Tecnologia Científica

Pesquisadores da UFPI usam células-tronco para curar cabras com mastite fibrosa crônica
A multipotencialidade de células-tronco e a imunomodulação, associadas a sua eficácia no reparo de tecidos somáticos, possibilitou restabelecer a produção de leite em cabras com lesões mamárias crônicas.
Por Laercio Damasceno - 19/04/2020


Divulgação

Um novo estudo utilizando células-tronco mesenquimais do tecido adiposo (ASCs) comprovou-se eficiente na regeneração de lesões da mastite fibrosa na gla¢ndula mama¡ria caprina. A multipotencialidade de células-tronco e a imunomodulação, associadas a sua eficácia no reparo de tecidos somáticos, possibilitou restabelecer a produção de leite em cabras com lesões mamárias crônicas.

Os pesquisadores do Naºcleo Integrado de Morfologia e Pesquisa com Canãlulas-Tronco (NUPCelt), Universidade Federal do Piauí­ (UFPI), Clautina RM Costa, Matheus LT Feitosa, Andressa R. Rocha, Dayseanny O. Bezerra, Yulla KC Leite, Napolea£o M. Argolo Neto, Huanna WS Rodrigues, Anta´nio Sousa Jua­n, Adalberto S. Silva, JoséLR Sarmento, Lucilene S. Silva, Maria AM Carvalho relatam na revista PLOS ONE que, o estudo avaliou o potencial terapaªutico e regenerativo de células-tronco do tecido adiposo no reparo da gla¢ndula mama¡ria e restabelecimento da produção de leite em cabras com mastite tratadas com agentes antimicrobianos antes da terapia celular.

Cortesia
Os pesquisadores do Naºcleo Integrado de Morfologia e Pesquisa com Canãlulas-Tronco
(NUPCelt), Professora Maria Acelina Martins de Carvalho, Mentora da pesquisa; 
Napolea£o M. Arga´lo Neto. Supervisor da pesquisa e Coordenador Geral do NUPCelt;
 Miguel Ferreira Cavalcante. Coordenador da divisão de extensão e empreendedorismo
do NUPCelt;  Dayseanny Oliveira Bezerra. Pesquisadora: Janete Silva. Tanãcnica do
NUPCelt; JoséHerma­nio da Rocha Neto. Tanãcnico do NUPCelt; Lucilene Silva.
Pesquisadora; Huanna Soares Waleska. Pesquisadora;

A mastite éuma doença da gla¢ndula mama¡ria responsável por alterações irreversa­veis no tecido glandular, e não existem medicamentos ou manãtodos terapaªuticos eficazes que possam diminuir completamente as caracteri­sticas das lesões que afetam diretamente a produção de leite, causando grandes danos aos produtores.

Segundo a literatura médica, alterações no tecido mama¡rio são causadas inicialmente por microorganismos. As bactanãrias produzem toxinas que destroem as membranas celulares, causando danos a produção de leite, enquanto outros podem invadir e se multiplicar dentro do epitanãlio antes de causar a morte celular. Sob essas condições, os a¡cinos e os ductos afetados comea§am a involuir e cessar a secreção de leite.

A fibrose mamaria éentão iniciada pela resposta a fatores quimiota¡ticos liberados pelas células danificadas, estimulando que o tecido conjuntivo circundante fique inchado e aumente a deposição de tecido fibroso na regia£o periglandular e periductal, obliterando laºmen, a¡cinos e atémesmo cisterna. Desse modo, a vascularização da gla¢ndula mama¡ria com o avanço da fibrose fica comprometida, um aspecto que contribui para a atrofia e mau funcionamento da gla¢ndula.

Regeneração do epitanãlio mama¡rio

Segundo o professor Napolea£o M. Argolo Neto foram avaliados os escores de fibrose, o infiltrado inflamata³rio e proliferação celular, antes e após o tratamento. Ainda segundo o pesquisador, observou-se que após a terapia com células-tronco houve uma tendaªncia a diminuir intensidade de fibrose e aumento da proliferação celular, caracterizando o processo de neoformação do tecido residente (tecido mama¡rio imaturo), estimulado por células-tronco. 

“melhores resultados poderiam ter sido obtidos na avaliação da qualidade fa­sico-química de leite se o período de análise após a terapia fosse mais longo e, assim, verificar maior restabelecimento funcional da gla¢ndula mama¡ria. Contudo, o estudo demonstrou que o leite produzido pelos animais tratados com células-tronco era apto ao consumo humano” 

Napolea£o M. Argolo Neto

As células-tronco injetadas liberam fatores de crescimento e tem função imunomoduladora que estimula as células residentes a progredir no ciclo celular, levando a proliferação celular. Dessa forma, “a intervenção com injeção de células-tronco, em pacientes com inflamação, éimportante para conter danos nos tecidos, gerados pela substituição do paraªnquima por tecido fibroso”, ressaltou o cientista.

A verificação histopatola³gica, ultrassonogra¡fica, dos parametros fa­sico-químicos do leite, além de considerar o retorno da funcionalidade da gla¢ndula mama¡ria do animal, mostraram um importante resultado biola³gico no estudo pré-cla­nico da terapia com células mesenquimais. O potencial terapaªutico dessas células tem sido amplamente demonstrado em estudos experimentais sobre regeneração de atrofia muscular, isquemia mioca¡rdica, doença hepa¡tica, cirrose hepa¡tica, regeneração do tecido periodontal, lesões da ca³rnea, isquemia entre outros, com eficácia varia¡vel. De acordo com os achados histopatola³gicos, o tecido mama¡rio não tratado possua­a infiltração de células inflamata³rias, tanto nos a¡cinos como no tecido intersticial e proliferação de tecido conjuntivo fibroso. Este égeralmente observado na mastite crônica, causando degeneração do epitanãlio mama¡rio.

Apa³s a terapia celular, ainda se observavam células inflamata³rias infiltradas, poranãm alguns aspectos devem ser considerados para entender os resultados. O período de 30 dias, após a terapia, para observação de alterações morfola³gicas no tecido mama¡rio, pode não ter sido suficiente para mostram uma maior evolução no processo de reconstituição da gla¢ndula, mas os resultados são satisfata³rios, com perspectivas do uso de ASCs na terapia. “melhores resultados poderiam ter sido obtidos na avaliação da qualidade fa­sico-química de leite se o período de análise após a terapia fosse mais longo e, assim, verificar maior restabelecimento funcional da gla¢ndula mama¡ria. Contudo, o estudo demonstrou que o leite produzido pelos animais tratados com células-tronco era apto ao consumo humano”, ponderou Napolea£o.

Na pesquisa 30 cabras (Capra Hircus) da raça Anglonubiana (mesmo período de lactação) foram escolhidas e mantidas no setor de criação da Universidade Federal do Piauí­, no departamento de Zootecnia, alimentadas com pastagem nativa e capim-elefante (Pennisetum Purpureum Schum) consorciados com grama­neas, além de ração comercial peletizada com 18% de protea­na bruta e águaad libitum. Apa³s o experimento, todos os animais se recuperaram da mastite cla­nica e foram reintegrados ao rebanho. 

 

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