Saúde

Cresce o consumo de alimentos não sauda¡veis entre os menos escolarizados
Estudo realizado com 10 mil pessoas também mostrou aumento do consumo de alimentos sauda¡veis entre a populaa§a£o em geral na pandemia
Por Ivanir Ferreira - 14/08/2020


Alimentos como refrigerantes, sucos de caixinha, embutidos, pa£o de forma, salgadinhos de pacote, biscoitos e sorvete, entre outros ultraprocessados, estãorelacionados ao desenvolvimento de doenças crônicas que impactam a gravidade e a letalidade da covid-19. Já os alimentos sauda¡veis (hortalia§as, frutas e leguminosas) contribuem para aumentar as defesas do organismo osFoto: Pixabay 

Além dasmudanças de comportamento para se proteger contra a covid-19, a população brasileira mudou hábitos alimentares durante a pandemia. Estudo realizado com dez mil participantes da coorte NutriNet Brasil identificou aumento do consumo de frutas, hortalia§as e feija£o entre a população em geral. Mas houve aumento do consumo de ultraprocessados entre os menos escolarizados no Brasil.  Os ultraprocessados estãorelacionados ao desenvolvimento de doenças crônicas que impactam na letalidade da covid-19, enquanto que os alimentos sauda¡veis aumentam os mecanismos de defesa do organismo contra a doena§a.

Os dados sobremudanças de hábitos na pandemia provaªm do estudo de coorte NutriNet Brasil, criado pelo Naºcleo de Pesquisas Epidemiola³gicas em Nutrição e Saúde

(Nupens) da USP. A proposta éinvestigar prospectivamente a relação na população adulta entre os padraµes de alimentação praticados nas várias regiaµes brasileiras e a incidaªncia de doenças crônicas, responsa¡veis por mais de metade das mortes de brasileiros entre 30 e 69 anos de idade, incluindo a diabete, as doenças cardiovasculares e o ca¢ncer.

Para identificarmudanças de hábitos alimentares na pandemia, o estudo delimitou dois períodos de tempo, o primeiro entre 26 de janeiro e 15 de fevereiro de 2020 e o segundo entre 10 e 19 de maio de 2020. Um artigo sobre o tema, Mudanças na alimentação na coorte NutriNet Brasil na vigaªncia da covid-19, serápublicado em agosto na Revista de Saúde Paºblica.

Por meio da plataforma digital da pesquisa, os participantes da coorte NutriNet Brasil responderam questiona¡rios sobre o consumo no dia anterior de alimentos sauda¡veis (hortalia§as, frutas e leguminosas) e não sauda¡veis (ultraprocessados), antes e durante a pandemia.

Na categoria de alimentos sauda¡veis, foram inclua­dos 29 itens, sendo 18 tipos de hortalia§as (alface, raºcula, couve, bra³colis, abobrinha, quiabo, berinjela, tomate, etc.), dez tipos de frutas (banana, laranja, manga, abacaxi, uva, aa§aa­, maçã, etc.), além de feija£o e outras leguminosas (lentilha e gra£o-de-bico). Na categoria de alimentos não sauda¡veis, estavam os refrigerantes, sucos de caixinha, embutidos, pa£o de forma, macarra£o instanta¢neo, pizzas, hambaºrguer, margarina, batata frita congelada, maioneses, molhos prontos para saladas, salgadinhos de pacote, biscoitos doces, sorvete, cereal matinal aa§ucarado, entre outros.

Tabulados os dados da pesquisa, para os todos participantes do estudo, identificou-se aumento modesto, poranãm estatisticamente significante, no consumo dos marcadores de alimentação sauda¡vel e estabilidade no consumo dos marcadores de alimentação não sauda¡vel. Esse padrãofavora¡vel demudanças na alimentação devido a  pandemia se repetiu na maior parte dos estratos sociodemogra¡ficos, exceto nas macrorregiaµes Nordeste e Norte e entre pessoas com menor escolaridade, nas quais o aumento no consumo de frutas, hortalia§as e leguminosas foi acompanhado de aumento no consumo de alimentos ultraprocessados, relata o estudo.

Por que se come mais ultraprocessados?

Segundo o professor Carlos Monteiro, do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Paºblica (FSP) da USP e coordenador da pesquisa NutriNet Brasil, uma das explicações para a aparente desigualdade social observada na resposta a  pandemia poderia ser a maior vulnerabilidade das pessoas mais pobres a  publicidade de alimentos ultraprocessados, que foi bastante intensificada durante a pandemia, incluindo doações para profissionais de saúde.“Independentemente da razãoda desigualdade, ela preocupa, pois são claras as evidaªncias de que o consumo de alimentos ultraprocessados aumenta substancialmente o risco de doenças que tornam a covid-19 mais letal”, diz o pesquisador da USP.

Embora tenha havido aumento no consumo de alimentos ultraprocessados nas regiaµes economicamente menos desenvolvidas do Paa­s e entre pessoas com menor escolaridade, Monteiro se anima com outra vertente do estudo, que mostrou que, em todas as regiaµes e estratos de escolaridade, as pessoas colocaram mais feija£o, hortalia§as e frutas em suas refeições dia¡rias.

Mudanças nos indicadores de alimentação sauda¡vel

Para o conjunto dos participantes, os quatro indicadores de alimentação sauda¡vel evolua­ram favoravelmente. Aumentos estatisticamente significantes, ainda que de pequena magnitude, ocorreram para a frequência de consumo no dia anterior de hortalia§as (de 87,3 para 89,1%), de frutas (de 78,3 para 81,8%), de feija£o ou outras leguminosas (53,5 para 55,3%) e dos três itens anteriores (de 40,2 para 44,6%).

Mudanças estatisticamente significantes em, pelo menos, um indicador de alimentação sauda¡vel foram vistas entre homens e mulheres, em adultos jovens (18-39 anos), de meia-idade (40-59 anos) e idosos (≥ 60 anos), nas macrorregiaµes Sudeste e Nordeste e categorias de escolaridade intermedia¡ria (11 anos) e superior (≥12 anos).

Mudanças em indicadores de alimentação não sauda¡vel

Para o conjunto dos participantes, os indicadores de alimentação não sauda¡vel praticamente não se modificaram com a pandemia. Assim, a proporção de participantes que consumiram no dia anterior pelo menos um grupo ou cinco ou mais grupos de alimentos ultraprocessados oscilou de 80,0% para 80,3% e de 11,0% para 10,4%, respectivamente, enquanto o número manãdio de grupos consumidos (2,1) permaneceu inalterado.

O padrãode estabilidade nos indicadores de alimentação não sauda¡vel se repetiu entre homens e mulheres, em todas as faixas eta¡rias, nas macrorregiaµes Sudeste, Sul e Centro-Oeste e nas categorias intermedia¡ria e superior de escolaridade. Já entre os participantes da macrorregia£o Nordeste, observou-se aumento na frequência de consumo de, pelo menos, um grupo e de cinco ou mais grupos de alimentos ultraprocessados (de 77,9% para 79,6% e de 8,8% para 10,9%, respectivamente) e no número manãdio de grupos consumidos (de 2,0 para 2,2), sendo a variação neste último caso estatisticamente significante, mostra o estudo.

Ainda que sem alcana§ar significa¢ncia estata­stica, a mesma tendaªncia de aumento no consumo de alimentos ultraprocessados foi vista na macrorregia£o Norte e na categoria inferior de escolaridade, estratos nos quais, por exemplo, o número manãdio de grupos de alimentos ultraprocessados consumidos aumenta de 2,2 para 2,4 e de 2,5 para 2,7, respectivamente.

Segundo o professor Carlos Monteiro, a tendaªncia de aumento do consumo de alimentos ultraprocessados nesses estratos sociais épreocupante, pois o consumo desses alimentos aumenta o risco de obesidade, hipertensão e diabete, que são fatores que aumentam a gravidade e a letalidade da covid-19.

 

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