Tecnologia Científica

O Brasil abre uma base de pesquisa anta¡rtica 'espetacular', mas tera¡ dinheiro para realizar seu potencial?
A nova estaa§a£o, de US $ 100 milhões, équase o dobro do tamanho da antiga e se destaca por seu design arquiteta´nico elegante e acomodaa§aµes em estilo de hotel para até64 pessoas, incluindo cientistas e militares.
Por Herton Escobar - 13/01/2020


Uma nova estação de pesquisa projetada pela empresa de arquitetura brasileira Estaºdio 41 pode acomodar 64 pessoas.

 
ESTašDIO 41


O Brasil abrira¡ oficialmente seu novo posto cienta­fico na Anta¡rtida nesta semana, 8 anos depois que um incaªndio destruiu sua base original la¡. A nova estação, de US $ 100 milhões, équase o dobro do tamanho da antiga e se destaca por seu design arquiteta´nico elegante e acomodações em estilo de hotel para até64 pessoas, incluindo cientistas e militares. Dezessete laboratórios apoiara£o a pesquisa em diversos campos, da microbiologia ambiental a  fisiologia humana, paleontologia emudanças climáticas.

A cerima´nia de inauguração estãomarcada para 14 de janeiro, com a presença do vice-presidente brasileiro Hamilton Moura£o e de vários ministros.

"a‰ uma instalação de primeira classe, realmente espetacular em muitos aspectos", diz Wim Degrave, bia³logo molecular e especialista em biotecnologia da Fundação Oswaldo Cruz que visitou a estação em novembro de 2019. Mas muitos cientistas temem que o governo brasileiro - cujo apoio a a ciência despencou nos últimos anos - pode não disponibilizar dinheiro suficiente para usar todo o potencial da instalação.

O incaªndio de 2012, que começou durante uma operação de transferaªncia de combusta­vel, matou dois oficiais da Marinha. A nova base foi comissionada 1 ano depois, pouco antes do financiamento paºblico para a ciência no Brasil atingir um pico hista³rico. A construção começou em 2015 e agora estãoquase conclua­da. Os sistemas operacionais e de segurança ainda precisam passar por uma fase de comissionamento antes que a base possa ser ocupada e se tornar totalmente operacional no pra³ximo vera£o austral.

Pesquisadores brasileiros continuaram fazendo pesquisas na Anta¡rtica nos últimos 8 anos, com o apoio de dois navios de pesquisa oceanogra¡fica da Marinha do Brasil e uma sanãrie de ma³dulos de contaªineres em terra que sera£o desativados gradualmente.

A nova base fica no local da antiga, na pena­nsula de Keller, na ilha King George, e mantera¡ seu nome: Estação Anta¡rtica Comandante Ferraz. Mas as semelhanças param por aa­. O novo posto avana§ado não éapenas maior (com 4500 metros quadrados de área útil) e muito mais bonito - foi projetado pelo Estaºdio 41, uma empresa brasileira - mas também muito mais seguro e melhor equipado para operar no ambiente hostil da Anta¡rtica. Seu antecessor era basicamente uma rede robusta de contaªineres adaptados, montada pela primeira vez em 1984, com instalações de pesquisa limitadas.

"a‰ uma grande atualização", diz Jefferson Simaµes, glaciologista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e vice-presidente do Comitaª Cienta­fico Internacional de Pesquisa Anta¡rtica. Por exemplo, os bia³logos que fizeram coletas de viagens com a marinha tiveram que congelar suas amostras a bordo e esperar meses antes que pudessem comea§ar a processa¡-las no Brasil. Agora, eles sera£o capazes de processa¡-los imediatamente na nova estação. “Isso faz uma enorme diferença na pesquisa. a‰ muito melhor trabalhar com amostras novas ”, diz Degrave.

O Ministanãrio da Defesa estãopagando pelo prédio, que foi construa­do por uma empresa chinesa; a marinha brasileira ira¡ opera¡-lo. Mas o financiamento para a pesquisa éuma preocupação. O Programa Anta¡rtico Brasileiro (Proantar), criado em 1982 para apoiar os interesses cienta­ficos e geopola­ticos do Brasil na Anta¡rtica, foi dificultado pelo financiamento de incertezas nos últimos anos. Os pesquisadores conseguiram, a um grande custo, garantir uma chamada de financiamento de 18 milhões de reais (US $ 4,5 milhões) para o Proantar em 2018, exatamente como estava ficando sem dinheiro. a‰ a maior soma já injetada no programa de uma são vez, de acordo com o Ministanãrio da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação. Mais 2 milhões de reais foram alocados em 2019 para equipar os novos laboratórios da estação.

O dinheiro da subvenção estãosendo distribua­do entre 17 projetos de pesquisa selecionados, por um período de financiamento de 4 anos, que termina em 2022. Va¡rios dos projetos selecionados envolvem o estudo molecular da biodiversidade anta¡rtica, enquanto outros tentara£o lana§ar luz sobre a história geola³gica da regia£o. continente e suas conexões climáticas, oceanogra¡ficas, biológicas e geofa­sicas com a Amanãrica do Sul.

O dinheiro ésuficiente para manter o Proantar vivo por enquanto, diz Simaµes, mas em breve seráhora de comea§ar a passar o balde novamente. Idealmente, ele estima que o programa exigiria US $ 1,5 milha£o por ano em financiamento de pesquisa - sem incluir custos loga­sticos - para permanecer esta¡vel e cientificamente produtivo a longo prazo. “A infraestrutura estãoinstalada, agora cabe a nós, juntamente com o governo, encontrar o dinheiro necessa¡rio para apoiar a pesquisa que precisa ser feita la¡â€, diz Simaµes. "Caso contra¡rio, seráapenas uma casa vazia."

O governo brasileiro não assumiu compromissos depois de 2022, mas um porta-voz do ministanãrio emitiu uma nota tranquilizadora em uma entrevista. "O Proantar ésem daºvida um programa de interesse estratanãgico para o governo brasileiro e não pode haver descontinuidade no fluxo de recursos", afirmou o porta-voz.

 

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