O cobalto fica no centro do anel de corrina da vitamina B12 e das importantes cobalaminas que derivamos dele. Talvez surpreendentemente, apenas duas de nossas enzimas se preocupam em usar esses cofatores dolorosamente construados...
Crédito: Wikipanãdia
O cobalto fica no centro do anel de corrina da vitamina B12 e das importantes cobalaminas que derivamos dele. Talvez surpreendentemente, apenas duas de nossas enzimas se preocupam em usar esses cofatores dolorosamente construados e meticulosamente canalizados. Por que nossas células se esforçam tanto para obter um pouco da magia do cobalto, e quais propriedades catalaticas podem torna¡-la tão especial?
Outros metais essenciais incomuns, como molibdaªnio, selaªnio e iodo, são usados ​​de forma semelhante apenas com moderação nas células e, no entanto, mantemos a capacidade de sintetizar completamente todos os derivados aºteis para esses elementos. Para domar o molibdaªnio, construamos um cofator de molibdopterina elaborado, enquanto para aproveitar o iodo, montamos a tiroxina. Para incorporar o selaªnio nas poucas selenoproteanas que o requerem, a elaborada maquinaria SECIS embaralha o ca³digo de mRNA para atrair um tRNA aºnico, sobre o qual sua carga de cisteana étransformada em selenocisteana. Em cada um desses casos, os pesquisadores entendem as propriedades especiais dos metais envolvidos que os tornam indispensa¡veis.
Por exemplo, comparado ao enxofre, o selaªnio éum nuclea³filo melhor que reagira¡ com espanãcies reativas de oxigaªnio mais rapidamente, mas sua falta de cara¡ter de ligação Ï€ significa que ele também pode ser reduzido mais facilmente. Selenoproteanas como GPX4 (glutationa peroxidase) são correspondentemente mais resistentes tanto a superoxidação quanto a inativação irreversavel. Da mesma forma, a exigaªncia ineluta¡vel de molibdaªnio, um composto redox de dois elanãtrons que pode alternar entre os pares redox +4/+5 e +5/+6, reflete várias habilidades não tão comuns. Ele pode realizar reações redox diversas e energeticamente desafiadoras; pode atuar como um sumidouro ou fonte de elanãtrons em baixo potencial redox; e (junto com o tungstaªnio muito mais raro) pode efetivamente transferir a¡tomos de oxigaªnio e enxofre durante reações que ocorrem em baixo potencial.
Uma tentativa nota¡vel de adivinhar o cara¡ter essencial do cobalto foi avana§ada em um comenta¡rio recente na PNAS pelo extraordina¡rio geoquamico Michael Russell. Posicionado entre Fe e Ni na tabela peria³dica, Russell observa que "o elemento éparticularmente 'energicamente denso' com elanãtrons emparelhados na a³rbita externa. Sua ocorraªncia como uma liga meta¡lica em serpentinitos com uma valaªncia varia¡vel que se estende de Co + atéCo 4 + , seus vários estados de spin e suas conformações contrastantes o tornam aºnico, com inconta¡veis ​​contribuições a serem feitas para a eletra´nica, cata¡lise e o surgimento da vida . De fato, a cooperação Co-Fe acaba de ser investigada no extremo oposto do espectro redox — a eletrocata¡lise do O 2reação de evolução. As substituições de Co são invia¡veis, como no metabolismo e em algumas cata¡lises de a¡tomos duplos, ou estãoem um futuro um tanto remoto."
Â
Os comenta¡rios de Russell são em resposta a um artigo anterior de He et. al. que demonstraram que a redução hidrotanãrmica de bicarbonato em hidrocarbonetos de cadeia longa (≤24 carbonos) épossível atravanãs do uso de metais ferro e cobalto. Essas descobertas potencialmente explicam tanto a origem abiogaªnica do petra³leo quanto os principais eventos no surgimento da vida. Uma vez que restos de porfirinas e corrinas que são craticas para a vida podem ser encontrados em meio a depa³sitos de petra³leo, uma questãocratica se torna: a vida inventou essas molanãculas, ou eles primeiro usaram fac-samiles abia³ticos dessas moléculas e são mais tarde desenvolveram a capacidade concomitante de sintetiza¡-las? para eles mesmos?
A resposta a minha pergunta de Russell foi que, em sua opinia£o, a vida provavelmente inventou a coordenação semelhante a corrina por meio de um motivo de quatro aminoa¡cidos-peptadeo glicina-glicina-histidina capaz de aprisionar o a¡tomo de cobalto. Curiosamente, as porfirinas, que abrigam ferro ou cobre em seus centros, e clorinas, que fazem o mesmo com o magnanãsio, devem ser contraadas em corrinas para ligar o cobalto. Essa especificidade aparentemente ocorre apesar dos raios ata´micos quase idaªnticos (por volta de 125 pm) para a formação elementar contagua Fe, Co, Ni, Cu. Na visão de Russell, o cobalto (e outros metais de transição) necessa¡rios no surgimento da vida estavam ativos em depa³sitos do mineral ferrugem verde, também conhecido como fougerita, em fontes hidrotermais alcalinas. O corrinoide de cobalto unido a aglomerados de ferro-enxofre formam o coração das vias primitivas de acetil coenzima-A dos acetogaªnios e dos metana³genos que se encontram na base de nossa a¡rvore evolutiva. Esta proteana Co(FeS) medeia a ligação ou separação de um grupo metil para ou de mona³xido de carbono ou outra entidade envolvida na biossantese de acetil-CoA.
A forma de vitamina B12 usada pela nossa enzima metilmalonil-CoA mutase localizada nas mitoca´ndrias para a quebra de a¡cidos graxos e aminoa¡cidos éconhecida como adenosilcobalamina (AdoCbl). A outra enzima que utiliza cobalamina, a metionina sintase, atua no citosol e usa um cofator de metilcobalamina em que o grupo adenosil ésubstituado por um grupo metil. Plantas terrestres e fungos não sintetizam ou requerem cobalamina, pois não possuem metilmalonil-CoAÂ mutase e possuem diferentes tipos de metionina sintase que não requerem B12. Quando essas enzimas não estãofuncionando corretamente, suas moléculas precursoras podem, presumivelmente, atingir naveis elevados, causando problemas como doenças desmielinizantes e anemia perniciosa.
Embora a estabilidade tanãrmica do cobalto e a alta densidade de energia o tornem um componente ideal para os ca¡todos das baterias de latio, sua utilidade para a vida vem de suas muitas outras propriedades únicas, algumas descobertas e outras ainda a serem encontradas.