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Uma visão sobre asmudanças climáticas nas copas das a¡rvores da áfrica Ocidental
Por Jesaºs Aguirre Gutianãrrez , pesquisador do Instituto de Mudanças Ambientais da Escola de Geografia e Meio Ambiente da Universidade de Oxford e do Centro de Biodiversidade Naturalis da Holanda.
Por Ruth Abrahams, - 11/07/2020


Paisagem da floresta tropical no parque nacional de Ankasa, Gana - Crédito: Shutterstock

O dossel da floresta tropical éuma das fronteiras pouco exploradas da Terra. Para entender como esses ambientes aºnicos respondem a smudanças climáticas, uma equipe do Laborata³rio de Ecossistemas da Universidade de Oxford e os institutos parceiros de Gana reuniram evidaªncias das copas das a¡rvores, descobrindo que florestas mais secas correm maiores riscos.

Nosso mundo natural estãoenfrentandomudanças sem precedentes na distribuição da biodiversidade - a variedade de vida na Terra - em escala local e global. Cerca de um milha£o de espanãcies estãoameaa§adas de extinção, representando uma ameaça iminente ao funcionamento dos ecossistemas e ao bem-estar humano.

Um alpinista coletando amostras de folhas a 30 m de uma a¡rvore da floresta tropical
Imagem: Um alpinista coletando amostras de folhas a 30 m de uma a¡rvore da floresta
tropical (Ankasa, Gana). © Yadvinder Malhi.

Em nosso novo estudo , publicado recentemente na Nature Communications , investigamos se e como asmudanças climáticas afetaram a diversidade de ecossistemas tropicais na áfrica Ocidental nas últimas décadas. Em particular, quera­amos entender se as florestas tropicais mais aºmidas e secas respondiam de maneiras diferentes aos mesmos fatores de mudança.

Para este estudo, realizamos um trabalho de campo no Gana durante seis meses. A campanha de campo foi liderada pelas Dr Imma Oliveras e Stephen Adu Bredu e coordenada pelas co-autoras Theresa Peprah e Agne Gvozdevaite. Fazia parte de um esfora§o global. Mais de 25 assistentes de pesquisa da Universidade KNUST e do Instituto Florestal de Gana (FORIG) participaram da campanha de campo e foram treinados nas técnicas de amostragem e protocolos cienta­ficos para a realização da pesquisa.

Albert Aryee rotula sacos pla¡sticos para coletar amostras de folhas
Imagem : Albert Aryee rotula sacos pla¡sticos para coletar amostras de folhas. Todos
os sacos devem ser rotulados com um ca³digo exclusivo, para que cada folha possa
ser rastreada para um galho, a¡rvore e local. © Imma Oliveras

Durante a campanha, visitamos aglomerados de parcelas de amostra em três locais, estendendo-se ao longo de um gradiente clima¡tico, da floresta aºmida antiga atéa floresta seca e savana. Foram amostradas folhas e galhos de 299 a¡rvores. Estes eram dias muito longos, geralmente comea§ando a s 4h30 com um caféda manha£ em grupo e a s 6 horas já esta¡vamos trabalhando no campo. Terminara­amos o trabalho de campo por volta das 15 horas e, depois, trabalhara­amos nos laboratórios de campo atéas 22 horas. Alguns dos assistentes de pesquisa - que eram mestres e estudantes de graduação na anãpoca - realizaram estudos de pós-graduação após a experiência e conseguiram bolsas de estudo no Gana, na Europa e nos EUA.

Grupo de pesquisadores trabalhando no laboratório de campoImagem: Trabalhando
no laboratório de campo. © Imma Oliveras

Ao iniciar esta pesquisa, espera¡vamos que uma tendaªncia de secagem se refletisse na diminuição geral da diversidade para todas as florestas tropicais. No entanto, descobrimos que as comunidades florestais em locais mais secos sofreram, em média, decla­nios mais fortes na diversidade funcional, taxona´mica e filogenanãtica ao longo do tempo do que as comunidades florestais em áreas mais aºmidas.

Isso significa que as florestas mais secas estãomigrando para comunidades florestais cada vez mais homogaªneas, divergindo ainda mais das florestas aºmidas na diversidade funcional, taxona´mica e filogenanãtica. Por outro lado, as florestas mais aºmidas apresentaram aumentos manãdios na diversidade funcional e taxona´mica, o que poderia ser o resultado de sua maior disponibilidade de águana atmosfera e no solo, em comparação com a dispona­vel para florestas mais secas. No geral, as condições climáticas e do solo explicaram parcialmente asmudanças na diversidade e as diferenças nas respostas entre florestas tropicais mais secas e aºmidas na áfrica Ocidental.

Stephen Adu-Bredu e Theresa Peprah, do CSIR-Forestry Research Institute de Gana, descreveram que algumas das coisas mais desafiadoras durante o trabalho de campo eram acordar diariamente a s 3 da manha£ para chegar ao campo por volta das 4 da manha£ para medições de potencial ha­drico antes do amanhecer, bem como subir nas a¡rvores a essa hora do dia. Eles dizem: 'A medição da troca de CO2 na estação seca foi difa­cil e frustrante. Pode-se passar mais de uma hora ou atéum dia em uma única folha, e as medições devem ser realizadas em três folhas por filial, conforme exige o protocolo.

A Dra. Imma Oliveras, autora saªnior do estudo e La­der Adjunta de Ecossistemas do Instituto de Mudanças Ambientais da Universidade de Oxford, reflete sobre a campanha de campo: 'Para mim, essa campanha de campo foi uma experiência enriquecedora incra­vel. Foram dias ocupados de troca de conhecimentos. Eu treinaria estudantes locais em metodologias cienta­ficas, e eles estavam me ensinando sobre a flora local, bem como sobre as florestas locais e sobre a cultura e tradições ganenses.

'Algumas florestas tinham dias tabus em que não poda­amos ir a  floresta e usa¡vamos para recuperar o atraso no trabalho de laboratório. Tambanãm trocara­amos conhecimentos em outros aspectos, como a culina¡ria. Aprendi a fazer fufu e os ensinei a cozinhar omeletes em espanhol. Cientificamente, eu gostei de treinar os assistentes de pesquisa em coleta de dados, cura e análise de dados, e a maioria dos participantes agora écoautora de outras pesquisas relacionadas. '

Equipe de pesquisa no acampamento baseImagem: Parte da equipe no
acampamento base. © Yadvinder Malhi. 

 Em nosso estudo, não avaliamos como asmudanças na diversidade afetam o funcionamento do ecossistema. No entanto, existem amplas evidaªncias que mostram que reduções na diversidade funcional, taxona´mica e filogenanãtica podem causar perda de funções da floresta, como captação de recursos, produção de ciclismo e biomassa e resiliencia a um clima em mudança. Portanto, as funções do ecossistema das comunidades que mostram reduções nas três facetas da diversidade podem ser especialmente vulnera¡veis ​​sob um clima seco.

No geral, nosso estudo constatou que as comunidades florestais mais secas foram submetidas a  homogeneização da biodiversidade devido a um clima quente e seco, que pode ter impactos negativos não apenas no funcionamento dos ecossistemas, mas também em sua contribuição para o bem-estar e os meios de subsistaªncia das pessoas.

O trabalho foi financiado atravanãs do Subsa­dio de Investigador Avana§ado do Conselho Europeu de Pesquisa ao Prof Yadvinder Malhi, juntamente com um Praªmio de Capacitação da Royal Society Africa. As transecções dos locais de campo onde este trabalho foi realizado foram estabelecidas com o apoio de uma concessão padrãodo NERC.

 

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