Saúde

Os micróbios na boca e um lembrete para usar fio dental e ir ao dentista
Pesquisadores de microbiomas da Universidade Estadual do Colorado oferecem novas evidaªncias para apoiar essa sabedoria convencional, observando atentamente as comunidades invisa­veis de micróbios que vivem em todas as bocas.
Por Anne Manning - 03/03/2020


Os pesquisadores e voluntários da Genetics of Taste Lab inscrevem participantes no
estudo do microbioma oral. Crédito: Denver Museum of Nature & Science

A maioria das pessoas sabe que uma boa higiene bucal - escovação, uso do fio dental e visitas regulares ao dentista - estãoligada a  boa saúde. Pesquisadores de microbiomas da Universidade Estadual do Colorado oferecem novas evidaªncias para apoiar essa sabedoria convencional, observando atentamente as comunidades invisa­veis de micróbios que vivem em todas as bocas.

O microbioma oral - a soma total de microrganismos, incluindo bactanãrias e fungos, que ocupam a boca humana - foi objeto de um estudo de origem cidada£ , voltado para a ciência do cidada£o , realizado pelo laboratório de pesquisa de Jessica Metcalf na CSU e a equipe de Nicole Garneau no Denver Museu da Natureza e Ciência. Publicado no Scientific Reports , o estudo encontrou, entre outras coisas, uma correlação entre pessoas que não visitavam o dentista regularmente e o aumento da presença de um pata³geno que causa doença periodontal.

Para os experimentos, realizados pela equipe de ciências da comunidade de Garneau no Laborata³rio de Genanãtica do Gosto do museu, uma ampla seção de visitantes do museu se submeteu a um cotonete na bochecha e respondeu a perguntas simples sobre sua demografia, estilo de vida e hábitos de saúde. Os dados de sequenciamento microbiano de DNA analisados ​​pelo grupo Metcalf revelaram, de maneira geral, que os hábitos de saúde bucal afetam as comunidades de bactanãrias na boca. O estudo destacou a necessidade de pensar na saúde bucal como fortemente ligada a  saúde de todo o corpo.

"Nosso estudo também mostrou que o crowdsourcing e o uso de cientistas da comunidade podem ser uma maneira realmente boa de obter esse tipo de dados, sem a necessidade de grandes estudos controlados por casos", disse Zach Burcham, pesquisador de pa³s-doutorado e principal autor do artigo. O autor saªnior Metcalf éprofessor associado do Departamento de Ciências Animais e membro da Microbiome Network da CSU.

Cotonetes de bochecha

Em 2015, a coautora do artigo Garneau e sua equipe treinaram cientistas cidada£os voluntários para usar grandes cotonetes para coletar células da bochecha dos visitantes do museu - uma população naturalmente diversa - que consentiram no estudo. Esses cientistas cidada£os treinados ajudaram a coletar cotonetes de 366 indivíduos - 181 adultos e 185 jovens de 8 a 17 anos.

O a­mpeto original do estudo foi determinar se e em que medida o microbioma oral contribui para a maneira como as pessoas provam coisas doces. Ao coletar esses dados, também relatados no artigo, os pesquisadores observaram pontos de dados mais significativos sobre hábitos de saúde bucal.
 
Para ajudar a traduzir os dados, Garneau procurou a equipe de especialistas da Metcalf na CSU. Burcham e os cientistas do microbioma empregaram sofisticadas ferramentas de sequenciamento e análise para determinar quais micróbios estavam presentes em quais bocas. O sequenciamento dos dados foi realizado em colaboração com cientistas do grupo de Rob Knight na Universidade da Califórnia em San Diego. Uma equipe de nutrição da Michigan State University também trouxe conhecimentos sobre a importa¢ncia do relacionamento infantil e materno para a análise dos dados.

"Juntos, ta­nhamos uma equipe dos sonhos para usar a ciência da comunidade para responder a perguntas complicadas sobre saúde e nutrição humana, usando sequenciamento e análise microbiana de última geração", disse Garneau.

Fio dental e atendimento odontola³gico regular

O estudo agrupou pessoas que usavam fio dental ou que não usavam fio dental (quase todo mundo dizia que escovava, o que não era um ponto de dados útil). Os participantes que usaram fio dental apresentaram menor diversidade microbiana na boca do que os que não usam fio dental. Isso provavelmente ocorre devido a  remoção física de bactanãrias que podem estar causando inflamação ou doena§a.

Os adultos que foram a um dentista nos últimos três meses apresentaram uma diversidade microbiana geral mais baixa na boca do que aqueles que não compareceram há12 meses ou mais e tiveram menos do pata³geno oral causador de doença periodontal, Treponema. Isso, novamente, provavelmente ocorreu devido a  limpeza dental, removendo os ta¡xons bacterianos mais raros da boca. Os jovens tendiam a ter uma consulta odontola³gica mais recentemente do que os adultos.

Os microbiomas juvenis diferiram entre machos e faªmeas e em peso. As criana§as consideradas obesas de acordo com seus a­ndices de massa corporal apresentaram microbiomas distintos em comparação a s criana§as não obesas. As criana§as obesas também tendem a ter na­veis mais altos de Treponema, o mesmo pata³geno encontrado em adultos que não frequentam o dentista hámais de um ano. Em outras palavras, os pesquisadores viram uma possí­vel ligação entre obesidade infantil e doença periodontal . "Isso foi muito interessante para mim, que fomos capazes de detectar esses dados em uma população tão geral, com um grupo de pessoas tão varia¡vel", disse Burcham.

Outros dados descobertos: Os microbiomas dos participantes mais jovens, principalmente na faixa de 8 a 9 anos, tinham mais diversidade do que os dos adultos. No entanto, os microbiomas adultos variaram mais amplamente de pessoa para pessoa. Os pesquisadores pensam que isso se deve ao fato de os ambientes e as dietas de adultos serem mais abrangentes que as criana§as.

Eles também viram que pessoas que moravam na mesma casa compartilhavam microbiomas orais semelhantes.

"Quando vocêolha para as fama­lias que vivem juntas, descobre que elas compartilham mais desses taxa raros, as bactanãrias que não são encontradas com tanta frequência em abunda¢ncia", explicou Burcham. Foi um ponto de dados que destacou a releva¢ncia do ambiente construa­do em relação a s comunidades microbianas em nossos corpos.

Trabalhar no estudo da boca era fascinante, embora fora do escopo normal de Burcham; ele geralmente estãofocado no estudo da ecologia microbiana da decomposição.

"Eu acho que como nossas vidas são essencialmente guiadas por nossos microbiomas e afetadas por nossos microbiomas, éinteressante, independentemente do sistema que estamos vendo", disse Burcham.

 

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