Tecnologia Científica

As redes cerebrais ficam
Novas redes cerebrais ficam 'online' durante a adolescaªncia, permitindo que os adolescentes desenvolvam habilidades sociais adultas mais complexas, mas potencialmente colocando-as em risco aumentado de doença mental, de acordo com uma nova pesquisa
Por Craig Brierley - 30/01/2020



A adolescaªncia éuma anãpoca de grandesmudanças na vida, com aumento das habilidades sociais e cognitivas e independaªncia, mas também maior risco de doença mental. Embora esteja claro que essasmudanças na mente devem refletirmudanças no desenvolvimento do cérebro, não estãoclaro como exatamente a função do cérebro humano amadurece a  medida que as pessoas crescem de criana§as a adultos jovens.

Uma equipe sediada na Universidade de Cambridge e na University College London publicou uma importante nova pesquisa que nos ajuda a entender mais claramente o desenvolvimento do cérebro do adolescente.

"A aquisição de novas habilidades, mais adultas, durante a adolescaªncia depende da formação ativa e disruptiva de novas conexões entre regiaµes do cérebro, trazendo novas redes cerebrais 'online' pela primeira vez para oferecer habilidades sociais e outras avana§adas a  medida que as pessoas envelhecem"

Petra Vertes

O estudo coletou dados de ressonância magnanãtica funcional (RMf) sobre a atividade cerebral de 298 jovens sauda¡veis, com idades entre 14 e 25 anos, cada um escaneado em uma a três ocasiaµes, com intervalo de 6 a 12 meses. Em cada sessão de escaneamento, os participantes permaneciam quietos no scanner, para que os pesquisadores pudessem analisar o padrãode conexões entre diferentes regiaµes cerebrais enquanto o cérebro estava em repouso.

A equipe descobriu que a conectividade funcional do cérebro humano - em outras palavras, como diferentes regiaµes do cérebro 'se comunicam' - muda de duas maneiras principais durante a adolescaªncia.

As regiaµes do cérebro que são importantes para a visão, movimento e outras faculdades ba¡sicas estavam fortemente conectadas aos 14 anos e se tornaram ainda mais fortemente aos 25 anos. Isso foi chamado de padrão"conservador" de mudança, como áreas da o cérebro rico em conexões no ini­cio da adolescaªncia se torna ainda mais rico durante a transição para a idade adulta.

No entanto, as regiaµes do cérebro que são importantes para habilidades sociais mais avana§adas, como poder imaginar como outra pessoa estãopensando ou se sentindo (a chamada teoria da mente), mostraram um padrãode mudança muito diferente. Nessas regiaµes, as conexões foram redistribua­das ao longo da adolescaªncia: as conexões inicialmente fracas se tornaram mais fortes e as conexões inicialmente fortes se tornaram mais fracas. Isso foi chamado de padrão"disruptivo" de mudança, a  medida que as áreas pobres em suas conexões se tornaram mais ricas e as áreas ricas ficaram mais pobres.

Ao comparar os resultados da ressonância magnanãtica com outros dados sobre o cérebro, os pesquisadores descobriram que a rede de regiaµes que mostraram o padrãodisruptivo de mudança durante a adolescaªncia tinha altos na­veis de atividade metaba³lica, tipicamente associados a  remodelagem ativa das conexões entre as células nervosas.

A Dra. Petra Vanãrtes, autora saªnior conjunta do artigo e membro da organização de pesquisa em saúde mental MQ, disse: “A partir dos resultados dessas análises cerebrais, parece que a aquisição de novas habilidades, mais adultas durante a adolescaªncia, depende da atividade ativa, formação disruptiva de novas conexões entre regiaµes do cérebro, colocando novas redes cerebrais 'online' pela primeira vez para oferecer habilidades sociais e outras avana§adas a  medida que as pessoas envelhecem. ”

O professor Ed Bullmore, autor saªnior do trabalho e chefe do Departamento de Psiquiatria de Cambridge, disse: “Sabemos que depressão, ansiedade e outros distúrbios da saúde mental ocorrem frequentemente pela primeira vez na adolescaªncia - mas não sabemos por que. . Esses resultados nos mostram que a remodelagem ativa das redes cerebrais estãoem andamento durante a adolescaªncia e uma compreensão mais profunda do desenvolvimento cerebral pode levar a uma compreensão mais profunda das causas das doenças mentais nos jovens. ”

Medir a conectividade funcional no cérebro apresenta desafios particulares, como explicou o Dr. FrantiÅ¡ek Va¡Å¡a, que liderou o estudo como bolsista de doutorado do Gates Cambridge Trust e agora estãono King's College London.

"Estudar a conectividade funcional do cérebro com a RMf écomplicado, pois mesmo o menor movimento da cabea§a pode corromper os dados - isso éespecialmente problema¡tico quando se estuda o desenvolvimento de adolescentes, pois as pessoas mais jovens acham mais difa­cil ficar quieta durante a varredura", disse ele. "Aqui, usamos três abordagens diferentes para remover assinaturas do movimento da cabea§a dos dados e obtivemos resultados consistentes, o que nos deixou confiantes de que nossas conclusaµes não estãorelacionadas ao movimento da cabea§a, mas amudanças no desenvolvimento do cérebro adolescente".

O estudo foi apoiado pelo Wellcome Trust.

 

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