Saúde

Por que correr a menos que algo esteja perseguindo vocaª?
O exerca­cio éalgo que os humanos nunca evolua­ram para fazer (mas ésauda¡vel mesmo assim)
Por Juan Siliezar - 06/01/2021


Doma­nio paºblico

Quando não tem vontade de se exercitar, vocêdiz a si mesmo que estãoapenas sendo preguia§oso? Na verdade, o bia³logo evoluciona¡rio de Harvard  Daniel E. Lieberman '86 diz, estamos quase programados para evitar esforços desnecessa¡rios. Em seu novo livro, “Exercitado: por que algo que nunca evolua­mos para fazer ésauda¡vel e recompensador”, Lieberman explora essa ideia ao usar evidaªncias antropola³gicas para destruir outros mitos e mal-entendidos sobre o exerca­cio. Lieberman, o professor de Ciências Biola³gicas Edwin M. Lerner II, falou sobre o livro e dicas para se motivar a fazer algo tão antinatural quanto exerca­cios.

Perguntas & Respostas
Daniel Lieberman


O maior mito que vocêaborda no livro éque énormal fazer exerca­cios. Apresente esta ideia.

LIEBERMAN: Vivemos em um mundo onde todos sabem que os exerca­cios são bons para vocaª, mas a grande maioria das pessoas tem dificuldade em fazaª-los. De acordo com estata­sticas do governo, apenas cerca de um quarto dos americanos realmente se exercita em seu tempo de lazer. Para mim, estãoclaro que estamos pedindo a s pessoas que escolham fazer algo que éinerentemente anormal, no sentido de que evolua­mos para não fazer isso. Os humanos evolua­ram para se mover. Na³s evolua­mos para sermos fisicamente ativos. Mas o exerca­cio éum tipo especial de atividade física. a‰ uma atividade física volunta¡ria em prol da saúde e da boa forma. Atérecentemente, ninguanãm fazia isso. Na verdade, seria uma coisa meio maluca de se fazer, porque se vocêéum caçador-coletor muito ativo, por exemplo, ou um agricultor de subsistaªncia, não faria sentido gastar nenhuma energia extra indo para cinco desnecessa¡rios -mile correr pela manha£. Nãote ajuda. Na verdade, ele realmente tira calorias preciosas de outras prioridades. Em suma, os humanos tem esses instintos arraigados de evitar atividades físicas desnecessa¡rias, porque atérecentemente era benanãfico evita¡-las. Agora, julgamos as pessoas preguia§osas se não se exercitam. Mas eles não são preguia§osos. Eles estãoapenas sendo normais.

“O [Harvard Alumni Study] descobriu que ex-alunos mais velhos de Harvard que faziam exerca­cios tinham taxas de mortalidade cerca de 50% mais baixas do que seus colegas sedenta¡rios, e que os benefa­cios dos exerca­cios eram muito maiores em ex-alunos mais velhos do que mais jovens.”


Como as pessoas podem contornar esses instintos naturais?

LIEBERMAN: Visto que medicalizar e comercializar exerca­cios obviamente não estãofuncionando, acho que podemos fazer melhor se pensarmos como antropa³logos evolucionistas. Aqui estãotrês coisas que as pessoas podem fazer. O primeiro: não fique com raiva de si mesmo. Nãose sinta mal por não querer fazer exerca­cios, mas aprenda a reconhecer esses instintos para supera¡-los. Quando me levanto de manha£ para correr, geralmente sinto frio e sinto muito frio e não tenho vontade de fazer exerca­cios. Meu cérebro sempre me diz todos os tipos de razões pelas quais eu deveria adiar. a€s vezes tenho que me forçar a sair pela porta. Meu objetivo aqui éser compassivo consigo mesmo e entender que aquelas vozinhas em sua cabea§a são normais e que todos nós, mesmo “viciados em exerca­cios”, lutamos com elas. A chave para o exerca­cio ésupera¡-los.

A segunda maneira pela qual podemos ajudar a nosmesmos élembrar que evolua­mos para ser fisicamente ativos por apenas dois motivos (e édisso que trata grande parte do livro). Evolua­mos para ser fisicamente ativos quando era necessa¡rio ou socialmente gratificante. A maioria de nossos ancestrais saa­a para caçar ou colher todos os dias porque, do contra¡rio, morreriam de fome. As outras vezes em que eram fisicamente ativos eram para atividades divertidas, como dançar ou jogar jogos e esportes. Sa£o coisas divertidas de fazer e tem alguns benefa­cios sociais. Se quisermos ajudar a nos exercitar, precisamos ter a mesma mentalidade. Faa§a com que seja divertido, mas também faz com que seja necessa¡rio. Uma das formas mais importantes de torna¡-lo necessa¡rio éfazaª-lo socialmente, como fazer parte de um grupo de corrida. A obrigação o torna divertido, social e necessa¡rio.

A última abordagem antropola³gica que pode ajudar énão se preocupar com o tempo e com a quantidade de exerca­cios que vocêprecisa. Existe um mito de que evolua­mos para ser perpetuamente ativos, correr maratonas e ser tão corpulentos que podemos levantar pedras gigantes com facilidade. A verdade estãolonge disso. Nossos ancestrais eram razoavelmente, mas não excessivamente ativos e fortes. Os caçadores coletores ta­picos realizam apenas cerca de 2 horas e meio por dia de atividade física moderada a vigorosa. Eles não são extremamente musculosos e sentam-se tanto quanto nós, quase 10 horas por dia. Além disso, um pouco de atividade física éextremamente salubre. As curvas de resposta a  dose mostram que apenas 150 minutos de exerca­cio por semana - apenas 21 minutos por dia - reduzem as taxas de mortalidade em cerca de 50 por cento. Saber disso, eu acho, pode ajudar as pessoas a se sentirem melhor fazendo apenas um pouco de exerca­cio em vez de nenhum.

Vocaª explora alguns outros grandes mitos no livro com evidaªncias antropola³gicas de apoio. Vamos falar sobre alguns. A corrida acabara¡ por destruir os seus joelhos?

LIEBERMAN: Esse éum castigo antigo, e étão angustiante ouvi-lo repetidamente. a‰ verdade que as lesões nos joelhos são as lesões mais comuns em corrida. Então, sim, háuma associação entre lesões na corrida e problemas nos joelhos. Masa maioria das lesões nos joelhos que as pessoas tem ao correr podem ser tratadas e, melhor ainda, evitadas aprendendo a correr adequadamente e adaptando o corpo, especialmente fortalecendo os maºsculos do quadril e das pernas. Acho que podera­amos evitar muitas lesões tratando a corrida como uma habilidade. O outro problema com o qual as pessoas se preocupam erroneamente éa osteoartrite. A osteoartrite, infelizmente, éintrata¡vel e um problema sanãrio, mas a noção de que correr causa osteoartrite do joelho não ésustentada por evidaªncias. Existem vários estudos cienta­ficos convincentes que mostram que os corredores não correm maior risco de contrair essa doença e, se houver alguma coisa, a corrida éligeiramente protetora. a‰ claro que, depois de ter artrite, correr pode ser muito doloroso e pode agravar a situação. Mas vamos dissipar o mito assustador de que correr pode causar artrite.

a‰ normal fazer menos exerca­cios com a idade?

LIEBERMAN: Acho que esse éo mito mais importante que descobri no livro. Inventamos o conceito de aposentadoria no mundo ocidental moderno e, junto com ele, a noção de que, quando chegamos aos 65 anos, énormal pegar leve. Mas isso nunca foi verdade para nossos ancestrais. Nãoexistia aposentadoria na Idade da Pedra. Na verdade, atérecentemente, era o oposto, porque os ava³s caçadores-coletores geralmente trabalham mais do que os pais em busca de alimentos excedentes que fornecem a seus filhos e netos. Na³s evolua­mos para sermos fisicamente ativos durante toda a vida. E, por sua vez, a atividade ao longo da vida nos ajuda a viver mais e a permanecer sauda¡veis ​​a  medida que envelhecemos. Isso ocorre porque a atividade física ativa uma ampla gama de mecanismos de reparo e manutenção que se opaµem aos efeitos do envelhecimento. Uma consequaªncia desse legado evolutivo éque, de todas as vezes que somos menos ativos fisicamente, provavelmente o pior éa  medida que envelhecemos, pois o sedentarismo nos priva de todos aqueles mecanismos anti-envelhecimento ativados pelo exerca­cio. Estudo após estudo mostra que os benefa­cios da atividade física para a saúde tornam-se mais importantes, e não menos importantes, a  medida que envelhecemos. Na verdade, o primeiro grande estudo a mostrar isso definitivamente foi o Harvard Alumni Study, liderado por Ralph Paffenbarger. Esse estudo descobriu que ex-alunos mais velhos de Harvard que faziam exerca­cios tinham taxas de mortalidade cerca de 50% mais baixas do que seus colegas sedenta¡rios, e que os benefa­cios dos exerca­cios eram muito maiores nos alunos mais velhos do que nos mais jovens. Estudo após estudo mostra que os benefa­cios da atividade física para a saúde tornam-se mais importantes, e não menos importantes, a  medida que envelhecemos. Na verdade, o primeiro grande estudo a mostrar isso definitivamente foi o Harvard Alumni Study, liderado por Ralph Paffenbarger. Esse estudo descobriu que ex-alunos mais velhos de Harvard que faziam exerca­cios tinham taxas de mortalidade cerca de 50% mais baixas do que seus colegas sedenta¡rios, e que os benefa­cios dos exerca­cios eram muito maiores nos alunos mais velhos do que nos mais jovens. Estudo após estudo mostra que os benefa­cios da atividade física para a saúde tornam-se mais importantes, e não menos importantes, a  medida que envelhecemos. Na verdade, o primeiro grande estudo a mostrar isso definitivamente foi o Harvard Alumni Study, liderado por Ralph Paffenbarger. Esse estudo descobriu que ex-alunos mais velhos de Harvard que faziam exerca­cios tinham taxas de mortalidade cerca de 50% mais baixas do que seus colegas sedenta¡rios, e que os benefa­cios dos exerca­cios eram muito maiores nos alunos mais velhos do que nos mais jovens.

Sentar érealmente tão ruim para nós?

LIEBERMAN: Este éoutro exemplo de como a maneira simplista como pensamos e falamos sobre saúde e atividade física pode criar confusão. Na³s demonizamos tanto ser um viciado em televisão que sentar foi chamado de “o novo fumante” e éamplamente aceito que atérecentemente ninguanãm sentava muito. Mas surpresa, surpresa, quando os pesquisadores estudam os coletores-caçadores modernos, eles ficam sentados cerca de 10 horas por dia, tanto quanto a maioria dos americanos. Demonizar algo tão normal quanto sentar não ajuda muito. Uma abordagem muito melhor, uma abordagem mais sofisticada (que exploro no livro) éperceber que existem maneiras melhores e piores de se sentar. Uma ésentar-se mais ativamente. Embora tenhamos evolua­do para sentar muito, não evolua­mos para ficar sentados ima³veis por horas a fio, e háevidaªncias convincentes de que éútil interromper sua sessão regularmente. Se vocêestãotrabalhando em uma escrivaninha, levante-se de vez em quando, mexa-se, va¡ buscar uma xa­cara de cha¡, o que for. Essas interrupções regulares e frequentes ativam seus maºsculos e outros aspectos de seu metabolismo apenas o suficiente para reduzir os na­veis de açúcar no sangue e gordura e neutralizar outros efeitos negativos de ser sedenta¡rio. a‰ como ligar o motor do carro. No entanto, éverdade que sentar éum problema se isso étudo que vocêfaz. Sentar no lazer estãomuito mais fortemente associado a resultados ruins para a saúde do que sentar no trabalho. Então, se vocêse senta muito durante o trabalho, mas também se senta muito pela manha£, a  noite e nos finais de semana, todo esse sedentismo vai ser um problema. Considerando todas as coisas, éinútil equiparar sentar-se a fumar. Ao contra¡rio de fumar, éperfeitamente normal sentar-se. Nãodeveria ser uma vergonha usar uma cadeira e uma mesa de pénão éum substituto para exerca­cios. Sa³ não passe o dia todo sentado em uma cadeira. Mas quem não sabe disso?

Esta entrevista foi editada e condensada para maior clareza.

 

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