Tecnologia Científica

Estudo sobre a evolução da maior linhagem de pa¡ssaros resolve um dos paradoxos da diversidade tropical
Cientistas constatam que as maiores taxas de especiaa§a£o osformaa§a£o de espanãcies osde pa¡ssaros ocorreram em regiaµes com menor diversidade
Por Antonio Carlos Quinto - 14/12/2020


Lophotriccus pileatus osFoto: Andres Cuervo Bodega

Foram necessa¡rios mais de 40 anos de coletas, muitas expedições a s mais remotas regiaµes tropicais do globo, realizadas por cientistas de 21 museus de diversospaíses, e análises do genoma de 1.300 espanãcies de pa¡ssaros para se desvendar um dos maiores paradoxos sobre a origem das espanãcies nos tra³picos. Na regia£o Neotropical, que se estende do Manãxico a  Argentina, a taxa de formação de novas espanãcies émais acelerada em ambientes insta¡veis e com climas mais extremos, como nos Andes tropicais, do que em áreas mais esta¡veis, como a bacia amaza´nica.

“Acreditava-se que regiaµes ricas em espanãcies de pa¡ssaros, como a Amaza´nia, eram também as que apresentavam as maiores taxas de especiação, e vimos que isso não éverdade”, afirma o ornita³logo e diretor cienta­fico do Museu de Zoologia (MZ) da USP, Lua­s Fa¡bio Silveira, um dos autores do estudo que acaba de ser publicado na revista Science.

De acordo com o cientista, condições climáticas influenciam de maneira importante a diversificação das espanãcies. “Ambientes extremos parecem limitar a riqueza e a diversidade, mas ao mesmo tempo oferecem oportunidades para a especiação, enquanto ambientes mais esta¡veis ou moderados reduzem estas oportunidades, mas possuem baixas taxas de extinção e permitem a acumulação da diversidade, e por isso são tão ricos em espanãcies”, analisa Silveira.

Filogenias robustas como a que apresentamos neste artigo provam que a grande maioria das espanãcies deste grupo se originaram recentemente, entre o final do período Plioceno e no Pleistoceno

O trabalho abre uma sanãrie de outras questões e sugere que os esforços de conservação para salvar as paisagens tropicais precisam se concentrar não somente em áreas como a Amaza´nia, que érica em espanãcies, mas também em áreas com menor diversidade, como a puna fria e ventosa da Cordilheira dos Andes.


Antilophia bokermanni osFoto: Edson Endrigo



Machaeropterus regulus osFoto: Ciro Albano



Piprites pileata osFoto: Edson Endrigo

Estudando genes

Durante 40 anos, amostras de 1.300 espanãcies de pa¡ssaros foram coletadas e depositadas nos museus de história natural. Com base nesse material, os cientistas sequenciaram um total de 2.400 genes de cada uma destas espanãcies. Ana¡lises computacionais robustas permitiram a  equipe desvendar os padraµes de diferenciação e de especiação do maior grupo de pa¡ssaros tropicais, conhecidos como Passeriformes Suboscines. “Filogenias robustas como a que apresentamos neste artigo provam que a grande maioria das espanãcies deste grupo se originaram recentemente, entre o final do período Plioceno e no Pleistoceno.”

Para o pesquisador, este artigo, além de resolver uma questãoimportante sobre a biogeografia neotropical, étambém importante para muitas outras áreas, como a taxonomia, a ecologia e para a conservação.

Como pesquisador e diretor cienta­fico do Museu de Zoologia (MZ) da USP, Silveira destaca que nos últimos 20 anos o MZ vem coletando espanãcimes que integraram o presente trabalho. “A coleção de aves brasileiras do nosso museu éa maior e mais completa do mundo, com um acervo que possui em torno de 118 mil exemplares”, contabiliza. Segundo o cientista, as equipes do MZ realizam cerca de seis a sete expedições anuais a diversas regiaµes do Paa­s. “Muitas dessas expedições foram fundamentais para que este artigo tivesse uma amostragem tão completa”, avalia.
 
Além de pesquisadores do MZ, o trabalho recentemente publicado na revista Science tem colaborações de cientistas ligados a dezenas de outros museus de história natural, como o Museu Paraense Ema­lio Goeldi, em Belanãm, no Para¡. Muitos dos pesquisadores envolvidos no estudo são da Amanãrica Latina (Cola´mbia, Brasil, Uruguai e Venezuela). 

“Seria impossí­vel produzir esse trabalho se não fosse a unia£o em rede de cientistas de todo o mundo, e a ciência colaborativa écapaz de produzir resultados de grande impacto, que jamais seriam obtidos por apenas um ou poucos pesquisadores isolados”, diz Silveira.

 

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