Um dos mais importantes intelectuais do Brasil, o sociólogo Florestan Fernandes, dizia que o “brasileiro tem preconceito de ter preconceito”. Se estivesse vivo, ele não repetiria mais a frase. O racismo está desavergonhado, prepotente e violento.
Brasil - Imagem: Shutterstock
O Brasil está a poucas horas das eleições presidenciais saturado por confusões, conflitos, violências múltiplas.
A escravidão de africanos por quase 400 anos explica o racismo instalado em nós, mas as ocorrências dos últimos anos escandalizam. Pretos são violentados em condomínios, supermercados, em estádios de futebol, atletas são chamados de macacos.
Um dos mais importantes intelectuais do Brasil, o sociólogo Florestan Fernandes, dizia que o “brasileiro tem preconceito de ter preconceito”. Se estivesse vivo, ele não repetiria mais a frase. O racismo está desavergonhado, prepotente e violento.
As mulheres sempre foram vítimas da crueldade patriarcal. Milhares já foram queimadas vivas em fogueiras. Na China e na Índia, casais agradeciam aos deuses quando não nascia uma menina. Mas estamos no século 21. O que justifica tanta violência doméstica, tantos feminicídios. Ensandecidos, ex-maridos, ex-namorados, ex-nada, pisam e chutam mulheres no meio da rua, mesmo sob o foco das câmeras de celulares, à luz plena do dia, sem dar qualquer importância. Os dados oficiais revelam 31 mil denúncias de violência doméstica de janeiro a julho de 2022. Nos últimos 2 anos, 2.695 mulheres foram mortas pela condição de serem mulheres, aponta Fórum Nacional de Segurança Pública.
O noticiário, diariamente, registra estupros de crianças cometidos por pais, padrastos, vizinhos, irmãos, pastores de igrejas. Neymar, o reverenciado jogador da seleção brasileira de futebol, teve contrato rompido com a Nike por causa de denúncia de estupro e abusos sexuais. Ele se recusou a colaborar com as investigações. Em diversas ocasiões, o jogador teve problemas ao burlar a Receita. Neymar pediu a intervenção do Presidente, e hoje o malandro jogador, dentro e fora de campo, empresta sua imagem para a campanha de Bolsonaro. Eles se parecem. Conservadores nos costumes, apesar dos bacanais que promovem, trocam de mulheres como quem troca de camisa. Apesar de se dizerem cristãos, não respeitam o dogma do casamento indissolúvel, preconizado pela Bíblia.
Quando eu era criança, minhas leituras mais frequentes eram dos textos bíblicos, e me impressionava em Êxodo, 20:7 a expressão do Terceiro Mandamento: "Não tomarás o Nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar seu nome em vão”. Neymar diz o tempo todo que Deus dirige seu chute para o gol, Bolsonaro tem escrito na testa “Deus no comando” e “se Deus quiser, vou ganhar essas eleições”. Seria tal atitude usar o nome de Deus em vão?
Se bem me lembro, Jesus, chamado o Cristo, oferecia a outra face ao sofrer violências, acolhia prostitutas, leprosos, famintos. Bolsonaro arma a população e manda atirar pra matar, rejeita os gays, as lésbicas, os nordestinos. Sob o manto da impunidade, imbuídos do espírito de violência e autoritarismo, policiais na Operação Penha-RJ mataram 25 “suspeitos”. Só de lembrar que já fui considerado suspeito em diversas ocasiões, meu corpo estremece.
Para ser justo, precisamos reconhecer que Bolsonaro não inventou a violência e a intolerância, mas quando o representante maior do País profere discursos de ódio, faz apologia da morte, quando nega a pandemia, a ciência, as vacinas, quando foi corresponsável pela morte de milhares de brasileiros, quando faz chacota da falta de ar dos pacientes de Covid, quando ao seu redor ocorrem mortes, a de Marielle, a queima de arquivo do sargento Adriano da Nóbrega, tudo isso promove o rebuliço no espírito de rebanho das pessoas que já carregam o ódio, o racismo, a homofobia nas entranhas, esperando o momento para explodir. O chefe da Nação brasileira é o modelo do caos, cópia de Donald Trump, ídolo dele nos EUA, que agora responde pelas mortes no Congresso americano.
As instituições democráticas brasileiras precisam evitar que ocorra aqui, amanhã, nas eleições, a violência e as mortes ocorridas durante a invasão do Congresso dos Estados Unidos, estimuladas por Trump.
Benedito Carlos de Araújo Júnior
Sociólogo e Professor da Universidade do Piauí-UFPI
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