Talento

Alavancando escolas para influaªncia pola­tica
A estudante de doutorado Blair Read vincula a ascensão da educação privada na andia a  competia§a£o pola­tica local, sinalizando uma potencial erosão dos servia§os paºblicos.
Por Leda Zimmerman - 05/03/2022


Escola prima¡ria no estado de Haryana, andia - Foto: Blair Read

“Quando comecei a pós-graduação, a questãodos estados perderem o controle sobre suas funções centrais despertou meu interesse”, diz Blair Read, doutoranda do sexto ano em ciência pola­tica. Para enfrentar uma agenda tão ampla, ela se concentrou no caso do ensino privado. “Ele explodiu em todo o mundo, especialmente empaíses de baixa e média renda, e estou tentando explicar o fena´meno osa pola­tica por trás do que estãoacontecendo e como isso pode mudar o cena¡rio pola­tico”, diz ela.

Com habilidades de pesquisa e trabalho de campo aprimoradas pela pesquisa de campo na áfrica Oriental, Read elaborou um ambicioso projeto de dissertação investigando a expansão de escolas particulares na andia, uma tendaªncia estimulada pela disputa de pola­ticos. Uma descoberta intrigante: lugares com eleições mais competitivas tem mais provedores privados.

A mudança do ensino paºblico para o privado “segue uma lógica pola­tica consistente e nos ajuda a entender a pola­tica da educação em um contexto em que a desigualdade, a intolera¢ncia e a incoesão aumentaram em conjunto com a explosão de provedores privados”, observa Read.
 
Com a ajuda de conjuntos de dados paºblicos e entrevistas com funciona¡rios do governo e lideres escolares em toda a andia, a pesquisa de Read estãorevelando como na andia e, por extensão, em outras nações do Sul Global, “a educação éum projeto pola­tico tanto quanto um capital humano projeto."

Novas escolas como projetos pola­ticos

O sistema educacional indiano “varia muito com base em onde vocêesta¡â€, diz Read. Tanto o governo central quanto o estadual estãoenvolvidos na construção e no apoio a s escolas governamentais. Ha¡ também muitas escolas particulares, algumas arrecadando mensalidades e outras financiadas por benfeitores. Em estados como Kerala, no sul, 50% dos alunos frequentam escolas particulares. Em regiaµes onde as escolas governamentais não tem ora§amento para manutenção, ou mesmo programas educacionais ba¡sicos, as escolas particulares estãoproliferando osmuitas vezes com o apoio de pola­ticos em busca de influaªncia.

“A andia éumpaís com muita burocracia e burocracia, e vocêprecisa da ajuda de alguém de dentro para abrir uma escola ou ajudar os pais a pagar as taxas”, diz Read. “Sa£o pola­ticos que querem mostrar que são o cara grande para ajuda¡-lo a fazer as coisas, que podem trabalhar com o setor privado no financiamento e expandir a educação sem necessariamente ter que envolver a burocracia.”

Ao vasculhar um censo de 1,2 milha£o de escolas prima¡rias e ao examinar os dados eleitorais dos últimos 50 anos de eleições estaduais, Read descobriu que “quando a competição eleitoral aumenta e as eleições são vencidas por margens menores, háuma expansão maior das escolas particulares”, diz. Read levanta a hipa³tese de que “o aumento da concorraªncia significa que os pola­ticos enfrentam muito mais pressão para fornecer servia§os”.

Buscando alavancagem entre os eleitores, os pola­ticos podem subsidiar ou encontrar capital com relativa rapidez para construir infraestrutura, adicionar professores ou reduzir os encargos das mensalidades familiares ostodas atividades altamente visa­veis com grande apelo aos pais e outros cidada£os.

Comportamento pola­tico r

Por meio de entrevistas realizadas no campo pré-Covid e mais recentemente via WhatsApp, Read tenta entender como esses pola­ticos operam. “Um gerente de escola particular descreveu um pola­tico se aproximando dele com chavaµes sobre o apoio a  educação”, conta Read. “Ficou claro para esse gerente que o pola­tico estava procurando usar as contribuições da escola para se estabelecer na comunidade e obter reconhecimento.”

A tese de Read documentara¡ essas interações em detalhes minuciosos: “Quero saber como (e quando) esses pola­ticos usam sua influaªncia para expandir os servia§os e como lidam com a pressão das eleições”, diz ela. “Quero ter uma visão geral de suas variadas motivações e incentivos.”

A rápida expansão das escolas particulares na andia e em outrospaíses em desenvolvimento éimportante por várias razaµes, diz Read. Uma delas éa questãoda equidade. “As pessoas que frequentam escolas particulares são geralmente mais ricas, menos propensas a serem de castas inferiores e mais propensas a serem filhos do que filhas”, diz ela.

Outra raza£o: “A escola écomo os estados distribuem a ideologia, e éfundamental para como os estados operam”.
Read observa que “ha¡ evidaªncias sistema¡ticas e aneda³ticas de que muitas escolas particulares são administradas por ativistas nacionalistas hindus, como uma maneira eficaz de trazer as pessoas para o rebanho hindu”, diz ela.

Read estãopreocupado que essa cessão de educação e outros servia§os das ma£os do paºblico para o privado possa, com o tempo, resultar em uma perda de féno governo. “Ha¡ pesquisas sugerindo que as pessoas desenvolveram um preconceito perpanãtuo contra os servia§os paºblicos, assumindo que eles são de qualidade inferior aos privados osmesmo quando não são”, diz ela. “Os estados não podem fazer muito sem a adesão dos cidada£os e, se os servia§os governamentais não parecerem valiosos, isso pode afetar a capacidade de funcionamento do estado.”

De cidada£o a pola­tico

Read confessa que estãosurpresa por ter desembarcado em uma área de pesquisa que investiga “por que os pola­ticos fazem as coisas de certas maneiras”, diz ela. Ela foi para a Tufts University com a ideia de se especializar em relações internacionais, mas depois de um curso de pola­tica comparada imediatamente decidiu por um curso de ciência pola­tica, com foco particular em problemas de trabalho e gaªnero. Sua primeira incursão no trabalho de campo foi na Indonanãsia, onde realizou entrevistas de campo que levaram a uma tese saªnior sobre poder de barganha familiar e preferaªncias políticas.

Depois de Tufts, ela trabalhou no departamento de ciência pola­tica do MIT como associada de apoio a  pesquisa e começou as aulas quantitativas necessa¡rias para a pós-graduação. “Eu estava colocando um dedo do péna águae percebendo que eu poderia me ver na academia.” Depois que ela foi aceita no programa de doutorado em ciência pola­tica, ela adiou um ano, trabalhando para o MIT GOV/LAB . Read passou 10 meses na Tanza¢nia e Uganda projetando pesquisas sobre participação eleitoral durante as eleições gerais dessespaíses.

“Quando comecei meu curso, estava focada nos cidada£os e na responsabilização dos governos”, diz ela. “Agora estou focado no lado dos pola­ticos e suas estratanãgias.”

Read espera que seu exame da construção de influaªncia pola­tica e o surgimento de escolas particulares na andia estimulem a discussão sobre a potencial erosão da fénos servia§os governamentais. Ela estãoplanejando com entusiasmo um retorno a  andia, após uma prolongada interrupção pandaªmica, onde pretende continuar documentando a expansão de diferentes tipos de escolas e o papel dos pola­ticos nessa expansão.

"a‰ um jogo longo", diz ela. “Meu objetivo éusar a ciência social para melhorar a implementação de políticas, trabalhando em questões de intervenções de pequena escala que podem fazer o governo funcionar melhor.”

 

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