Tecnologia Científica

Novo manãtodo para extrair protea­na do milho deve colocar mais biopla¡sticos no mercado
Tanãcnica criada por pesquisador da USP faz a zea­na (protea­na do milho) ser obtida de forma mais eficiente, possibilitando que usinas de etanol e indaºstrias de biopla¡sticos tenham um lucro de, pelo menos, 200%
Por Henrique Fontes - 25/02/2021


Os biopla¡sticos feitos com zea­na podera£o se decompor em cerca de três meses. No Brasil, não háesse tipo de produto devido a  baixa eficiência dos atuais processos de extração da protea­na, o que pode ser ainda mais lamenta¡vel tendo em vista que o Paa­s éo quarto maior produtor de gra£os de milho do mundo. Um pedido de “patente verde” já foi submetido ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) osFoto: Pexels

Uma nova técnica de extração da zea­na (protea­na do milho) a partir dos resíduos oriundos dos gra£os do milho permitira¡ no Brasil a inserção de biopla¡sticos que utilizam o composto como matéria-prima. Atualmente, os manãtodos utilizados no Paa­s para extrair a protea­na dos resíduos não conseguem remover nem metade dela, o que desmotiva empresas a investirem no seu uso. No entanto, com a nova estratanãgia proposta por um pesquisador do Instituto de Quí­mica de Sa£o Carlos (IQSC) da USP, a zea­na podera¡ ser totalmente retirada, permitindo que usinas interessadas em extraa­-la para venda ou indaºstrias que pensam em produzir biopla¡sticos sustenta¡veis e biodegrada¡veis possam obter um lucro de pelo menos 200%. Um pedido de “patente verde” da nova técnica já foi submetido ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).

“Além de ser mais eficiente, nossa técnica émais barata, simples e rápida que as utilizadas atualmente para extrair zea­na dos resíduos dos gra£os de milho”, conta Sanãrgio A. Yoshioka, autor do trabalho e professor do IQSC. A técnica convencional para obtenção da protea­na utiliza os resíduos dos gra£os de milho misturados com etanol comum, que passa por processos de evaporação e solubilização para permitir que a zea­na seja extraa­da. Já no manãtodo idealizado pelo docente, o procedimento ébasicamente o mesmo, mas o etanol tem sua acidez ou alcalinidade alterada, gerando reações químicas que possibilitam a extração de uma quantidade maior da substância (pra³ximo a 100%).

A partir da zea­na extraa­da com a nova técnica, o pesquisador produziu alguns biomateriais 100% biodegrada¡veis, comesta­veis, composta¡veis e recicla¡veis, como saboneteira e canudos. Pelo fato da protea­na do milho também poder ser utilizada como filme para revestir alimentos e evitar a invasão de bactanãrias, aumentando o tempo de prateleira dos produtos, o docente aproveitou a matéria-prima obtida para revestir um queijo e ilustrar sua aplicação. No Brasil, não hábiopla¡sticos fabricados com zea­na devido a  baixa eficiência dos atuais processos de extração da protea­na, o que pode ser ainda mais lamenta¡vel tendo em vista que o Paa­s éo quarto maior produtor de gra£os de milho do mundo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estata­stica (IBGE).

Os biopla¡sticos vendidos atualmente usam como matéria-prima o amido de milho ou o da mandioca, compostos menos resistentes a  umidade que a zea­na, que acaba sendo mais dura¡vel. Já com relação aos filmes para o revestimento de alimentos, hoje em dia eles geralmente são feitos a partir de pectina ou quitosana, substâncias que possuem menor resistência meca¢nica que a zea­na quando estãoem ambientes com alta umidade. Inicialmente, a ideia do pesquisador do IQSC éutilizar a protea­na do milho para revestir doces e produzir canudos comesta­veis. Por se tratar de um produto altamente proteico e seguro, a zea­na pode ser consumida sem nenhum problema.

Uma fa¡brica piloto já estãosendo montada em Criciaºma (SC) para incorporar a nova técnica de extração da zea­na dos resíduos dos gra£os de milho a fim de desenvolver e patentear novos processos e produtos com o uso da protea­na. A expectativa éde que ainda este ano a indústria produza toneladas do composto por dia. Segundo o professor Sanãrgio, se o valor da zea­na se mantiver por volta de R$ 40,00 o quilo (kg) e a saca dos gra£os de milho não ultrapassar os R$ 90,00/saca, as usinas de a¡lcool de milho podera£o inovar com a tecnologia e ter um lucro de pelo menos três vezes na comercialização de zea­na, além , claro, de se tornarem empresas muito mais sustenta¡veis e renova¡veis. Na ponta final dessa cadeia produtiva estãoos consumidores, que, por sua vez, tera£o uma nova opção para comprar produtos que não agridam o meio ambiente, como os biopla¡sticos que sera£o produzidos a partir da matéria-prima obtida dos gra£os do milho.

Saboneteira e canudo obtidos a partir da zea­na extraa­da com a nova técnica da USP
osFoto: Sanãrgio A. Yoshioka/Arquivo pessoal

Um dos objetivos do professor Sanãrgio, assim como o de todos os pesquisadores que trabalham com o desenvolvimento de diferentes tipos de biopla¡sticos, éproporcionar novas alternativas ao pla¡stico comum, de origem do petra³leo, que pode levar até100 anos para se degradar e causar graves impactos ao meio ambiente, como a contaminação de rios e intoxicações ou mortes de animais que corriqueiramente ingerem produtos descartados de forma incorreta, como éo caso das tartarugas-marinhas e baleias. Diversas cidades brasileiras, inclusive, tem proibido o uso ou distribuição de pla¡sticos descarta¡veis, como talheres, copos, pratos, marmitex, canudos de sucos, entre outros. Já os biopla¡sticos feitos com a zea­na podera£o se decompor em cerca de três meses.

O trabalho desenvolvido pelo pesquisador da USP foi uma consultoria para a startup GreenB Biological Solutions, que éa responsável pela montagem da fa¡brica piloto em Criciaºma. O projeto conta com financiamento do Programa Centelha-SC, oferecido em parceria pela Fundação de Apoio a  Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cienta­fico e Tecnola³gico (CNPq), pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pelo Ministanãrio da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).

 

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