Uma vez legalizada, a cannabis desloca parcialmente os opioides entre os usuários de drogas?
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Por duas décadas, a crise dos opioides vem se acelerando. Entre 1999 e 2010, as mortes por overdose relacionadas a opioides cresceram 9,1% ao ano e, entre 2010 e 2018, cerca de 12% ao ano. Entre junho de 2019 e maio de 2020, a taxa de mortes por overdose cresceu 18%.
Em números brutos, isso se traduz em cerca de 47.000 mortes por overdose em 2018 - ou cinco pessoas a cada hora.
Com essa epidemia em expansão em segundo plano, Bala¡zs Kova¡cs, professor associado de comportamento organizacional em Yale SOM e Greta Hsu da University of California Davis estavam examinando questões de posicionamento estratanãgico por meio do estudo de dispensa¡rios de cannabis, e se perguntou se os dados que ele coletou poderiam lana§ar luz sobre a forma como a cannabis legalizada e as mortes por opia¡ceos interagem.
“Nãosou especialista em opioides, mas o que parece muito claro éque a ação de escolher um medicamento não éindependente de outros medicamentosâ€, diz Kova¡cs. “Substitutos como a¡lcool ou cannabis podem afetar a forma como as pessoas usam outras drogasâ€.
Kova¡cs e Hsu não foram os primeiros a fazer essa conexa£o. Desde 1996, quando a Califórnia se tornou o primeiro estado dopaís a legalizar a maconha medicinal, os pesquisadores se perguntam como essa lei pode afetar o consumo de outras drogas. Hoje, a questãotem uma pertinaªncia particular, visto que quase metade dos 50 estados legalizou a cannabis recreativa ou medicinal. Como, os pesquisadores se perguntam, a legalização da cannabis emnívelestadual influencia o problema de aumento das overdoses de opioides?
Mas, como Kova¡cs aponta, a aprovação das leis estaduais fornece uma lente bastante grosseira: uma vez que a cannabis élegalizada, ainda leva muito tempo para os dispensa¡rios obterem licena§as, abrirem lojas e desenvolverem uma base de clientes. Anos após a legalização, muitas áreas em um determinado estado ainda não tem dispensa¡rios presentes; muitos nunca tera£o um.
Para aprimorar a imagem, Kova¡cs e Hsu usaram dados que descrevem o número de dispensa¡rios que tiveram uma presença comercial sustenta¡vel em um determinado condado. “Ir para onívellocal dessa forma nos permitiu produzir uma análise muito mais detalhadaâ€, diz Kova¡cs.
Um aumento de um dispensa¡rio disponavel em um condado para dois estãoassociado a uma redução de 17% nas mortes por overdose relacionadas a opioides; um aumento de dois para três estãoassociado a uma redução adicional de 8,5%.
Examinando dispensa¡rios médicos e recreativos em 812 condados em 23 estados e Washington DC, eles descobriram que um aumento de um dispensa¡rio disponavel para dois estãoassociado a uma redução de 17% nas mortes por overdose relacionadas a opioides; um aumento de dois para três estãoassociado a uma redução adicional de 8,5%. Esses números variam ligeiramente, dependendo da disponibilidade de cannabis medicinal ou recreativa e do tipo de morte relacionada aos opioides. (Mortes por fentanil, por exemplo, diminuem mais acentuadamente em condados com um ou mais dispensa¡rios.) Mas o resultado abrangente levanta uma perspectiva intrigante.
Kova¡cs éra¡pido em reconhecer que esses resultados, publicados no British Medical Journal, não fornecem evidaªncias causais: a legalização da cannabis e o estabelecimento de dispensa¡rios não causam necessariamente menos mortes por opia³ides. Mas ele vaª pelo menos três explicações possaveis para a correlação que valem uma investigação mais aprofundada. Em primeiro lugar, quando a maconha élegal e estãodisponavel, algumas pessoas podem optar por compra¡-la e usa¡-la em vez de opioides. Em segundo lugar, as pessoas que começam a usar opioides podem se livrar do vacio com cannabis legal. E em terceiro lugar, a cannabis legal, por meio de regulamentação, émais segura do que o produto ilacito.
“No Nordeste, pelo menos, vemos muita maconha no mercado negro que émisturada com fentanilâ€, diz Kova¡cs. “Pode ser que as pessoas morram porque compraram um lote ruim de cannabis e tiveram uma overdose de fentanil. Mesmo que não seja intencional, isso apareceria nos dados. †A compra por meio de canais legais eliminaria esse risco.
Kova¡cs espera que os legisladores comecem a considerar em conjunto o que pode, a princapio, parecer preocupações daspares: a epidemia de opioides e a cannabis legalizada. “Ha¡ benefacios a³bvios em ter o controle do estado sobre certas coisasâ€, diz ele. “Mesmo quando estamos falando sobre drogas, o estado tem que pensar se vai proibi-las, permiti-las ou controla¡-las, e háefeitos secunda¡rios importantes em todas essas decisaµes.â€