Saúde

Maior estudo sobre dispersão do novo coronava­rus no Brasil épublicado na Science
A pesquisa, focada na dispersão do va­rus no Brasil, sequenciou 427 genomas do novo coronava­rus (SARS-CoV-2) de 21 estados brasileiros e foi realizada em conjunto por 15 instituia§aµes brasileiras, além de instituia§aµes brita¢nicas.
Por Liana Coll - 26/07/2020

O maior estudo de vigila¢ncia gena´mica da Covid-19 na Amanãrica Latina foi publicado nesta quinta-feira (23) na Science, uma das revistas acadaªmicas mais prestigiadas do mundo. A pesquisa, focada na dispersão do va­rus no Brasil, sequenciou 427 genomas do novo coronava­rus (SARS-CoV-2) de 21 estados brasileiros e foi realizada em conjunto por 15 instituições brasileiras, entre elas a Unicamp, além de instituições brita¢nicas. Entre os resultados, os pesquisadores detectaram mais de 100 introduções distintas do va­rus no Brasil.

"Os dados mostram que houve vários eventos de introdução do va­rus no Brasil, mais de 100, principalmente de pessoas que estavam voltando da Europa e dos Estados Unidos. A partir dessa introdução macia§a, antes dos eventos de contenção e de isolamento social, o va­rus se disseminou principalmente em três grandes grupos, que tiveram maior sucesso e que se espalharam no Brasil", explica o professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp JoséLuiz Proena§a Ma³dena, que esteve envolvido no estudo. O pesquisador coordena Laborata³rio de Estudos de Va­rus Emergentes (LEVE) do IB, cuja equipe também participou da pesquisa.

audiodescrição: fotografia colorida da equipe do LEVE, no laboratório, posando para
foto No LEVE, parte da equipe que trabalhou no estudo

Nos três grandes grupos de va­rus preponderantes, que englobaram 76% dos va­rus detectados atéabril, JoséLuiz observa que foram identificadas mutações associadas a formas graves da Covid-19. "Todos eles tem uma mutação pontual na protea­na spike, que éuma protea­na do va­rus associada a  patogenicidade, com a doença mais grave e com aumento da carga viral", diz.

A maior parte das introduções do va­rus no Brasil foi identificada nas capitais com maior incidaªncia de va´os internacionais, como Sa£o Paulo, Minas Gerais, Ceara¡ e Rio de Janeiro. Apenas uma pequena parcela dessas introduções resultou nas linhagens que se dispersaram nopaís por transmissão comunita¡ria, ou seja, por transmissaµes cuja origem da infecção não épossí­vel de rastrear e que circulam entre pessoas que não viajaram.

audiodescrição: figura interna do estudo
Figura do estudo que mostra os mapas com as rotas de disseminação do va­rus na
primeira e segunda ondas de dispersão

Medidas de isolamento insuficientes

Os resultados demonstram que intervenções como o fechamento das escolas e do comanãrcio no final de mara§o, embora insuficientes, ajudaram a reduzir a taxa de transmissão do va­rus. Inicialmente, essa taxa foi superior a  3, o que significa que uma pessoa transmitia para três pessoas o va­rus. Apa³s as medidas, os valores caa­ram para entre 1 e 1,6, tanto em Sa£o Paulo quanto no Rio de Janeiro. 

“A partir das medidas de isolamento social a taxa de disseminação do va­rus cai, mas não ésuficiente para barrar a transmissão do va­rus, que continua se espalhando interessantemente agora a partir de longas distâncias pelo tra¡fego de pessoas incluindo a malha área dentro do Brasil chegando a todos os confins dopaís”, diz JoséLuiz.

audiodescrição: ilustração do estudo com gra¡ficos
Em “A” estãoo número acumulado de casos notificados de SARS-CoV-2 (azul) e os a³bitos
(cinza) no Brasil. Em “B”, os estados são coloridos de acordo com o número de casos
cumulativos confirmados até30 de abril de 2020 (em milhares). Em “C” e “D” o número
de reprodução do va­rus ao longo do tempo para as cidades de Sa£o Paulo (C) e
Rio de Janeiro (D). Foto: reprodução/Science

Cooperação entre instituições

O trabalho teve ini­cio com uma atividade do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Gena´mica e Epidemiologia de Arbova­rus (CADDE), financiada pela Fapesp. As instituições envolvidas na pesquisa são: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Universidade de Sa£o Paulo (USP); Universidade Fderal de Minas Geral (UFMG); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Fundação Getaºlio Vargas (FGV); Universidade Federal de Uberla¢ndia (UFU); Universidade Federal de Roraima (UFRR); Faculdade de Medicina de Sa£o Josédo Rio Preto; Instituto de Pesquisa Econa´mica Aplicada (Ipea) e Laborata³rio Nacional de Computação Cienta­fica (LNCC). Entre as instituições brita¢nicas envolvidas estãoa Universidade de Oxford. 

Em Campinas e regia£o, o professor JoséLuiz Ma³dena destaca que houve um esfora§o grande do LEVE e de profissionais da área de saúde da Unicamp: equipe do Laborata³rio da Patologia Cla­nica e Naºcleo de Vigila¢ncia Epidemiola³gica do Hospital de Cla­nicas, profissionais do Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) e profissionais do Hospital de Sumaranã. 

Da Unicamp, além de JoséLuiz Ma³dena, são autores do estudo: Mariene Amorim; Fabiana Granja; Marcia T. Garcia; Maria Luiza Moretti; Maura­cio Perroud Jr.; Terezinha Castia±eiras; Camila Simeoni; Julia Forato; Andrei Sposito; Anganãlica Schreiber; Magnum Santos e Patricia A F Leme.

"O esfora§o possibilitou com que consegua­ssemos sequenciar, de Campinas, de 66 genomas completos desse va­rus que ajudaram na construção dos dados agora pouco publicados", avalia. Ele também afirma que a pesquisa éum “exemplo de como a abordagem transnacional, multicaªntrica pode contribuir rapidamente para o conhecimento e para a construção de ciência de qualidade que possa ajudar a resolver os problemas da sociedade”.

 

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