Tecnologia Científica

Nanoparta­culas feitas de a³leos de cozinha são aposta no combate ao colesterol
A Sociedade Brasileira de Cardiologia estima que 400 mil pessoas sejam vitimas de problemas carda­acos nopaís. 18,4 milhões de brasileiros estãocom altos na­veis de colesterol no sangue, o que éconsiderado um fator de risco.
Por Ana Paula Palazi - 12/06/2020


O pedido de patente foi feito junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI)
pela Agência de Inovação Inova Unicamp que também foi responsável pela l
icena§a junto a empresa recanãm fundada.

Os problemas de coração são os que mais matam nopaís. Dois a³bitos são registrados a cada três minutos. E atéo fim do ano, a Sociedade Brasileira de Cardiologia estima que 400 mil pessoas sejam vitimas de problemas carda­acos nopaís. 18,4 milhões de brasileiros estãocom altos na­veis de colesterol no sangue, o que éconsiderado um fator de risco.

Preocupada com esses números, a startup Cognita Technology osformada por alunos e ex-alunos da Unicamp ostrabalha com nanotecnologia para aumentar a oferta de alimentos funcionais que ajudam no controle do colesterol. Pensando nisso, foi desenvolvida uma nova tecnologia, já patenteada, que usa nanoestruturas lipa­dicas, feita de a³leos convencionais, para carrear compostos bioativos em alimentos, mantendo sua estabilidade sem promover alterações indesejadas nos produtos onde são adicionados.

Esses compostos são fitoestera³is, estera³is vegetais, naturalmente presentes em alguns gra£os e a³leos, como por exemplo, na soja. Eles atuam como redutores do colesterol sangua­neo, pois competem com o esterol de origem animal, o colesterol, no momento da absorção. Estão presentes também, em outros alimentos de origem vegetal, mas em pequenas proporções. Desta forma, a quantidade de fitoestera³is consumida pelas pessoas ainda fica muito abaixo do recomendado para a redução dos na­veis de colesterol sangua­neo.

As nanoparta­culas com fitoestera³is foram desenvolvidas durante a pesquisa de doutorado da química de alimentos, Valeria da Silva Santos, orientada em parceria pelas professoras Maria Helena Andrade Santana, da Faculdade de Engenharia Quí­mica (FEQ) e Ana Paula Badan Ribeiro, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), da Unicamp. O pedido de patente foi feito junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) pela Agência de Inovação Inova Unicamp que também foi responsável pela licena§a junto a empresa recanãm fundada.

Ana Paula explica que existem dois tipos de fitoestera³is na natureza. O esterificado éligado a uma molanãcula de a¡cido graxo e, por isso, ésolaºvel em a³leo, já sendo usado pela indústria alimenta­cia em apenas uma margarina dispona­vel comercialmente no Brasil. Já o fitoesterol livre écerca de dez vezes mais eficaz para redução do colesterol, poranãm insolaºvel. Quando adicionado a alimentos, os fitoestera³is livres se cristalizam, precipitam e, em geral, não são incorporados de forma eficaz.

As nanoparta­culas foram desenvolvidas, justamente, para revestir os fitoestera³is livres e evitar essa cristalização indesejada, o que pode ocasionar a separação de fases nos produtos onde eles são adicionados. Elas são feitas a partir de a³leos convencionais como o de soja, canola, girassol e outras gorduras vegetais comesta­veis, que também são fontes naturais de fitoestera³is. Segundo Ana Paula, essa éa primeira patente no mundo a usar tal tecnologia:

“A tecnologia não requer nenhuma sa­ntese química, não temos nenhum processo que envolva o uso de solvente. a‰ um processo que estãototalmente dentro do contexto da indústria de a³leos e gorduras.”, avalia a docente da FEA.


Como funciona

Dispersa numa emulsão de águae a³leo, a substância de interesse éatraa­da para dentro da parta­cula por afinidade fa­sico-química, após um processo de cisalhamento feito em alta pressão. Já revestidos, os fitoestera³is podem ser incorporados como ingrediente no preparo de diversos produtos, em larga escala; como iogurtes, bebidas la¡cteas, bebidas vegetais, sucos, entre outros.

As nanoparta­culas lipa­dicas podem ainda ser usadas para incorporar outros bioativos, dando margem para o enriquecimento nutricional de alimentos com uma sanãrie de outras substâncias funcionais como vitaminas, polifena³is, carotena³ides e a´mega 3. As nanoparta­culas de fitoestera³is, feitas a partir de a³leo de girassol, já foram testadas num prota³tipo de iogurte. E o prea§o final do produto mostrou-se competitivo entre outras opções de iogurtes funcionais disponí­veis no mercado.

Valeria, que também édiretora técnica da startup, explica que para a comprovação de segurança das nanoestruturas, elas foram submetidas a testes laboratoriais in vitro e in vivo. Os resultados descartam qualquer perigo ao consumo e a expectativa éque o primeiro produto no modelo B2C (Business to Consumer) seja lana§ado em 2021 pela startup Cognita Technologies:

“Sera¡ um suplemento alimentar para auxiliar na redução de colesterol, na forma la­quida, em sachaª que podera¡ ser consumido puro ou adicionado em alimentos. Sendo uma opção versa¡til, principalmente para pessoas que tem dificuldade de consumir ca¡psulas gelatinosas.”, comenta Valeria sobre o modelo de nega³cios da empresa.

A startup, que licenciou a patente em cara¡ter não-exclusivo, também pretende comercializar as nanoparta­culas enriquecidas com fitoestera³is para empresas interessadas do setor alimenta­cio.

“Elas podem ainda serem usadas em rações para nutrição animal e na indústria cosmanãtica. Para isso, ainda precisamos da aprovação da Agência Nacional de Vigila¢ncia Sanita¡ria (ANVISA), por se tratar de um produto inovador desenvolvido com nanotecnologia.”, antecipa a empreendedora.

 

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