Talento

Unindo comunidades para reimaginar a preservação cultural
O Roots Studio, fundado por Rebecca Hui SM '17, ajuda comunidades rurais a licenciar sua arte para marcas em todo o mundo.
Por Zach Winn - 11/04/2022


Nos últimos seis anos, o Roots Studio ajudou comunidades rurais a preservar sua cultura e ganhar a vida licenciando sua arte. Créditos: Imagem: Cortesia do Roots Studio

Muitos jovens em comunidades rurais ao redor do mundo sentem a necessidade de se mudar para as grandes cidades para encontrar trabalho. A migração tem efeitos em cascata infelizes. Nas cidades, as pessoas com menos educação formal são muitas vezes relegadas a favelas e podem se tornar vitimas de exploração. Enquanto isso, suas fama­lias, comunidades e ricas tradições culturais são deixadas para trás.

Nos últimos seis anos, o Roots Studio trabalhou com comunidades rurais para preservar sua cultura e ganhar a vida licenciando sua arte. A empresa ajuda artistas inda­genas e comunidades de cor a licenciar seu trabalho para designers, fabricantes de tecidos e empresas de moda em todo o mundo.

“Usamos a tecnologia como uma forma de contornar a cadeia de suprimentos [convencional]”, diz a fundadora e CEO da Roots Studio, Rebecca Hui SM '17.

O Roots Studio se concentra na construção de relacionamentos duradouros com as comunidades com as quais faz parceria. Os organizadores de base do Roots Studios passam algum tempo aprendendo sobre as preocupações de cada comunidade, bem como entendendo o significado e as histórias por trás da arte. A empresa realiza oficinas regulares de tecnologia e propriedade intelectual com seus artistas parceiros. Quando a arte élicenciada, 85% dos lucros va£o para a comunidade e 15% va£o para os artistas contribuintes.

Roots Studio já estãotrabalhando com milhares de artistas em comunidades rurais da asia, áfrica e Amanãrica Latina. A empresa foi apoiada por Cartier, Chanel e Vogue Business e lançou colaborações com marcas como Outdoor Research e prAna.

Como resultado, a arte do patrima´nio ameaa§ado de extinção foi adaptada em roupas, mochilas, sapatos e muito mais, com artistas coletando royalties em cada venda.

Além de dar aos artistas uma renda que muitas vezes muda a vida, Hui diz que o Roots Studio estãoajudando os artistas a reimaginar os formatos em que sua arte pode ser vista.

“O campo da preservação cultural e do artesanato émuitas vezes tão nosta¡lgico que reconhece que a cultura não éesta¡tica osela evolui com as gerações futuras que habitam essa cultura”, diz Hui. “A criatividade continua evoluindo em diferentes formatos. Se permanecermos excessivamente nosta¡lgicos, a vida da obra morrera¡ porque as maneiras pelas quais as histórias são consumidas sempre mudara£o. Muitas gerações mais jovens querem acompanhar o pulso do mundo, deixando os artistas manterem sua autoria.”

Forjando um caminho

Antes de vir para o MIT, Hui passou três anos na andia como parte de um projeto de estudo da coexistaªncia humano-animal em comunidades urbanas e inda­genas.

“Passei muito tempo morando com comunidades rurais e fiquei impressionado com a profundidade de criatividade e conhecimento que eles possuem sobre sustentabilidade, artesanato e narrativa”, lembra Hui. “Mas eu também estava ouvindo a narrativa: 'Temos que migrar para ganhar a vida. Como criativo, fiquei perplexo com o dilema do “artista em dificuldades” que as pessoas criativas enfrentam globalmente quando os artistas estãono centro da inovação, mas muitas vezes são vitimas da gentrificação enquanto seu trabalho inspira indaºstrias massivamente lucrativas. ”

Ao mesmo tempo, Hui estava ciente da crescente pressão por sustentabilidade por parte dos consumidores ocidentais.

“Eu estava vendo o contraste entre uma indústria que estãotentando escalar a sustentabilidade e as comunidades inda­genas que cuidam da semente”, diz Hui. “Essa lacuna me deixou ansioso para unir esses mundos para avana§armos juntos na definição da sustentabilidade.”

Hui começou a aprender sobre o trabalho de artistas inda­genas enquanto morava na zona rural de Bengala, entre várias comunidades de artistas. Por volta de 2014, enquanto dirigia oficinas de artistas, começou a explorar meios nos quais o trabalho pudesse existir em mercados de maior valor. Ela solicitou 26 bolsas para ajudar a dimensionar o trabalho, mas todas foram negadas.

Buscando outro caminho para dimensionar o trabalho, Hui se candidatou a um programa de mestrado no Departamento de Estudos e Planejamento Urbano do MIT, embora continuasse hesitante em deixar as comunidades parceiras. Em uma casa aberta do MIT para estudantes aceitos, Hui recebeu uma bolsa de pesquisa atravanãs do MIT Tata Center, que pagaria suas mensalidades, além de financiar viagens de pesquisa de volta a  andia.

“Eu não tinha dinheiro ou recursos para continuar financiando workshops [na anãpoca]”, lembra Hui. “Quando a bolsa Tata chegou, eu sabia que tinha uma base para trabalhar.”

Uma vez no campus do MIT, Hui não perdeu tempo para recuperar as bolsas perdidas. O primeiro programa empreendedor em que participou foi o IDEAS Social Innovation Challenge, onde o Roots Studio ganhou o praªmio ma¡ximo.

“Fiquei em aªxtase porque durante anos foi tão difa­cil fazer as pessoas entenderem as realidades no terreno, mas finalmente aqui estava alguém que nos apoiaria”, diz Hui, que estima que sua equipe tenha trabalhado com mais de 1.000 artistas naquele momento. “Ajudou-nos a ganhar confiana§a.”

O praªmio IDEAS foi o primeiro de muitos prêmios que o Roots Studio ganharia. A partir daa­, Hui obteve apoio do MIT Sandbox Fund, do MIT D-Lab e do Legatum Center. Hui também participou do acelerador de vera£o delta v do MIT e ganhou o Creative Arts Prize.

O apoio deu a Hui os recursos para experimentar diferentes modelos de nega³cios e continuar aprendendo com suas comunidades parceiras, o que ela fazia durante todos os intervalos das aulas.

Uma das primeiras iniciativas do Roots Studio no MIT foi colaborar com um grupo de artistas para colocar seus trabalhos em cadernos. Hui ainda se lembra de encher seu dormita³rio em Ashdown House com 3.000 cadernos da andia. O MIT a ajudava a vender esses livros em feiras internacionais, então ela distribua­a os lucros para as comunidades em sua próxima viagem a  andia.

Atravanãs do trabalho, Hui refinou sua abordagem para liberar o potencial criativo de artistas usando novos formatos. Hoje Roots estãopreenchendo a lacuna entre comunidades com ricas tradições culturais e mercados consumidores em todo o mundo.

“Nosso objetivo éaumentar a renda anual do artista em pelo menos 15%, mas alguns dos retornos triplicaram a renda familiar anual das pessoas”, diz Hui.

A empresa também busca apoiar comunidades detentoras de conhecimento em artes que correm o risco de se perder nesta geração.

“Muitas das conversas sobre a mudança para diferentes ma­dias são sobre aprender o que uma comunidade estãobem ou não, então éum dia¡logo coeducacional”, diz Hui.

Reestruturando percepções

Ao criar colaborações entre marcas e comunidades pensativas, Hui acredita que o Roots Studio estãoreformulando as percepções sobre o valor da arte e por quem ela éfeita.

“As comunidades rurais enfrentaram gerações de exploração e discriminação”, diz Hui. “Mas isso não define quem eles são. Eles possuem uma ousadia e auda¡cia que adicionam um frescor muito necessa¡rio a  monotonia visual e ideola³gica da arte ocidental.”  

O Roots Studio já provou que existe um mercado para a obra de arte. Ao longo do caminho, permitiu que as comunidades preservassem sua cultura em seus pra³prios termos.

“Uma visão para noséreimaginar a ideia de uma aldeia pra³spera na economia rural e fazaª-lo de uma forma que reconhea§a a cultura e as habilidades criativas baseadas em gerações de conhecimento e criatividade”, diz Hui. “Eles guardam um tesouro dentro deles. Agora ésão divulgar da maneira certa para o mundo apreciar.”

 

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