Saúde

Instituto de Ciências Biomédicas lana§a testes que ampliam capacidade de diagnóstico de covid-19
Os dois testes desenvolvidos no ICB podera£o ser usados em cidades de pequeno e manãdio portes. Baixo custo, uso de reagentes nacionais, confiabilidade e rapidez nos resultados são algumas das caracterí­sticas
Por USP - 12/08/2020


Um dos testes tem como base o PCR e revela se o paciente estãocom va­rus no corpo. O outro, voltado para o diagnóstico sorola³gico e baseado no manãtodo de Elisa, mostra se o paciente esteve em contato com o novo coronava­rus osImagem: teste rápido Covid osFoto: Bruno Concha/Secom osFotos Paºblicas

Aumento da testagem, rapidez nos resultados, aplicação em todo o Paa­s, alta confiabilidade, utilização de reagentes nacionais e baixo custo. Essas seis conquistas na luta contra o novo coronava­rus estãoreunidas em dois testes para a covid-19 desenvolvidos pelo Instituto de Ciências Biomédicas ICB da USP. Eles já tiveram sua eficácia comprovada e podem ser aplicados imediatamente.

Os testes podera£o ser realizados em cidades de pequeno e manãdio porte, com baixo custo e resultados aténo mesmo dia oso que possibilita que a pessoa infectada receba o tratamento correto e seja isolada o mais rapidamente possí­vel.

Para desenvolver esses testes em um prazo relativamente curto oseles começam a ser estudados em mara§o –, os pesquisadores do ICB concentraram seus esforços em adequar ao diagnóstico da covid-19 equipamentos e metodologias já utilizados anteriormente para o diagnóstico de diversas outras doena§as.

Um dos testes tem como base o PCR (Reação em Cadeia da Polimerase, na sigla em inglês), que revela se o paciente estãocom va­rus no corpo. O outro, voltado para o diagnóstico sorola³gico e baseado no manãtodo de Elisa, indica se o paciente esteve em contato com o novo coronava­rus.

Teste RT-PCR-ICB

Os estudos consistiram na adaptação para a covid-19 do PCR convencional, que serve para o diagnóstico de inaºmeras doenças infecciosas, por exemplo, sarampo, influenza, tuberculose e problemas genanãticos. No caso da covid-19, o teste osbatizado como RT-PCR-ICB osanalisa secreções das vias respirata³rias para detectar a presença do novo coronava­rus no corpo do paciente.

O novo teste tem altos a­ndices de confiabilidade: 98% de sensibilidade (capacidade de detectar casos positivos) e 100% de especificidade (capacidade de excluir casos negativos).

Laborata³rio Central de Saúde Paºblica (Lacen): profissionais técnicos capacitados em
Biologia Molecular com aªnfase em Real Time PCR podem dar suporte a s atividades
de diagnóstico de covid-19 osFoto: JoséGadelha / Fiocruz Ronda´nia

O RT-PCR-ICB seráuma alternativa oscom vantagens osa um dos testes mais utilizados no Brasil para diagnosticar covid-19: o PCR em Tempo Real (Real Time PCR, na sigla em inglês). Os estudos foram conduzidos pelo virologista Edison Luiz Durigon, coordenador do Laborata³rio de Virologia Cla­nica e Molecular do ICB.

Uma das novidades éque o RT-PCR-ICB seráfeito por meio de equipamentos existentes na maioria das universidades, hospitais e laboratórios, paºblicos e privados, localizados em diversas cidades do Paa­s. Esse equipamento, chamado termociclador, custa cerca de R$ 15 mil. No caso do Real Time, o equipamento chega a custar R$ 150 mil.

Outra diferença: o custo dos reagentes. O RT-PCR-ICB utiliza reagentes fabricados no Brasil, mais baratos e com entrega pelo fabricante em poucos dias. O Real Time usa insumos importados que, além de caros, estãodemorando atédois meses para chegar ao Brasil.

Mais um diferencial: disponibilidade de ma£o de obra. Tanãcnicos denívelmanãdio e profissionais graduados em Biologia ou em Ciências Biomédicas possuem os conhecimentos necessa¡rios para a realização do RT-PCR-ICB. Já o Real Time são pode ser realizado por profissionais treinados pelo fabricante do termociclador, o que implica tempo para essa habilitação.

Com essas caracterí­sticas, o Real Time éfeito exclusivamente por grandes laboratórios, concentrados em grandes cidades. Com a alta demanda por testagens em todo o Paa­s, os resultados demoram para chegar aos pacientes oso que pode provocar demora também para a indicação do tratamento correto.

Ha¡, também, a disparidade de custos para a realização de cada teste: cerca de R$ 15,00 para o RT-PCR-ICB, contra aproximadamente R$ 80,00 para o Real Time.

O resultado do RT-PCR-ICB demora o mesmo tempo do Real Time, aproximadamente seis horas. “Ambos tem as mesmas efica¡cia, sensibilidade e especificidade”, informa o professor Edison Luiz Durigon.

Teste Elisa-ICB

Os pesquisadores do ICB desenvolveram também um teste sorola³gico do tipo Elisa (Ensaio de Imunoabsorção Enzima¡tica) especa­fico para a covid-19 a partir de anta­genos produzidos em seus laboratórios. Ana¡lises de amostras de sangue identificam a presença de anticorpos (IgA, IgM e IgG) no paciente para descobrir se ele estãoou já esteve infectado pelo coronava­rus, inclusive em casos assintoma¡ticos. Seus a­ndices de acerto são de 92% na detecção de casos positivos (sensibilidade) e de 98% na exclusão de casos negativos (especificidade).

Para esse teste, foram produzidas em laboratório protea­nas do SARS-CoV-2 que reagem aos anticorpos de pacientes infectados. A equipe da pesquisadora Cristiane Guzzo analisou todos os fragmentos da protea­na S (Spike, localizada nasuperfÍcie do va­rus) e da protea­na N (do nucleocapsa­deo, que envolve o material genanãtico do va­rus). Apa³s uma sanãrie de testes com soros de pacientes positivos, foram identificados os fragmentos que reagem melhor com os anticorpos e garantem maior especificidade ao teste.

A protea­na foi clonada e introduzida em bactanãrias E. coli, que foram usadas para expressa¡-la em grande quantidade. Para isso, as bactanãrias são colocadas em um equipamento que agita as amostras com rotações e temperaturas especa­ficas. “Isso serve para otimizar o crescimento das bactanãrias. Quando elas atingem o ponto ideal, colocamos uma substância para induzir a produção da protea­na”, explica a mestranda Ana Paula Barbosa, que participa do estudo.

Em seguida, as amostras são colocadas em um sonicador, que ajuda a romper as membranas das bactanãrias para liberar as protea­nas. Por fim, énecessa¡rio separa¡-las das outras protea­nas que a bactanãria produziu, utilizando um equipamento de purificação. No caso da protea­na S, que éinsolaºvel, foi necessa¡ria mais uma etapa: deixa¡-la solaºvel sem perder totalmente a sua estrutura ose assim poder ser reconhecida pelos anticorpos. Esse trabalho foi feito no laboratório do professor Lua­s Carlos de Souza Ferreira, diretor do ICB.

“O processo todo exigiu a participação de equipes de três laboratórios do ICB, de diferentes especialidades”, informa o pesquisador. “A metodologia também éfruto de parcerias com empresas que trabalharam em conjunto com o ICB no desenvolvimento de kits de diagnóstico sorola³gico semelhante aos desenvolvidos para pessoas infectadas pelos va­rus zika e da dengue.”

O Elisa-ICB apresenta vantagens em relação a testes similares, principalmente no custo de cada reação (cerca de R$ 20,00 em contrapartida a valores que  podem chegar a R$ 500,00 em laboratórios particulares) e na procedaªncia dos reagentes (nacionais, mais baratos e disponí­veis no mercado, em vez de importados, mais caros e com demora na entrega).

A eficácia do Elisa-ICB foi comprovada em um estudo no qual foram testadas 934 pessoas, entre professores, alunos e funciona¡rios do instituto. Daquele total, 9,3% das pessoas testadas tiveram resultado positivo para IgG, ou seja, foram expostas ao va­rus e desenvolveram imunidade. Por outro lado, 1,5% das pessoas testadas apresentaram resultado positivo para IgA, indicativo de exposição recente ao va­rus. “Aqueles que tiveram resultado confirmado para IgA também se submeteram ao teste molecular (PCR) para a identificação de pessoas que ainda estavam com o va­rus no organismo”, acrescenta Ferreira.

Ampliação da testagem

Ambos os testes desenvolvidos pelo ICB podem contribuir para o manejo da infecção em populações, seja em empresas, organizações públicas ou privadas, e mesmo em munica­pios e cidades de pequeno e manãdio portes.

Um laboratório equipado para o RT-PCR-ICB pode fazer cerca de 100 testes por dia; para o Elisa-ICB, cerca de 500 testes. Esses números refletem a realidade de uma cidade como Araraquara, de 260 mil habitantes. Localizada no interior de Sa£o Paulo, Araraquara se destaca no combate a  covid-19 em razãodo número de testes que realiza, acima da maioria das cidades, e, em consequaªncia, da baixa letalidade da doena§a: 0,99%, contra 3,6% da média nacional. Atualmente, a prefeitura de Araraquara demanda, por dia, cerca de 120 testes Real Time e 300 testes sorola³gicos.

Os testes desenvolvidos pelo ICB-USP resultara£o em benefa­cios não são para o Brasil, mas também para ospaíses que tem caraªncia de grandes laboratórios e dificuldade para obter insumos para o Real Time. “O PCR convencional éuma tecnologia implantada hámais de 20 anos; hospitais e universidades do mundo todo já tem acesso a ela. A produção das protea­nas para o Elisa também não écara e pode ser realizada em qualquerpaís. Os dois manãtodos que desenvolvemos podem ser usados facilmente empaíses da áfrica, da Amanãrica do Sul ou do Caribe”, afirma o diretor do ICB.

 

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