Tecnologia Científica

Estudo alerta que pode não haver dose segura de cafea­na na gestação
Resultados de pesquisa de doutorado em andamento no ICB renderam praªmio em congresso na Argentina
Por Marcus Vinícius dos Santos - 19/12/2019

Suna§a
Doses recomendadas atualmente podem causar redução do peso do feto
e alterar vascularização da placenta

A cafea­na éuma substância muito usada por mulheres gra¡vidas, não apenas por ha¡bito, mas também como meio de reduzir sonolaªncia e fadiga durante a gestação. E estãotambém na composição de chocolates, cha¡s e outras bebidas do dia a dia. Contudo, no caso de mulheres gra¡vidas, uma pesquisa experimental do Instituto de Ciências Biola³gicas (ICB) da UFMG mostra que pode não haver uma dose segura para a ingestãode cafea­na.

Desenvolvida pela nutricionista Thaa­s de Manãrici e Paula, sob a orientação dos professores Fernanda Almeida e Enrrico Bloise, do programa de Pa³s-graduação em Biologia Celular, a pesquisa de doutorado parte do pressuposto de que a ingestãoda cafea­na pode comprometer o desenvolvimento folicular ovariano, fetal e placenta¡rio. O estudo recebeu o praªmio YW Loke New Investigator Travel Award 2019, no congresso da Federação Internacional das Associações de Placenta, na Argentina.

Henrique Castanheira / ICB-UFMG
A partir da esquerda, Fernanda Almeida, Thaa­s de Manãrici, Enrrico Bloisi e Thaa­s Santos

Para avaliar essa hipa³tese, os cientistas testaram a ingestãodas atuais doses consideradas seguras na gestação, bem como de doses mais altas. Diante da impossibilidade de experimentar em seres humanos, os testes foram feitos em camundongos prenhes, da linhagem Swiss e C-57 Black.

“Nossos resultados mostraram que as doses atualmente recomendadas de cafea­na podem não apenas causar redução dos pesos fetal e placenta¡rio, mas também alterar toda a vascularização da placenta e, consequentemente, favorecer a ocorraªncia de uma enfermidade conhecida como da Restrição Intrauterina de Crescimento (RIUC)”, afirma Thaa­s de Manãrici. No estudo, os fetos oriundos de ma£es que consumiram doses moderadas de cafea­na (três xa­caras de caféao dia) sofreram essa restrição intrauterina.


Com base nesses e em outros resultados, o grupo de pesquisadores do Laborata³rio de Biologia Estrutural e Reprodução do ICB conclui que a dosagem considerada segura de cafea­na durante a gestação precisa ser urgentemente reavaliada na prática cla­nica com pacientes humanos. Eles observam que os cientistas já sabem que camundongos apresentam menor sensibilidade a essas substâncias na comparação com a sensibilidade humana, mas defendem que, enquanto a reavaliação não for realizada, seria sensato que mulheres gra¡vidas evitassem o consumo de cafée dos outros produtos que contem cafea­na.

“Esse cuidado extra poderia prevenir doenças e condições indesejáveis de saúde e, com isso, reduzir a necessidade de tratamentos complexos, de custo elevado, e proporcionar melhor qualidade de vida para os filhos dessas mulheres”, afirma Thaa­s de Manãrici. Segundo a pesquisadora, tanto animais quanto humanos acometidos por RIUC podem desenvolver doenças crônicas de difa­cil tratamento, como diabetes, dislipidemias, obesidade, sa­ndrome metaba³lica, câncer e doenças cardiovasculares. Embora mais comuns em adultos, esses problemas poderiam ter sua origem ainda na vida intrauterina e estar associados ao mau funcionamento placenta¡rio, a  alimentação materna inadequada e a  ocorraªncia de RIUC.

 

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