Tecnologia Científica

Pesquisadores encontram a chave para preservar 'The Scream'
A imagem familiar éinterpretada como a representaa§a£o última da ansiedade e angaºstia mental.
Por Centro Europeu de Radiação Síncrotron - 15/05/2020


The Scream (1910?) (Museu Munch, Oslo; cata¡logo n. Woll.M.896). Crédito: Irina Crina
Anca Sandu e Eva Storevik Tveit, Museu Munch.

"O Grito" estãoentre as pinturas mais famosas da era moderna. A imagem familiar éinterpretada como a representação última da ansiedade e angaºstia mental. Existem várias versaµes de "O Grito", ou seja, duas pinturas, dois pastanãis, várias gravuras litogra¡ficas e alguns desenhos e esboa§os. As duas versaµes mais conhecidas são as pinturas que Edvard Munch criou em 1893 e 1910. Cada versão de "The Scream" éúnica. Munch claramente experimentou encontrar as cores exatas para representar sua experiência pessoal, misturando diversos materiais de encadernação (tempera, a³leo e pastel) com pigmentos sintanãticos brilhantes e ousados ​​para criar "cores gritantes". Infelizmente, o uso extensivo desses novos materiais coloridos representa um desafio para a preservação a longo prazo das obras de arte de Munch.

A versão de "The Scream" (1910?) Na coleção do Museu Munch (Oslo, Noruega) exibe claramente sinais de degradação em diferentes áreas onde foram utilizados pigmentos a  base de sulfeto de ca¡dmio: pinceladas de amarelo de ca¡dmio foram desativadas -branco no canãu nublado por do sol e na área do pescoa§o da figura central. No lago, uma tinta amarela opaca de ca¡dmio e espessa éaplicada. Ao longo de sua existaªncia, vários elementos contribua­ram para a deterioração da obra-prima: os pigmentos amarelos utilizados, as condições ambientais e o roubo de 2004, quando a pintura desapareceu por dois anos.

Desde a recuperação da pintura após o roubo, a obra-prima raramente foi exibida ao paºblico. Em vez disso, épreservada em uma área de armazenamento protegida no Museu Munch, na Noruega, sob condições controladas de iluminação, temperatura (cerca de 18 ° C) e umidade relativa (cerca de 50%).

Uma colaboração internacional, liderada pelo CNR (Ita¡lia), com a Universidade de Perugia (Ita¡lia), a Universidade de Antuanãrpia (Banãlgica), o Bard Graduate Center em Nova York (EUA), o Sa­ncrotron Europeu (ESRF, Frana§a), o German Electron Synchrotron (DESY, Hamburgo) e o Munch Museum estudaram detalhadamente a natureza dos vários pigmentos de sulfeto de ca¡dmio usados ​​por Munch e como eles se degradaram ao longo dos anos.

"Esse tipo de trabalho mostra que arte e ciência estãointrinsecamente ligadas e que a ciência pode ajudar a preservar obras de arte para que o mundo possa continuar a admira¡-las nos pra³ximos anos"

Miliani, coordenador do MOLAB.

A umidade éo principal fator ambiental responsável pela degradação de "The Scream", de acordo com as conclusaµes da equipe. Eles usaram uma combinação de manãtodos espectrosca³picos não invasivos in situ e técnicas de raios-X sa­ncrotron. Apa³s explorar a capacidade da plataforma ma³vel europeia MOLAB in situ e de forma não invasiva no Museu Munch, em Oslo, os pesquisadores chegaram ao ESRF, o Sa­ncrotron Europeu (Grenoble, Frana§a), a fonte de raios-X mais brilhante do mundo, para realizar experimentos não destrutivos em micro-flocos origina¡rios de uma das versaµes mais conhecidas de "The Scream". As descobertas podem ajudar a preservar melhor essa obra-prima, que raramente éexibida devido a  sua degradação. O estudo estãopublicado na Science Advances .
 
As descobertas fornecem dicas relevantes sobre o mecanismo de deterioração de tintas a  base de sulfeto de ca¡dmio, com implicações significativas para a conservação preventiva de "The Scream".

"As microanálises de sa­ncrotron nos permitiram identificar o principal motivo do decla­nio da pintura, que éa umidade. Tambanãm descobrimos que o impacto da luz na tinta émenor. Estou muito satisfeito que nosso estudo possa contribuir para preservar essa famosa obra-prima ", explica Letizia Monico, uma das autoras correspondentes do estudo.

Atingir a fa³rmula certa para preservação

Monico e seus colegas estudaram áreas selecionadas baseadas em sulfeto de ca¡dmio de "The Scream" (1910?), Bem como uma micro-amostra correspondente usando uma sanãrie de análises espectrosca³picas in-invasivas e não invasivas com equipamentos porta¡teis da plataforma MOLAB europanãia em combinação com as técnicas de difração de micro raios X, micro fluorescaªncia de raios X e micro absorção de raios X perto da espectroscopia da estrutura da borda. O estudo da pintura foi integrado a investigações de modelos envelhecidos artificialmente. Os últimos foram preparados usando um pa³ hista³rico de pigmento amarelo de ca¡dmio e um tubo de tinta a a³leo amarelo de ca¡dmio que pertencia a Munch. As duas maquetes tinham uma composição semelhante a  do lago na pintura. "Nosso objetivo era comparar os dados de todos esses diferentes pigmentos, a fim de extrapolar as causas que podem levar a  deterioração".

O estudo mostra que o sulfeto de ca¡dmio original se transforma em sulfato de ca¡dmio na presença de compostos de cloreto em condições de alta umidade (umidade relativa ou umidade relativa de 95%). Isso acontece mesmo se não houver luz.

"A fa³rmula certa para preservar e exibir a versão principal de" The Scream 'de forma permanente deve incluir a mitigação da degradação do pigmento amarelo de ca¡dmio, minimizando a exposição da pintura a na­veis de umidade excessivamente altos (tentando atingir 45% RH ou inferior), mantendo a iluminação nos valores padrãoprevistos para materiais de pintura resistentes a  luz. Os resultados deste estudo fornecem novos conhecimentos, que podem levar a ajustes práticos na estratanãgia de conservação do Museu ", explica Irina CA Sandu, cientista da conservação no Museu Munch.

"Hoje, o Museu Munch armazena e exibe obras de arte de Edvard Munch a uma umidade relativa de cerca de 50% e a uma temperatura de cerca de 20 ° C. Essas condições ambientais também se aplicara£o ao novo Museu Munch, a ser inaugurado na primavera de 2020. Isso dito , o Museu agora analisara¡ como esse estudo pode afetar o regime atual. Parte dessa revisão seráconsiderar como outros materiais da coleção responderão a possa­veis ajustes ", acrescenta Eva Storevik Tveit, conservadora de pinturas no Museu Munch.

Os amarelos a  base de sulfeto de ca¡dmio não estãopresentes apenas nas obras de arte de Munch, mas também no trabalho de outros artistas contempora¢neos a ele, como Henri Matisse, Vincent van Gogh e James Ensor.

"A integração de investigações não invasivas in situ nonívelmacro com microanálises de sa­ncrotron provou ser útil para nos ajudar a entender processos complexos de alteração. Pode ser explorada com lucro para interrogar obras-primas que possam sofrer da mesma fraqueza, "relata Costanza Miliani, coordenador da plataforma ma³vel MOLAB (operando na Europa sob o projeto IPERION CH) e segundo autor correspondente deste estudo.

Monico e colegas, especialmente Koen Janssens (Universidade de Antuanãrpia), tem uma colaboração de longa data com o ESRF, o Sa­ncrotron Europeu e, em particular, com o cientista Marine Cotte, para investigar esses pigmentos e a melhor maneira de preservar as obras-primas originais.

"No ESRF, o ID21 éuma das poucas linhas de luz do mundo em que podemos realizar análises de espectroscopia de absorção de raios X e fluorescaªncia de toda a amostra, com baixa energia e com resolução espacial sub-micromanãtrica", explica Janssens.

"O EBS, a nova fonte extremamente brilhante, o primeiro sa­ncrotron de alta energia, que estãosob comissionamento no momento no ESRF, melhorara¡ ainda mais as capacidades de nossos instrumentos para o benefa­cio da ciência do patrima´nio mundial. serácapaz de realizar microanálises com maior sensibilidade e maiornívelde detalhe. Considerando a complexidade desses materiais arta­sticos, esses desenvolvimentos instrumentais beneficiara£o muito a análise de nossa herana§a cultural ", acrescenta Cotte, cientista do ESRF e diretor do pesquisador do CNRS.

"Esse tipo de trabalho mostra que arte e ciência estãointrinsecamente ligadas e que a ciência pode ajudar a preservar obras de arte para que o mundo possa continuar a admira¡-las nos pra³ximos anos", conclui Miliani, coordenador do MOLAB.

 

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