidade. Uma sociedade justa se responsabiliza por sua linguagem. Se Harvard inclua­sse essa palavra pola­tica teria que seguir, e estara­amos muito mais pra³ximos de promovermudanças reais. "Diversidade, e pertencer "nos diz" queremos trazaª-lo aqui. " "Retenção" diz ativamente "vamos mantaª-lo aqui". Imagine um mundo onde os negros se sintam tão desejados que Harvard garante que queremos ficar.

Cornell Brooks
Professor Hauser da prática de organizações sem fins lucrativos; Professor da Pra¡tica de Liderana§a Paºblica e Justia§a Social, Harvard Kennedy School


Minha resposta se concentra na especificidade moral da questão, em termos de hashtags, e na humanidade roubada dos negros neste momento. E isso para mim significa três coisas, a primeira das quais éo financiamento do policiamento que não funciona e o investimento na segurança pública e na saúde da comunidade que funciona. E háexemplos de políticas públicas, exemplos morais, em todo opaís em que financiamos respostas carcerais aos desafios da comunidade em favor de soluções comunita¡rias. Por exemplo, no estado de Massachusetts, desembolsamos amplamente as prisaµes infantis em favor de casas de grupo. Naºmero dois: abordando o racismo sistemico, incluindo brutalidade policial, com prazo. O que quero dizer com isso éque, quando se tratava de manifestantes paca­ficos nas ruas, eles recebiam um prazo para protestar que chamamos de toque de recolher. Mas com relação a  injustia§a que os levou a s ruas, ainda não háum prazo. Ha¡ quem esteja falando em abordar a brutalidade policial como uma inevitabilidade, como o clima, quando devera­amos abordar isso com urgência moral - eliminando a brutalidade policial em uma determinada data. a‰ intolera¡vel e inescrupuloso que vocêpossa ter 1.000 pessoas por ano morrendo nas ma£os da pola­cia; um em cada 1.000 homens negros espera ser morto pela pola­cia. A sexta principal causa de morte éa brutalidade policial. E assim, da mesma maneira que impomos um prazo para desenvolvermos uma vacina para a pandemia do COVID-19, devera­amos impor um prazo para tratarmos e resolvermos a pandemia da brutalidade policial. Terceiro, devemos entender que justia§a não émeramente a ausaªncia de injustia§a, mas a presença de uma sede insacia¡vel de justia§a. A menos que tenhamos sede, desejemos, nos comprometamos a buscar justia§a, a injustia§a ésempre uma ameaa§a. Meta¡fora: Os generais militares não assumem que a presença da paz significa a obsolescaªncia dos militares. Frequentemente, assumimos que a ausaªncia de protesto significa a presença de justia§a. Assumimos que a aquiescaªncia nas ruas deve significar mais calma em relação a  nossa consciência. E assim, eu diria simplesmente, quando os toques de recolher estãoterminando, a  medida que a Guarda Nacional e as mulheres são retiradas, a  medida que os protestos estãose tornando mais paca­ficos, este éo momento de intensificar, dobrar, comprometer-nos com mais fervor a  justia§a. estepaís - com um prazo. Os generais militares não assumem que a presença da paz significa a obsolescaªncia dos militares. Frequentemente, assumimos que a ausaªncia de protesto significa a presença de justia§a. Assumimos que a aquiescaªncia nas ruas deve significar mais calma em relação a  nossa consciência. E assim, eu diria simplesmente, quando os toques de recolher estãoterminando, a  medida que a Guarda Nacional e as mulheres são retiradas, a  medida que os protestos estãose tornando mais paca­ficos, este éo momento de intensificar, dobrar, comprometer-nos com mais fervor a  justia§a. estepaís - com um prazo. Os generais militares não assumem que a presença da paz significa a obsolescaªncia dos militares. Frequentemente, assumimos que a ausaªncia de protesto significa a presença de justia§a. Assumimos que a aquiescaªncia nas ruas deve significar mais calma em relação a  nossa consciência. E assim, eu diria simplesmente, quando os toques de recolher estãoterminando, a  medida que a Guarda Nacional e as mulheres são retiradas, a  medida que os protestos estãose tornando mais paca­ficos, este éo momento de intensificar, dobrar, comprometer-nos com mais fervor a  justia§a. estepaís - com um prazo.

Zoe Marks
Professor na Harvard Kennedy School

Siga as mulheres lideres negras. Oua§a sua sabedoria e experiência, nos EUA e no mundo. Credite e recompense seus esforços destemidos para alcana§ar a libertação coletiva. Na luta contra a opressão, bell hooks nos ensina a centralizar aqueles que foram marginalizados na sociedade e a trabalhar contra o que KimberléCrenshaw teoriza como opressão interseccional. Centrar as mulheres negras, na verdade, abre nossa imaginação e concentra nossa atenção nas maneiras pelas quais as mulheres negras foram fundamentais para alcana§ar todos os principais passos em direção a  liberdade na democracia em evolução dos EUA. Eles foram fundamentais na luta pelo sufra¡gio feminino, mas discriminados pelos lideres brancos do movimento. Eles organizaram o Movimento dos Direitos Civis, mas tem poucas esta¡tuas ou avenidas imortalizando seus esforços. Eles  lançaram libertação gay, mas foram marginalizados na busca pela igualdade no casamento. Eles constitua­am a maioria dos Panteras Negras, mas seus jornais, educação comunita¡ria e programas de nutrição foram ofuscados pelas unidades de autodefesa. Ao longo da história americana, outros - mulheres brancas, homens negros e homens e mulheres gays cis brancos - obtiveram grande cranãdito pelos riscos que as mulheres negras e as pessoas que assumiram e pelos direitos ampliados que conquistaram para todos nós. Como suas predecessoras, as lideres negras nas ruas e as que lideram organizações nacionais no Movimento por Vidas Negras estãoarticulando ideias que parecem radicais para as que estãono centro do poder. Mas eles fazem todo o sentido se avana§armos para as margens, os cruzamentos e as comunidades que nosso sistema atual foi projetado para suprimir. Quando eles dizem "abolição", "desligue" e "defesa', oua§a seriamente o  que eles nos dizem que épossí­vel. Se todo mundo em nossa sociedade dedicasse apenas uma semana de nossas vidas a imaginar quais estruturas e servia§os poderiam substituir significativamente as instituições que dependem de violência e coerção, nossa imaginação moral seria infinitamente mais na­tida. Nossa disposição e comprometimento em aprender e celebrar o trabalho das mulheres negras seria mais forte. E, para invocar  Kimberley Latrice Jones , nosso contrato social, por sua vez, pode se tornar justo e justo.

Mary Travis Bassett
Frana§ois-Xavier Bagnoud Professor da Pra¡tica de Saúde e Direitos Humanos; Diretor, Frana§ois-Xavier Bagnoud Centro de Saúde e Direitos Humanos, Harvard TH Chan School of Public Health

Mary Bassett. Foto do arquivo Kris Snibbe / Harvard

Enquanto o conta­nuo desrespeito pela vida e pelos direitos humanos ba¡sicos das pessoas negras estãoincorporado no DNA dos Estados Unidos, éainda mais difa­cil suportar isso durante uma pandemia que matou desproporcionalmente negros e latinos nos EUA. A indignação não éapenas compreensa­vel, mas também écompreensa­vel. apropriado. Agora, mais do que nunca, devemos reconhecer a realidade de ser negro nos Estados Unidos e apoiar a comunidade negra para promovermudanças sistemicas urgentes.

Já passou da hora de nossopaís afirmar os valores da equidade racial, da justia§a e da não-violência. Agora éa hora de dar cranãdito a idanãias que não devem mais parecer exageradas. A ideia radical de desfazer, desmontar e reimaginar o que significa segurança pública merece toda a nossa atenção e apoio. Por que quatro policiais apareceriam por uma nota falsificada de US $ 20? E existem medidas imediatas - proibir os estrangulamentos, permitir o acesso aos registros disciplinares da pola­cia, entre eles. Como sempre, também precisamos de melhores dados sobre a violência policial, que não precisam ser relatados ao paºblico.

Como especialista em saúde pública, eu sei que onde vocêmora determina toda uma sanãrie de resultados de saúde. Devera­amos desativar os departamentos de pola­cia e reinvestir esse financiamento para melhorar comunidades de cor, onde ma¡s políticas levaram gerações de privações.

Tambanãm éimportante olhar para nosmesmos e aceitar que as instituições, incluindo Harvard, ultrapassem a reta³rica da “diversidade e inclusão” e se tornem anti-racistas. Veja como gastamos nosso dinheiro, determinamos nossas prioridades de pesquisa, nossas equipes de liderana§a e nossas prática s de contratação e nos perguntamos se estamos reforçando o racismo estrutural. Então, precisamos fazer o trabalho desafiador - mas possí­vel - de desmantelar essas estruturas em nossas próprias instituições.

As entrevistas foram levemente editadas para maior clareza e duração.

 

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