Saúde

A legalização da cannabis pode conter as mortes por opioides?
Uma vez legalizada, a cannabis desloca parcialmente os opioides entre os usuários de drogas?
Por Dylan Walsh - 14/02/2021


Getty Images

Por duas décadas, a crise dos opioides vem se acelerando. Entre 1999 e 2010, as mortes por overdose relacionadas a opioides cresceram 9,1% ao ano e, entre 2010 e 2018, cerca de 12% ao ano. Entre junho de 2019 e maio de 2020, a taxa de mortes por overdose cresceu 18%.

Em números brutos, isso se traduz em cerca de 47.000 mortes por overdose em 2018 - ou cinco pessoas a cada hora.

Com essa epidemia em expansão em segundo plano, Bala¡zs Kova¡cs, professor associado de comportamento organizacional em Yale SOM e Greta Hsu da University of California Davis estavam examinando questões de posicionamento estratanãgico por meio do estudo de dispensa¡rios de cannabis, e se perguntou se os dados que ele coletou poderiam lana§ar luz sobre a forma como a cannabis legalizada e as mortes por opia¡ceos interagem.

“Nãosou especialista em opioides, mas o que parece muito claro éque a ação de escolher um medicamento não éindependente de outros medicamentos”, diz Kova¡cs. “Substitutos como a¡lcool ou cannabis podem afetar a forma como as pessoas usam outras drogas”.

Kova¡cs e Hsu não foram os primeiros a fazer essa conexa£o. Desde 1996, quando a Califórnia se tornou o primeiro estado dopaís a legalizar a maconha medicinal, os pesquisadores se perguntam como essa lei pode afetar o consumo de outras drogas. Hoje, a questãotem uma pertinaªncia particular, visto que quase metade dos 50 estados legalizou a cannabis recreativa ou medicinal. Como, os pesquisadores se perguntam, a legalização da cannabis emnívelestadual influencia o problema de aumento das overdoses de opioides?

Mas, como Kova¡cs aponta, a aprovação das leis estaduais fornece uma lente bastante grosseira: uma vez que a cannabis élegalizada, ainda leva muito tempo para os dispensa¡rios obterem licena§as, abrirem lojas e desenvolverem uma base de clientes. Anos após a legalização, muitas áreas em um determinado estado ainda não tem dispensa¡rios presentes; muitos nunca tera£o um.

Para aprimorar a imagem, Kova¡cs e Hsu usaram dados que descrevem o número de dispensa¡rios que tiveram uma presença comercial sustenta¡vel em um determinado condado. “Ir para onívellocal dessa forma nos permitiu produzir uma análise muito mais detalhada”, diz Kova¡cs.

Um aumento de um dispensa¡rio dispona­vel em um condado para dois estãoassociado a uma redução de 17% nas mortes por overdose relacionadas a opioides; um aumento de dois para três estãoassociado a uma redução adicional de 8,5%.


Examinando dispensa¡rios médicos e recreativos em 812 condados em 23 estados e Washington DC, eles descobriram que um aumento de um dispensa¡rio dispona­vel para dois estãoassociado a uma redução de 17% nas mortes por overdose relacionadas a opioides; um aumento de dois para três estãoassociado a uma redução adicional de 8,5%. Esses números variam ligeiramente, dependendo da disponibilidade de cannabis medicinal ou recreativa e do tipo de morte relacionada aos opioides. (Mortes por fentanil, por exemplo, diminuem mais acentuadamente em condados com um ou mais dispensa¡rios.) Mas o resultado abrangente levanta uma perspectiva intrigante.

Kova¡cs éra¡pido em reconhecer que esses resultados, publicados no British Medical Journal, não fornecem evidaªncias causais: a legalização da cannabis e o estabelecimento de dispensa¡rios não causam necessariamente menos mortes por opia³ides. Mas ele vaª pelo menos três explicações possa­veis para a correlação que valem uma investigação mais aprofundada. Em primeiro lugar, quando a maconha élegal e estãodispona­vel, algumas pessoas podem optar por compra¡-la e usa¡-la em vez de opioides. Em segundo lugar, as pessoas que começam a usar opioides podem se livrar do va­cio com cannabis legal. E em terceiro lugar, a cannabis legal, por meio de regulamentação, émais segura do que o produto ila­cito.

“No Nordeste, pelo menos, vemos muita maconha no mercado negro que émisturada com fentanil”, diz Kova¡cs. “Pode ser que as pessoas morram porque compraram um lote ruim de cannabis e tiveram uma overdose de fentanil. Mesmo que não seja intencional, isso apareceria nos dados. ” A compra por meio de canais legais eliminaria esse risco.

Kova¡cs espera que os legisladores comecem a considerar em conjunto o que pode, a princa­pio, parecer preocupações da­spares: a epidemia de opioides e a cannabis legalizada. “Ha¡ benefa­cios a³bvios em ter o controle do estado sobre certas coisas”, diz ele. “Mesmo quando estamos falando sobre drogas, o estado tem que pensar se vai proibi-las, permiti-las ou controla¡-las, e háefeitos secunda¡rios importantes em todas essas decisaµes.”

 

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