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A infecção intestinal pode desencadear a doença de Parkinson?
Os resultados sugerem que algumas formas de DP são uma doença autoimune desencadeada anos antes de sintomas percepta­veis.
Por Geneviève O'Meara - 22/07/2019



Um novo estudo realizado por cientistas de Montreal, publicado hoje na Nature, demonstra que uma infecção intestinal pode levar a uma patologia semelhante a  doença de Parkinson (DP) em um modelo de camundongo sem um gene ligado a  doença humana.

Esta descoberta amplia o trabalho recente do mesmo grupo, sugerindo que a DP tem um importante componente imunológico, fornecendo novos caminhos para estratanãgias terapaªuticas.

O estudo colaborativo foi o trabalho de uma equipe conjunta de cientistas liderados por Michel Desjardins e Louis-Eric Trudeau, da Universidade de Montreal, Heidi McBride, do Instituto Neurola³gico de Montreal, e Samantha Gruenheid, da Universidade McGill.

O número de pacientes com DP no mundo mais que dobrou entre 1990 e 2016, de 2,5 milhões para 6,1 milhões. Uma relativamente projetada duplicação projetada do número de pacientes nos pra³ximos 30 anos produziria mais de 12 milhões de pacientes em todo o mundo por volta de 2050.

Cerca de 10 por cento dos casos de DP são devidos a mutações em genes que codificam para protea­nas como PINK1 e Parkin, que tem sido associadas a s mitoca´ndrias (a organela em células que produzem energia). Os pacientes com essas mutações desenvolvem a DP em uma idade muito mais precoce. No entanto, em modelos de ratos, as mesmas mutações não geram sintomas da doena§a, levando muitos pesquisadores a concluir que os ratos podem não ser adequados para o estudo da DP.

Trudeau e McBride, dois especialistas no campo da pesquisa de PD, argumentam que as descobertas neste novo estudo podem explicar essa disparidade: esses animais são normalmente mantidos em instalações livres de germes, condições não representativas daquelas encontradas por seres humanos que são constantemente expostos microorganismos infecciosos. Gruenheid, um microbiologista, estãoconfiante de que a ligação entre a infecção e a DP estimulara¡ um estudo mais aprofundado da resposta imune ligada ao ini­cio da doena§a, permitindo que os pesquisadores desenvolvam e testem novas abordagens terapaªuticas.

A DP écausada pela morte progressiva de um subconjunto de neura´nios no cérebro, chamados neura´nios dopaminanãrgicos. Essa perda de neura´nios éresponsável pelos sintomas motores ta­picos observados em pacientes com TP, incluindo tremores e rigidez. O que causa a morte dos neura´nios dopaminanãrgicos ainda édesconhecido.

"A maioria dos modelos atuais de DP são baseados na crena§a de que os neura´nios morrem devido a elementos ta³xicos acumulados dentro deles", disse Trudeau, um neurocientista. "Isso não explica, no entanto, o fato de que a patologia da DP éiniciada em pacientes vários anos antes do surgimento do comprometimento motor e de qualquer perda percepta­vel de neura´nios ”.

Acredita-se que a razãopara isso seja explicada pelos resultados do presente estudo. A equipe de Montreal mostrou que em camundongos sem um gene ligado a  doença de Parkinson, a infecção por bactanãrias que causam sintomas intestinais leves em camundongos jovens foi suficiente para desencadear sintomas semelhantes aos da DP nesses animais mais tarde.

Os sintomas do tipo Parkinson podem ser temporariamente revertidos pela administração de L-DOPA, um medicamento usado para tratar pacientes com Parkinson. Desjardins e Diana Matheoud, imunologista, apontam que, em camundongos normais, o sistema imunológico responde adequadamente a  infecção intestinal; no entanto, em camundongos sem o gene PINK1 relacionado ao Parkinson, o sistema imunológico reagiu de forma exagerada e desencadeou a “autoimunidade”, um processo que leva o sistema imunológico a atacar células sauda¡veis ​​no organismo. Os resultados publicados hoje sugerem que, em vez de morrer devido ao acaºmulo de toxinas, a morte de neura´nios dopaminanãrgicos envolve células imunola³gicas.

Nos camundongos mutantes infectados, os linfa³citos T ta³xicos auto-reativos mostraram estar presentes no cérebro e capazes de atacar neura´nios sauda¡veis ​​em placas de cultura. Os co-primeiros autores do artigo publicado, Matheoud e Tyler Cannon, um estudante de pós-graduação em microbiologia, enfatizam o fato de que esses resultados sugerem fortemente que algumas formas de DP são uma doença auto-imune que pode comea§ar no intestino vários anos antes dos pacientes perceberem qualquer sintomas motores, destacando o fato de que existe uma janela de tempo para o tratamento preventivo.

Esta emocionante descoberta colaborativa exigiu a experiência de um microbiologista, imunologista, neurocientista e um bia³logo celular, destacando a complexidade desta doença devastadora. O apoio para o trabalho foi fornecido atravanãs dos Institutos Canadenses de Pesquisa em Saúde, do Brain Canada e das Fundações Krembil e da Fundação Michael J. Fox para Pesquisa de Parkinson.

 

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