Resaduos normalmente queimados após extraz£o da madeira, gerando impactos ao meio ambiente, ganham nova destinação
Material produzido na USP aproveita rejeitos que seriam queimados osFoto: Henrique Fontes osEESC/USP
Segundo a Indústria Brasileira de arvores (IBa), anualmente no Brasil são gerados aproximadamente cerca de oitocentas mil toneladas de rejeitos oriundos da produção de madeira na regia£o Norte do Paas. Esses resíduos, que podem ser partes de troncos com rachaduras ou fora das medidas desejadas e atépedaço s laterais da tora, normalmente são queimados após o processo de extração, gerando danos ao meio ambiente devido a emissão de gás carba´nico na atmosfera. Como forma de solucionar esse problema, pesquisadores da Escola de Engenharia de Sa£o Carlos (EESC) da USP conseguiram propor um novo destino a esses rejeitos, utilizando-os para construir um tipo de painel feito com lascas de a¡rvores (OSB) conhecido por sua utilização na construção civil, fabricação de ma³veis, produção de embalagens e decoração.
“O estudo foi pensado a partir do fato de que todo painel OSB do mundo tem como matéria-prima os troncos de a¡rvores de florestas plantadas, em geral de espanãcies do gaªnero Pinus, um tipo de pinheiro. O grande volume de rejeitos dessas toras não havia sido, atéentão, considerado para a produção do material, que agrega valor a um resíduo que usualmente édescartado, além de reduzir drasticamente o impacto ambiental negativo gerado por sua queima indiscriminada, que contribui para o aumento do efeito-estufa,†explica Francisco Antonio Rocco Lahr, um dos autores do trabalho e professor do Departamento de Engenharia de Estruturas (SET) da EESC.
Os pesquisadores contam que o processo de fabricação dos painanãis OSB a partir dos rejeitos ésimples e rápido. Apa³s receberem amostras de resíduos doados por serrarias da regia£o Norte, os cientistas da USP utilizaram um equipamento (picador de disco) capaz de obter lascas dessa madeira descartada, que posteriormente são misturadas por cinco minutos em uma batedeira com um tipo de cola a base de mamona. Depois do procedimento, o material éprensado por mais oito minutos a uma temperatura que varia de 95°C a 100°C, dando forma final ao produto.
Apa³s o painel ser produzido, foi preciso avaliar suas caracteristicas físicas e meca¢nicas para descobrir se ele era via¡vel de ser comercializado. “Os principais testes que nosrealizamos foram para determinar as propriedades de resistência, o grau de rigidez e a influaªncia da umidade nos painanãis. Nos resultados obtidos, eles tiveram um excelente desempenho, mostrando-se habilitados a serem utilizados em diversas aplicações estruturais, já que atendem aos requisitos estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Tanãcnicas (ABNT)â€, completa o docente.
Fabricação
O estudo foi realizado no Laborata³rio de Madeira e de Estruturas de Madeira (LaMEM) do SET, em parceria com a Universidade do Porto, em Portugal. Autora principal do trabalho, a pesquisadora Isabella Imakawa Araaºjo, doutoranda da EESC, conta que as espanãcies de madeira utilizadas no projeto para o desenvolvimento dos painanãis OSB estãoentre as que mais geram rejeitos nas serrarias do Norte, principal regia£o produtora de madeira do Paas. As espanãcies estudadas no trabalho foram: cambara¡ (Erisma sp.), caixeta (Simarouba sp.), tatajuba (Bagassa guianensis), tauari (Couratari oblongifolia) e cedroarana (Cedrelinga catenaeformis).
A cientista explica que desenvolveu tanto painanãis utilizando espanãcies isoladas como misturando mais de uma na mesma pea§a, que tinha sempre três camadas, sendo que em cada uma delas as lascas eram posicionadas em sentidos diferentes. A cola a base de mamona utilizada para dar aderaªncia a s camadas do painel émais sustenta¡vel e, diferente das convencionais, não possui propriedades canceragenas, como o formol. Além de poder ser reaproveitado, o “adesivo natural†ainda tem a vantagem de ser processado a uma temperatura de 100°C, enquanto as colas tradicionais precisam atingir até180°C, demandando um gasto energanãtico bem maior. Mesmo assim, os adesivos sintanãticos ainda são os mais utilizados pelas empresas.
Painanãis OSB sendo aplicados na construção de uma casa
 Foto: Blog do Light Steel Frame
A ideia de realizar a pesquisa surgiu após visitas realizadas pelo professor Rocco a universidades do Norte, oportunidades em que ele observou de perto o processo de produção de madeira local, com grandes quantidades de rejeitos sendo transportados para a queima, o que despertou o interesse em tentar aproveitar o material que seria descartado para a fabricação dos painanãis. Para se ter uma ideia do que representa a quantidade de resíduo gerado por ano no Brasil (oitocentas mil toneladas), a única fa¡brica de painanãis de lascas do Paas, localizada em Ponta Grossa (PR), produz anualmente cerca de 240 mil toneladas do produto, ou seja, aproximadamente três vezes menos que o número de rejeito gerado.
Resistentes, os painanãis de lasca são compostos de várias camadasÂ
Foto: Henrique Fontes osEESC/USP
Isabela explica que um dos principais problemas enfrentados pelas madeireiras éque elas aproveitam apenas 35% da tora da a¡rvore para o desenvolvimento de produtos, sendo que o restante édescartado, cena¡rio esse que poderia mudar completamente com o aproveitamento dos resíduos. “Além de contribuir com o meio ambiente, melhoraraamos a eficiência produtiva dessas empresas, que émuito baixa, podendo ainda gerar novas oportunidades de emprego e crescimento econa´mico para a regia£o Norteâ€, diz a cientista, que teve sua pesquisa financiada pela Coordenação de Aperfeia§oamento de Pessoal de Navel Superior (Capes).
Segundo os pesquisadores, nos pra³ximos passos do trabalho eles pretendem ajudar a viabilizar a implantação da primeira empresa produtora de painanãis OSB do Norte do Brasil, a fim de facilitar a logastica de aproveitamento dos rejeitos. “Já temos algumas tratativas iniciais com alguns grupos interessados e esperamos que, com o melhora da pandemia, possamos acelerar esse processo. a‰ urgente termos uma solução que envolva o uso racional desses resíduos para que eliminemos os problemas ambientais ocasionados pelas suas queimadasâ€, finaliza Rocco.