Saúde

Novo estudo mostra diferenças entre os cérebros de meninas e meninos com autismo
A pesquisa ajuda a explicar por que os sintomas do autismo diferem entre os sexos e pode abrir caminho para melhores diagnósticos para as meninas, de acordo com os cientistas.
Por Centro Médico da Universidade de Stanford - 17/02/2022


Pixabay

A organização do cérebro difere entre meninos e meninas com autismo, de acordo com um novo estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford.

As diferenças, identificadas pela análise de centenas de exames cerebrais com técnicas de inteligaªncia artificial, eram exclusivas do autismo e não encontradas em meninos e meninas com desenvolvimento ta­pico. A pesquisa ajuda a explicar por que os sintomas do autismo diferem entre os sexos e pode abrir caminho para melhores diagnósticos para as meninas, de acordo com os cientistas.

O autismo éum transtorno do desenvolvimento com um espectro de gravidade. As criana§as afetadas apresentam danãficits sociais e de comunicação, mostram interesses restritos e exibem comportamentos repetitivos. A descrição original do autismo, publicada em 1943 por Leo Kanner, MD, foi tendenciosa para pacientes do sexo masculino. O distaºrbio édiagnosticado em quatro vezes mais meninos do que meninas, e a maioria das pesquisas sobre autismo se concentrou em homens.

"Quando uma condição édescrita de forma tendenciosa, os manãtodos de diagnóstico são tendenciosos", disse o principal autor do estudo, Kaustubh Supekar, Ph.D., professor assistente cla­nico de psiquiatria e ciências comportamentais. "Este estudo sugere que precisamos pensar de forma diferente."

O estudo foi publicado online em 15 de fevereiro no The British Journal of Psychiatry .

"Na³s detectamos diferenças significativas entre os cérebros de meninos e meninas com autismo e obtivemos previsaµes individualizadas de sintomas clínicos em meninas", disse o autor saªnior do estudo, Vinod Menon, Ph.D., professor de psiquiatria e ciências comportamentais e Rachael. L. e Walter F. Nichols, MD, Professor. “Sabemos que a camuflagem dos sintomas éum grande desafio no diagnóstico do autismo em meninas, resultando em atrasos no diagnóstico e no tratamento”.

As meninas com autismo geralmente tem menos comportamentos repetitivos do que os meninos, o que pode contribuir para atrasos no diagnóstico, disseram os pesquisadores.

"Saber que homens e mulheres não se apresentam da mesma maneira, tanto comportamental quanto neurologicamente, émuito convincente", disse Lawrence Fung, MD, Ph.D., professor assistente de psiquiatria e ciências comportamentais, que não foi autor do livro estudar.

Fung trata pessoas com autismo na Stanford Children's Health, incluindo meninas e mulheres com diagnósticos tardios. Muitos tratamentos de autismo funcionam melhor durante os anos pré-escolares, quando os centros motores e de linguagem do cérebro estãose desenvolvendo, observou ele.
 
“Se os tratamentos puderem ser feitos no momento certo, isso faz uma grande, grande diferença: por exemplo, criana§as no espectro do autismo que recebem intervenção precoce de linguagem tera£o uma chance maior de desenvolver a linguagem como todo mundo e não precisara£o continuar brincando. recuperar o atraso a  medida que crescem", disse Fung. "Se uma criana§a não consegue se articular bem, ela fica para trás em muitas áreas diferentes. As consequaªncias são realmente sanãrias se ela não for diagnosticada cedo."

Novos manãtodos estata­sticos desbloqueiam diferenças

O estudo analisou imagens cerebrais de ressonância magnanãtica funcional de 773 criana§as com autismo os637 meninos e 136 meninas. Reunir dados suficientes para incluir um número considera¡vel de meninas no estudo foi um desafio, disse Supekar, observando que o pequeno número de meninas historicamente inclua­das na pesquisa do autismo tem sido uma barreira para aprender mais sobre elas. A equipe de pesquisa se baseou em dados coletados em Stanford e em bancos de dados paºblicos contendo exames cerebrais de sites de pesquisa em todo o mundo.

A prepondera¢ncia de meninos nos bancos de dados de varredura cerebral também criou um desafio matema¡tico: os manãtodos estata­sticos padrãousados ​​para encontrar diferenças entre os grupos exigem que os grupos sejam aproximadamente iguais em tamanho. Esses manãtodos, que fundamentam as técnicas de aprendizado de ma¡quina nas quais os algoritmos podem ser treinados para encontrar padraµes em conjuntos de dados muito grandes e complexos, não podem acomodar uma situação do mundo real em que um grupo équatro vezes maior que o outro.

“Quando tentei identificar diferenças [com manãtodos tradicionais], o algoritmo me dizia que todo cérebro éum homem com autismo”, disse Supekar. “Era um aprendizado excessivo e não distinguia entre homens e mulheres com autismo”.

Supekar discutiu o problema com Tengyu Ma, Ph.D., professor assistente de ciência da computação e estata­stica em Stanford e coautor do estudo. Ma havia desenvolvido recentemente um manãtodo que poderia comparar de forma confia¡vel conjuntos de dados complexos, como exames cerebrais, de grupos de tamanhos diferentes. A nova técnica forneceu o avanço que os cientistas precisavam.

"Tivemos sorte que esta nova abordagem estata­stica foi desenvolvida em Stanford", disse Supekar.

O que diferia?

Usando 678 exames cerebrais de criana§as com autismo, os pesquisadores desenvolveram um algoritmo que pode distinguir entre meninos e meninas com 86% de precisão. Quando eles verificaram o algoritmo nas 95 varreduras cerebrais restantes de criana§as com autismo, ele manteve a mesma precisão em distinguir meninos de meninas.

Os cientistas também testaram o algoritmo em 976 exames cerebrais de meninos e meninas com desenvolvimento ta­pico. O algoritmo não conseguiu distinguir entre eles, confirmando que as diferenças sexuais encontradas pelos cientistas eram exclusivas do autismo.

Entre as criana§as com autismo, as meninas tinham padraµes de conectividade diferentes dos meninos em vários centros cerebrais, incluindo sistemas de atenção motora, lingua­stica e visuoespacial. As diferenças em um grupo de áreas motoras osincluindo o cortex motor prima¡rio, área motora suplementar, cortex occipital parietal e lateral e giros temporais manãdio e superior osforam as maiores entre os sexos. Entre as meninas com autismo, as diferenças nos centros motores estavam ligadas a  gravidade de seus sintomas motores, o que significa que meninas cujos padraµes cerebrais eram mais semelhantes aos meninos com autismo tendiam a ter os sintomas motores mais pronunciados.

Os pesquisadores também identificaram áreas de linguagem que diferem entre meninos e meninas com autismo e observaram que estudos anteriores identificaram maiores deficiências de linguagem em meninos .

"Quando vocêvaª que existem diferenças nas regiaµes do cérebro relacionadas aos sintomas clínicos do autismo, isso parece mais real", disse Supekar.

Em conjunto, os resultados devem ser usados ​​para orientar esforços futuros para melhorar o diagnóstico e o tratamento para as meninas, disseram os pesquisadores.

"Nossa pesquisa avana§a no uso de técnicas baseadas em inteligaªncia artificial para psiquiatria de precisão no autismo", disse Menon.

"Podemos precisar de testes diferentes para mulheres em comparação com homens. Os algoritmos de inteligaªncia artificial que desenvolvemos podem ajudar a melhorar o diagnóstico de autismo em meninas", disse Supekar. Nonívelde tratamento, as intervenções para as meninas podem ser iniciadas mais cedo, acrescentou.

Os outros coautores do estudo da Stanford Medicine são o analista de dados cienta­ficos Carlo de los Angeles; pesquisador saªnior Srikanth Ryali, Ph.D.; e estudante de pós-graduação Kaidi Cao. Os coautores incluem membros do Instituto de Pesquisa em Saúde Materna e Infantil de Stanford, Stanford Bio-X, Instituto de Neurociências Stanford Wu Tsai e Aliana§a de Desempenho Humano Stanford Wu Tsai e o Instituto Stanford de Inteligaªncia Artificial Centrada no Homem.

 

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