Tecnologia Científica

Pesquisa do IB indica a´mega 3 como aliado contra o Zika
Testes in vitro comprovaram redua§a£o de carga viral e efeito neuroprotetor em células cerebrais. Trabalho foi publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature
Por Thaíse Torres - 07/02/2020


Ca¡psulas de a´mega-3 usadas pelos pesquisadores tem altos na­veis de DHA.
Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

Pesquisa do Laborata³rio de Imunologia e Inflamação da Universidade de Brasa­lia (Limi/UnB) concluiu que o a³leo de peixe a´mega-3 consegue proteger neura´nios contra morte celular, estresse oxidativo e inflamação causada pelo va­rus zika. A resposta anti-inflamata³ria e neuroprotetora sobre o Sistema Nervoso Central (SNC) leva a crer que a substância pode ser utilizada como auxiliar nas terapias antivirais combatendo o efeito ta³xico causado pelo va­rus a s células ou no tratamento de outros aspectos afetados, como a fertilidade masculina.

O estudo começou como parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cienta­fica (Pibic) e hoje continua como tema da dissertação de mestrado da estudante Heloa­sa Braz de Melo no programa de Pa³s-Graduação em Patologia Molecular da UnB, orientado pela professora Kelly Magalha£es.  

Durante a pesquisa, que rendeu publicação na revista Scientific Reports, do grupo Nature, uma das mais importantes na área internacionalmente, Heloa­sa caracterizou os mecanismos pelos quais o a´mega-3 protege as células neuronais. “Comea§amos com uma pergunta pequena e depois a ampliamos. Hoje temos outras três pesquisas trabalhando com essa associação”, relata a orientadora.

Entre os possa­veis efeitos do uso do a´mega-3, estãoo uso preventivo e como auxiliar antiviral, atuando na redução da carga viral e diminuição da inflamação e danos celulares em neura´nios humanos. No laboratório, háinda trabalhos em andamento que estudam o efeito do a´mega-3 contra a infertilidade masculina causada pelo va­rus. 

A transmissão do va­rus zika acontece por meio de picada do mosquito Aedes aegypti, de relação sexual e da ma£e para o bebaª durante a gestação. Vale ressaltar que os sintomas da infecção pelo zika (vermelhida£o pelo corpo, febre e coceira são os mais comuns) duram em torno de sete dias, mas a transmissão sexual pode ocorrer por cerca de seis meses a um ano após a infecção.

Heloa­sa Braz de Melo (a  esquerda) e pesquisadores do Laborata³rio de Imunologia e Inflamação relacionam a´mega 3 e o va­rus zika. Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

RESULTADOS osHeloa­sa passou dois anos da graduação em Biotecnologia fazendo as caracterizações e analisando a resposta inflamata³ria do a´mega-3 nos contextos de ca¢ncer, obesidade e inflamação. Pesquisas anteriores demonstraram que o a´mega-3 éneuroprotetor e também anti-inflamata³rio. Esses inda­cios positivos levaram as pesquisadoras a, no ini­cio do surto de zika, decidirem analisar se a substância poderia ser também protetora contra essa infecção viral. “Foi aa­ que decidimos juntar as duas coisas e esse foi o grande diferencial do trabalho. Elas nunca foram estudadas juntas antes”, lembra Kelly.

Aanãpoca do surto em 2015-2016, a pesquisa teve auxa­lio financeiro da Fundação de Apoio a  Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF), do Programa Pesquisa para o Sistema ašnico de Saúde (PPSUS), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cienta­fico e Tecnola³gico (CNPq) e do Ministanãrio da Saúde, bem como da agaªncia Brita¢nica Welcome Trust. Ainda assim, a obtenção de financiamento cienta­fico tem sido desafio constante. “No cena¡rio nacional da ciência brasileira, esse éo principal obsta¡culo para o avanço da pesquisa”, afirmou Kelly Magalha£es. Ela acredita que o estabelecimento de parcerias cienta­ficas permite driblar a escassez de financiamento, além de ser estratanãgia importante para enriquecer a qualidade do trabalho.

Testes in vitro indicam que o a´mega-3 consegue proteger os neura´nios contra a morte celular, estresse oxidativo e a inflamação causada pelo va­rus. Arte: Igor Outeiral
 
PARCERIAS osEm um cena¡rio de sucessivos cortes nas verbas disponí­veis para pesquisa, os pesquisadores consideram necessa¡rio o estabelecimento de laa§os entre instituições. A caracterização dos experimentos de carga viral da pesquisa foi realizada no Laborata³rio Central de Saúde Paºblica do Distrito Federal (Lacen/DF) com o auxa­lio de Paulo Prado, chefe da Virologia a  anãpoca.

 “A Polimerase Chain Reaction (PCR) éuma metodologia que amplifica o material genanãtico da amostra e assim permite a detecção e quantificação do DNA”, explica Prado, que émestre em Medicina Tropical pela UnB. Ele conta que Heloa­sa utilizou também kits específicos para extração de RNA viral.

 “Sem as colaborações que estabelecemos, parte importante do nosso trabalho não conseguiria ser respondida, como a PCR feita no Lacen”, lembra a mestranda. Durante a realização dos experimentos, Heloa­sa usou equipamentos que não existem no Limi, que não tem verba suficiente para obtaª-los no momento.
 
“Para nosdo Lacen, já que não temos o cargo de pesquisador, éinteressante fazer esse tipo de parceria”, acrescenta Prado. Ele acredita na execução de políticas públicas em conjunto com outros órgãos como fator crucial para o desenvolvimento de pesquisas. "Sempre háum servidor do órgão supervisionando o uso do equipamento, e os dados cienta­ficos são compartilhados, possibilitando os avanços da ciaªncia", explica. 

Na UnB, as parcerias foram com o Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina, por meio da professora Andreza de Bem, onde foram realizados os ensaios de respirometria, que demonstraram a disfunção de mitoca´ndrias, causada pelo va­rus; e com o Departamento de Nutrição da Faculdade de Ciências da Saúde, por meio da professora Natha¡lia Pizato.

 

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