Saúde

Primeira dose da CoronaVac éefetiva contra variante P.1 do coronava­rus, mostra estudo em Manaus
Resultados preliminares de pesquisa feita com profissionais de saúde no Amazonas apontam que primeira dose da vacina diminui risco de conta¡gio em 50%
Por Júlio Bernardes e Fabiana Mariz - 08/04/2021


Divulgação/Prefeitura de Manaus

A vacina CoronaVac continua a ser efetiva na prevenção da covid-19 na cidade de Manaus, no Amazonas, onde háo predoma­nio da variante P.1 do va­rus sars cov-2, que causa a doena§a. A conclusão faz parte dos resultados preliminares de um estudo feito com 67 mil profissionais de saúde que receberam a primeira dose da vacina em Manaus, coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e com participação da USP e outras universidades brasileiras, além de órgãos paºblicos do Amazonas e instituições de pesquisa do Brasil e da Espanha. O estudo calculou uma redução de 50% do risco de conta¡gio, são com a primeira dose da vacina, o que os pesquisadores apontam como sinal de que a vacinação precisa continuar, mesmo com o aumento da transmissão da variante P.1.

Os resultados da pesquisa são apresentados em um artigo publicado como preprint (versão prévia de artigo cienta­fico) no site medRxiv em 7 de abril. AndréSiqueira, pesquisador da Fiocruz e um dos autores do artigo, disse ao Jornal da USP que, apesar de ser ainda uma análise inicial, o estudo de efetividade da vacina érobusto, pois foi feito com 67 mil profissionais de saúde da cidade de Manaus, onde a variante P.1 já épredominante. “Consideramos apenas uma dose em um período de segmento não tão longo”, avalia Siqueira. “a‰ necessa¡rio continuar o estudo e fazer a sequaªncia que já estava programada.”

Apa³s a vacinação dos profissionais de saúde, foram selecionados grupos de pessoas que testaram positivo para a covid-19, a partir dos dados da vigila¢ncia epidemiola³gica, e outras que não tiveram a doena§a, no período entre 19 de janeiro e 25 de mara§o, para calcular a efetividade da CoronaVac. “A estimativa de redução de risco éde 50%, ou seja, a capacidade da vacina prevenir o adoecimento pela covid-19, após 14 dias do recebimento da primeira dose, éde 50%”, apontam os pesquisadores Jaºlio Croda, da Fiocruz, e Ota¡vio Ranzani, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e do Instituto de Saúde Global, em Barcelona (Espanha), que também participaram do estudo. Os dados sobre a efetividade da segunda dose ainda estãoem fase de coleta.

Efetividade

De acordo com Croda e Ranzani, a importa¢ncia de estudar a efetividade das vacinas onde a P.1 éprevalente éverificar se a vacina continua funcionando para essa variante. “Existem mutações importantes, algumas mais ligadas a  transmissibilidade, como a 501, mas outras relacionadas a um possí­vel escape imune, como a 484, presente nas variantes brasileira e sul-africana”, relata. “Ha¡ estudos preliminares, inclusive brasileiros, evidenciando queda de anticorpos neutralizantes, poranãm, ainda não háum valor que se possa dizer que, a partir de um certo momento de queda de anticorpos, vocêtem uma perda de efetividade da vacina.”

Siqueira explica, ainda, que o estudo contribuiu para mostrar, em um período curto de tempo, que a CoronaVac tem uma proteção considera¡vel com uma dose em uma circulação elevada da variante P.1. “A pesquisa mostra que essa vacina tem a capacidade de proteção e uma das grandes preocupações em relação a s novas variantes éa possibilidade de escape de resposta a s vacinas”, diz o pesquisador. “Vamos seguir com a avaliação, mas os resultados da£o respaldo para continuar com a vacinação mesmo com a circulação dessa variante.”

Croda e Ranzani reforçam que, como a pesquisa demonstrou que a CoronaVac manteve a efetividade, ela pode continuar a ser usada. “Ao mesmo tempo, estamos fazendo outros estudos, principalmente em colaboração com o governo do Estado de Sa£o Paulo, para avaliar a efetividade da CoronaVac e também da vacina AstraZeneca, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, junto a  população acima de 60 anos de idade, o que não foi possí­vel em Manaus”, relatam. “Além disso, também serápossí­vel entender qual éa efetividade das vacinas na prevenção de casos severos, que necessitem hospitalização, e de mortes.”

As conclusaµes do trabalho são apresentadas no artigo Effectiveness of CoronaVac in the setting of high SARS-CoV-2 P.1 variant transmission in Brazil: A test-negative case-control study, publicado como preprint no site medRxiv em 7 de abril. A pesquisa teve a participação de pesquisadores da Universidade de Brasa­lia (UnB), da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), da Universidades da Fla³rida, de Stanford e de Yale (Estados Unidos), da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus e da Fundação de Vigila¢ncia em Saúde do Estado do Amazonas.

Em Sa£o Paulo 

Uma outra pesquisa sobre a CoronaVac, realizada com profissionais do Hospital das Cla­nicas da FMUSP, traz resultados que corroboram a efetividade da vacina mesmo com o predoma­nio da variante P.1. 

Antes da vacinação dos funciona¡rios do hospital, a incidaªncia de casos de covid-19 no HC era semelhante a  incidaªncia geral da doença na população de Sa£o Paulo capital.

Duas semanas após a aplicação da segunda dose da vacina nos funciona¡rios do hospital, houve 50,7% menos casos confirmados entre eles do que a taxa média de novos casos verificada na cidade.

E cinco semanas após a vacinação, o número de novos casos de covid-19 no HC foi 73,8% menor do que o registrado na população da capital.

O estudo feito entre os profissionais avaliou também a ocorraªncia de variantes do coronava­rus. Dentre 142 amostras analisadas aleatoriamente, 67 foram identificadas como variantes, das quais 57 correspondiam a  P.1 (do Amazonas), cinco B.1.1.7 (do Reino Unido) e outras cinco que não puderam ser identificadas pelos manãtodos utilizados no estudo. Essa análise sugere que a P.1 já era a variante de maior circulação em Sa£o Paulo quando os profissionais foram vacinados.

 

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