Saúde

Emagrecer não envolve apenas ingestãoalimentar, mas fatores socioculturais e ambientais
Segundo Taisa Alves Silva, o emagrecimento não acontece de uma hora para outra, mas trata-se de um processo que abrange vários fatores e o acompanhamento de profissionais de saúde
Por Diogo Paiva - 28/01/2022


a‰ importante a busca por profissionais de saúde capacitados, que garantam que o emagrecimento acontea§a da forma correta osFoto: Doma­nio paºblico

A virada do ano e o vera£o costumam aquecer as discussaµes sobre a busca por emagrecimento. No entanto, se feita da maneira incorreta, essa busca pode causar danos a  saúde e não atingir os resultados esperados.

Taisa Alves Silva, mestranda em Nutrição e Metabolismo pela Faculdade de Medicina de Ribeira£o Preto (FMRP) da USP e membro do Nepoca osNaºcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Obesidade e Comportamento Alimentar, explica as principais motivações por trás da vontade de emagrecer: “Esta anãpoca do ano traz uma ideia de fim e ini­cio de um ciclo e émarcada por muitas reflexões sobre diversas áreas de nossas vidas, como profissional, financeira, pessoal e surge o desejo de definir metas, renovar promessas. A esperana§a pormudanças e a renovação de metas também acontecem em relação a  imagem corporal”.

Mas não ésão o desejo pessoal por mudança que estãopor trás dessa vontade. “Um dos fatores que intensificam essa busca éa insatisfação com o pra³prio corpo gerada pela propagação de padraµes estanãticos, principalmente pelas redes sociais, onde háimposição do ideal de um corpo magro a ser seguido, associando a magreza a valores como sucesso e felicidade.”

Taisa comenta, ainda, que as pessoas costumam expor mais seus corpos nesta anãpoca do ano, o que pode constranger quem não se encaixa no que éconsiderado o “padrãocorporal”.

Emagrecer por saúde

Algumas pessoas buscam emagrecer por questões de saúde. Sobre isso, a especialista adverte: “a‰ preciso reforçar que a perda de peso não éa solução para todos os problemas e que saúde não estãodiretamente relacionada a  magreza, mas se trata de um conceito mais amplo, que envolve o bem-estar fa­sico, mental e social”.

“Algumas pessoas com excesso de peso não apresentam outras condições de saúde associadas, como alterações dos na­veis de colesterol, triglicera­deos, glicose ou insulina, sendo consideradas metabolicamente sauda¡veis. Por outro lado, hápessoas com corpos magros que apresentam essas alterações. Nesse sentido, éimportante investigar o motivo da busca pela perda de peso. E, caso haja outras condições cla­nicas oficiadas, que elas possam ser olhadas e tratadas para além do peso.” A nutricionista destaca que uma redução de 5% no peso já pode ter efeito positivo sobre a pressão arterial e sobre os na­veis de glicemia.

O processo de emagrecer

Taisa explica como deve ser realizada a busca por emagrecimento com segurança. “O emagrecimento não acontece de uma hora para outra e não envolve apenas a ingestãoalimentar e o gasto energanãtico, mas trata-se de um processo que abrange vários fatores, como biola³gicos, genanãticos, socioculturais e ambientais.”

A nutricionista destaca a importa¢ncia de buscar profissionais de saúde capacitados, que garantam que o emagrecimento acontea§a da forma correta. “A mudança de comportamento envolve um conjunto de atitudes, como, por exemplo, compreender as consequaªncias das restrições alimentares e pressaµes estanãticas na saúde, entender os motivos que levam a pessoa a comer — inclusive as razões emocionais, como ansiedade, tristeza, estresse — e procurar se engajar em atividades físicas que são prazerosas, não somente pela queima de calorias. Além disso, resgatar as percepções de fome, de saciedade, dormir bem e respeitar que o corpo tem uma estrutura genanãtica própria e que todo tipo de corpo, independentemente da forma, merece respeito.”

Os principais equa­vocos
 
Taisa chama atenção para os principais erros cometidos durante a busca por emagrecimento. Entre eles, estãoum amplamente divulgado: as dietas.

“A longo prazo, a maioria das pessoas que fazem dietas recupera todo o peso perdido ou atémais”, conta. “As restrições podem alterar o metabolismo e os horma´nios envolvidos na regulação do apetite, diminuindo o gasto de energia, aumentando a fome e diminuindo a saciedade, o que acaba gerando um ciclo de restrição e comer em excesso. Além disso, éprova¡vel que a perda rápida de peso seja consequaªncia da perda de massa muscular e la­quidos, e não necessariamente perda de gordura corporal.”

A nutricionista adverte sobre o perigo de buscar informações sobre emagrecimento com pessoas que não são capacitadas para falar disso. “Geralmente, pessoas que não são especializadas e divulgam formas de emagrecimento rápido, como shakes, alimentos milagrosos, exerca­cios extenuantes, assim como a mentalidade de dieta, responsabilizam unicamente o indiva­duo pelo emagrecimento, atribuindo como falta de força de vontade quando o indiva­duo não consegue seguir determinado comportamento, e desconsidera fatores fisiola³gicos, ambientais e psicossociais — além de contribua­rem para a idealização e valorização da magreza, a insatisfação corporal e serem considerados fatores de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares.”

A fonte confia¡vel

Taisa cita como norte de alimentação sauda¡vel o Guia Alimentar para a População Brasileira, que traz sugestaµes como priorizar alimentos in natura ou pouco processados, valorizar pequenos agricultores e compartilhar o planejamento das compras, do preparo dos alimentos e das refeições com as pessoas de casa.

 

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