Saúde

Cientistas da USP são pioneiros na edição do DNA de tumor agressivo de tireoide
Procedimento feito em cultura de células em laboratório se mostrou capaz de diminuir consideravelmente a agressividade das células cancera­genas
Por USP - 29/09/2020


Resultados mostram que as células proliferavam e migravam menos, além de ficarem com uma capacidade invasiva menor. A pesquisa utilizou a edição genanãtica para inibir a expressão de um microRNA, o miR-17-92, que tem sua expressão aumentada não são em carcinomas da tireoide, mas em outros ca¢nceres agressivos osFoto: National Human Genome Research Institute (NHGRI) via Wikimedia Commons
 
O câncer de tireoide éum dos tumores mais comuns que afetam a regia£o do pescoa§o e cabea§a. Na maioria dos casos, o tratamento costuma ser simples e ter alta taxa de remissão com a radioiodoterapia. No entanto, as variantes agressivas desse câncer são mais difa­ceis de tratar e nem sempre respondem bem ao tratamento. Isso ocorre, em parte, porque um microRNA, o miR-17-92, tem sua expressão aumentada não são nesse tipo de carcinoma, como em outros ca¢nceres agressivos, a exemplo do pulma£o.

“Essa foi uma descoberta do meu pa³s-doutorado. Agora, avana§amos com o objetivo de inibir a expressão do miR-17-92”, afirma Canãsar Seigi Fuziwara, pesquisador do Laborata³rio de Biologia Molecular da Tiroide do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, coordenado pela professora Edna Kimura. “Conseguimos fazer a edição gaªnica desse microRNA usando o manãtodo CRISPR”, acrescenta. “O manãtodo CRISPR usa uma protea­na chamada Cas9 para ‘cortar’ o DNA. Quando a canãlula tenta reparar o pedaço ‘cortado’, ela muda a sequaªncia de nucleota­deos, o que resulta em um gene alterado e, consequentemente, também um quadro alterado de leitura”, explica Fuziwara. Os cientistas editaram com sucesso células do carcinoma anapla¡sico de tireoide, o tipo mais letal de câncer de tireoide, e as analisaram em experimentos in vitro, isto anã, em cultura de células em laboratório.

A edição do miR-17-92 foi um grande desafio, pois este microRNA éum cluster osconjunto de genes não-codificantes (que não se transformam em protea­na) oscomposto por seis microRNAs diferentes. “Fomos um dos pioneiros em usar o CRISPR para esse tipo de RNA na tiroide”, conta pesquisador.

Os resultados mostram que as células proliferavam e migravam menos, além de ficarem com uma capacidade invasiva menor. “A proliferação diminuiu 50%, assim como a capacidade clonogaªnica, tornando-as menos agressivas”, afirma Fuziwara.

Os pesquisadores acreditam que a edição gaªnica pode ser usada como auxa­lio no
tratamento já utilizado para ca¢nceres agressivos osFoto: Freepik

No estudo, também foi avaliada a diferenciação das células, ou seja, a capacidade de expressar genes relacionados ao metabolismo do iodo. “Isso émuito importante porque o principal tratamento para o câncer de tireoide após a cirurgia éo iodo radioativo”, explica o pesquisador. “Ao observarmos a presença de fatores de transcrição da tiroide, e genes como TPO e em menor grau o gene NIS, principal responsável pela captação do iodo, constatamos que a diferenciação aumentou um pouco, mas não o suficiente para que a capacidade de absorção de iodo fosse regenerada”, acrescenta.

A equipe acredita que a edição gaªnica pode ser usada como neoadjuvante no tratamento já utilizado para ca¢nceres agressivos: a terapia com inibidores farmacola³gicos. Além disso, eles continuam a investigação sobre a mutação no gene BRAF, comum em 40% dos carcinomas de tiroide, e seus efeitos sobre a expressão de miR-17-92, segundo mostrou uma pesquisa anterior da mesma equipe.

De acordo com Fuziwara, o pra³ximo passo éusar esses inibidores para ver se combinados com a edição do microRNA teriam um efeito antitumoral maior. A pesquisa seráfeita inicialmente in vitro, mas os pesquisadores do Laborata³rio de Biologia Molecular da Tiroide planejam aplicar o mesmo procedimento em camundongos. “Queremos ver se quando modularmos o microRNA, o tumor vai crescer menos e quais sera£o suas caracteri­sticas histopatola³gicas”, diz ele, lembrando que, embora haja um longo caminho para um possí­vel uso terapaªutico da descoberta, o procedimento pioneiro e os resultados positivos trazem esperana§a para outros ca¢nceres agressivos com expressão aumentada do miR-17-92.

O estudo foi publicado na revista Thyroid, um importante peria³dico da área.

 

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