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'Para onde fugir': relatório da ONU diz que o aquecimento global se aproxima dos limites
Em cada cena¡rio, disse o relatório, o mundo vai ultrapassar a marca de aquecimento de 1,5 graus Celsius na década de 2030, mais cedo do que algumas previsaµes anteriores. O aquecimento aumentou nos últimos anos, mostram os dados.
Por Seth Borenstein - 09/08/2021


Na foto de arquivo desta sexta-feira, 6 de agosto de 2021, a fumaa§a se espalhou sobre a montanha Parnitha durante um incaªndio florestal na vila de Ippokratios Politia, Granãcia, cerca de 35 quila´metros (21 milhas), ao norte de Atenas. Milhares de pessoas fugiram de incaªndios florestais que queimaram fora de controle na Granãcia e na Turquia na sexta-feira, quando uma onda de calor prolongada deixou as florestas secas e as chamas ameaa§aram áreas povoadas e instalações de eletricidade. Crédito: AP Photo / Lefteris Pitarakis

O clima da Terra estãoficando tão quente que as temperaturas em cerca de uma década provavelmente ultrapassara£o umnívelde aquecimento que os lideres mundiais tem procurado evitar, de acordo com um relatório divulgado na segunda-feira que as Nações Unidas chamaram de "ca³digo vermelho para a humanidade".

"a‰ apenas uma garantia de que vai piorar", disse a co-autora do relatório Linda Mearns, cientista climática saªnior do Centro Nacional de Pesquisa Atmosfanãrica dos Estados Unidos. "Nenhum lugar para correr, nenhum lugar para se esconder."

Mas os cientistas também diminua­ram um pouco a probabilidade das piores cata¡strofes climáticas.

O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Clima¡ticas (IPCC) , que considera asmudanças climáticas claramente causadas pelo homem e "inequa­vocas", faz previsaµes mais precisas e mais quentes para o século 21 do que da última vez em que foi publicado em 2013 .

Cada um dos cinco cenários para o futuro, com base em quanto as emissaµes de carbono são cortadas, passa o mais rigoroso dos dois limites definidos no acordo clima¡tico de Paris de 2015 . Os lideres mundiais concordaram então em tentar limitar o aquecimento a 1,5 graus Celsius (2,7 graus Fahrenheit) acima dos na­veis do final do século 19 porque os problemas aumentam rapidamente depois disso. O mundo já aqueceu quase 1,1 grau Celsius (2 graus Fahrenheit) no último século e meio.

Em cada cena¡rio, disse o relatório, o mundo vai ultrapassar a marca de aquecimento de 1,5 graus Celsius na década de 2030, mais cedo do que algumas previsaµes anteriores. O aquecimento aumentou nos últimos anos, mostram os dados.

"Nosso relatório mostra que precisamos estar preparados para entrar nessenívelde aquecimento nas próximas décadas. Mas podemos evitar mais na­veis de aquecimento agindo sobre as emissaµes de gases de efeito estufa", disse Valerie Masson-Delmotte, copresidente do relatório. cientista do Laborata³rio de Ciências do Clima e Meio Ambiente da Frana§a na Universidade de Paris-Saclay.

Em três cenários, o mundo provavelmente também excedera¡ 2 graus Celsius (3,6 graus Fahrenheit) em relação aos tempos pré-industriais - o outro objetivo de Paris menos rigoroso - com ondas de calor muito piores, secas e chuvas que induzem inundações ", a menos que reduções profundas de carbono dia³xido de carbono e outras emissaµes de gases de efeito estufa ocorrera£o nas próximas décadas ", disse o relatório.
 
"Este relatório nos diz que asmudanças recentes no clima são generalizadas, rápidas e intensificadas, sem precedentes em milhares de anos", disse o vice-presidente do IPCC, Ko Barrett, conselheiro saªnior do clima da Administração Nacional Ocea¢nica e Atmosfanãrica dos Estados Unidos.

O relatório de mais de 3.000 pa¡ginas de 234 cientistas disse que o aquecimento já estãoacelerando o aumento doníveldo mar e agravando extremos, como ondas de calor, secas, inundações e tempestades. Os ciclones tropicais estãoficando mais fortes e aºmidos, enquanto o gelo marinho do artico estãodiminuindo no vera£o e o permafrost estãoderretendo. Todas essas tendaªncias va£o piorar, disse o relatório.

Domingo, 27 de agosto de 2017. foto de arquivo, dois canoa­stas tentam vencer a
correnteza empurrando-os por um Brays Bayou transbordando da Tempestade
Tropical Harvey em Houston, Texas. O relatório do Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Clima¡ticas divulgado na segunda-feira, 9 de agosto de 2021, diz que o
aquecimento já estãoatingindo a Terra com força e rapidez com o aumento acelerado do
níveldo mar, redução do gelo e agravamento de extremos, como ondas de calor,
secas, inundações e tempestades. Crédito: Mark Mulligan /
Houston Chronicle via AP, FIle

Por exemplo, o tipo de onda de calor que costumava acontecer apenas uma vez a cada 50 anos agora acontece uma vez a cada década, e se o mundo aquecer outro grau Celsius (1,8 graus Fahrenheit), isso acontecera¡ duas vezes a cada sete anos, disse o relatório.

Amedida que o planeta aquece, os locais sera£o mais atingidos não apenas por condições meteorola³gicas extremas, mas por vários desastres clima¡ticos de uma são vez, disse o relatório. a‰ como o que estãoacontecendo agora no oeste dos Estados Unidos , onde ondas de calor, secas e incaªndios florestais agravam os danos, disse Mearns. O calor extremo também estãocausando incaªndios massivos na Granãcia e na Turquia.

Alguns danos dasmudanças climáticas - redução das camadas de gelo, aumento doníveldo mar emudanças nos oceanos a  medida que perdem oxigaªnio e se tornam mais a¡cidos - são "irreversa­veis por séculos a milaªnios", disse o relatório.

O mundo estão"preso" a 15 a 30 centa­metros (6 a 12 polegadas) de aumento doníveldo mar em meados do século, disse o coautor do relatório Bob Kopp, da Rutgers University.

Cientistas emitiram esta mensagem por mais de três décadas, mas o mundo não ouviu, disse o Diretor Executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Inger Andersen.

Quase todo o aquecimento que aconteceu na Terra pode ser atribua­do a s emissaµes de gases que retem o calor, como dia³xido de carbono e metano. No ma¡ximo, forças naturais ou aleatoriedade simples podem explicar um ou dois danãcimos de um grau de aquecimento, disse o relatório.

O relatório descreveu cinco cenários futuros diferentes com base em quanto o mundo reduz as emissaµes de carbono. Sa£o eles: um futuro com cortes de poluição incrivelmente grandes e rápidos; outro com cortes intensos de poluição, mas não tão massivos; um cena¡rio com cortes moderados de emissaµes; um quarto cena¡rio onde os planos atuais para fazer pequenas reduções de poluição continuam; e um quinto futuro possí­vel envolvendo aumentos conta­nuos na poluição de carbono.

Em cinco relatórios anteriores, o mundo estava no caminho mais quente final, muitas vezes apelidado de "business as usual". Mas, desta vez, o mundo estãoem algum lugar entre o caminho moderado e o cena¡rio de pequenas reduções de poluição por causa do progresso para conter asmudanças climáticas, disse a coautora do relatório Claudia Tebaldi, cientista do Laborata³rio Nacional do Noroeste do Paca­fico dos EUA.

Ao chamar o relatório de "um ca³digo vermelho para a humanidade", o secreta¡rio-geral da ONU, Antonio Guterres, manteve uma esperana§a de que os lideres mundiais ainda pudessem de alguma forma evitar 1,5 grau de aquecimento, que ele disse ser "perigosamente pra³ximo".

Ha¡ também uma maneira de o mundo ficar no limite de 1,5 grau com cortes extremos e rápidos de emissaµes, mas mesmo assim, as temperaturas subiriam 1,5 grau Celsius em uma década e atémais, antes de voltarem a cair, disse a coautora Maisia Rojas Corrada, diretor do Centro de Pesquisas sobre Clima e Resiliaªncia do Chile.

"Qualquer coisa que possamos fazer para limitar, para desacelerar, vai valer a pena", disse Tebaldi. "E se não conseguirmos chegar a 1,5, provavelmente vai ser doloroso, mas émelhor não desistir."

No pior cena¡rio do relatório, o mundo poderia estar em torno de 3,3 graus Celsius (5,9 graus Fahrenheit) mais quente do que agora no final do século. Mas esse cena¡rio parece cada vez mais improva¡vel, disse o co-autor do relatório e cientista clima¡tico Zeke Hausfather, diretor de mudança climática do Breakthrough Institute.

"Temos muito menos probabilidade de ter sorte e acabar com menos aquecimento do que pensa¡vamos", disse Hausfather. "Ao mesmo tempo, as chances de acabar em um lugar muito pior do que espera¡vamos se reduzirmos nossas emissaµes são notavelmente menores."

Um "grande avanço" na compreensão de quanto rápido o mundo aquece com cada tonelada de dia³xido de carbono emitida permitiu aos cientistas serem muito mais precisos nos cenários deste relatório, disse Mason-Delmotte.

O relatório afirma que desastres ultracatastra³ficos - comumente chamados de "pontos de inflexa£o", como o colapso das camadas de gelo e a abrupta desaceleração das correntes oceânicas: - são "de baixa probabilidade", mas não podem ser descartados. O tão falado fechamento das correntes do oceano Atla¢ntico, que desencadeariamudanças climáticas massivas, éalgo que dificilmente acontecera¡ neste século, disse Kopp.

O relatório "fornece um forte senso de urgência para fazer ainda mais", disse Jane Lubchenco, assessora cienta­fica adjunta da Casa Branca.

Na tera§a-feira, 20 de julho de 2021, o arquivo de foto do Staten Island Ferry sai do
terminal de Manhattan em meio a uma nanãvoa de fumaa§a com a Esta¡tua da Liberdade
quase invisível em Nova York. Incaªndios florestais no oeste americano, incluindo um
em Oregon que éatualmente o maior dos Estados Unidos, estãocriando canãus nebulosos
tão distantes quanto Nova York, enquanto os enormes infernos expelem fumaa§a e cinzas
no ar em colunas de atéseis milhas de altura. Crédito: AP Photo / Julie Jacobson

Em uma nova jogada, os cientistas enfatizaram como reduzir os na­veis de metano no ar - um gás poderoso, mas de vida curta, que atingiu na­veis recordes - poderia ajudar a conter o aquecimento de curto prazo. Muito metano na atmosfera vem de vazamentos de gás natural, uma importante fonte de energia. O gado também produz grandes quantidades do gás, uma boa parte dele em arrotos.

Mais de 100países fizeram promessas informais de atingir emissaµes "la­quidas zero" de dia³xido de carbono causadas pelo homem em meados do século, o que seráuma parte importante das negociações climáticas neste outono na Esca³cia. O relatório disse que esses compromissos são essenciais.

"Ainda épossí­vel evitar muitos dos impactos mais terra­veis", disse Barrett.

 

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