Cientistas criaram um biossensor eficiente para a deteca§a£o da cisticercose bovina
Bovinos podem contrair Cisticercose ingerindo pastagem com ovos de Taenia saginata. Foto: Reprodução - Gado de Corte
Desenvolvido por cientistas da Unesp, o primeiro biossensor do mundo para o diagnóstico rápido da cisticercose bovina, zoonose causada pela ingestãode ovos do parasita Taenia saginata (solita¡ria), recebeu a concessão de patente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). De baixo custo, fa¡cil produção e com resultados que saem em atédez minutos, a tecnologia deve auxiliar profissionais da área veterina¡ria a identificar a doença em seu esta¡gio inicial, acelerando o tratamento e evitando que a carne bovina esteja contaminada após o abate do animal, o que poderia acarretar grandes prejuazos financeiros.
whatsapp-image-2021-03-12-at-16.54.03.jpegEsquema ilustra composição do biossensor
patenteado. Imagem: Josy Campanha£ Vicentini de Oliveira.
O trabalho contou com a participação do professor e diretor do Instituto de Química (IQ) da Unesp, em Araraquara, Sidney JoséLima Ribeiro, que coordena o Laborata³rio de Materiais Fota´nicos (LAMF), utilizado durante o desenvolvimento do dispositivo. Além do docente, produziram o biossensor os pesquisadores Josy Campanha£ Vicentini de Oliveira, Germano Francisco Biondi e Elenice Deffune, todos do Campus de Botucatu da Unesp; Laas Roncalho de Lima, ex-aluna do IQ e atual pa³s-doutoranda da Universidade Federal de Sa£o Carlos (UFSCar); Ca¡ris Maroni Nunes, professora da Unesp em Araçatuba, e Silvana de Ca¡ssia Paulan, que realizou pa³s-doutorado na mesma Instituição; e Marli Leite de Moraes, docente e coordenadora do Laborata³rio de Biossensores e Biossistemas (LBios) da Universidade Federal de Sa£o Paulo (Unifesp), campus Sa£o Josédos Campos.
O sensor - O dispositivo desenvolvido écomposto por eletrodos de carbono impressos que possuem em suasuperfÍcie camadas de fibroana da seda, uma proteana extraada dos casulos do Bombyx mori (bicho-da-seda) e que tem como função imobilizar um dos anticorpos da cisticercose. Esse anticorpo, caso entre em contato com o antageno da doença durante a análise de uma amostra do soro dos animais, gera um sinal elanãtrico que indica a infecção. Para avaliar a eficácia da plataforma, os cientistas a testaram em amostras de bezerros e bois adultos tanto com diagnóstico positivo como negativo para a doena§a. Entre os positivados, a maioria dos animais possuaa baixa carga parasita¡ria, justamente para colocar a prova a precisão do sensor. Os resultados obtidos mostraram uma sensibilidade de 83% (porcentagem de acerto das amostras positivas) e uma especificidade de 100% (porcentagem de acerto das amostras negativas).
O diagnóstico da cisticercose bovina normalmente se baseia na inspeção da carne após o abate do animal, com a realização de cortes em órgãos e em maºsculos de predileção do parasita, como a langua, coração e diafragma. No entanto, esse manãtodo de avaliação élimitado, já que o Taenia saginata também pode ser encontrado em regiaµes de difacil acesso do animal. Dessa forma, carcaças contaminadas podem chegar a população que, ao consumi-las de forma crua ou mal cozida, corre o risco de desencadear a doença e contribuir para a manutenção do ciclo do parasita. Outra desvantagem éque, como consequaªncia do diagnóstico tardio da enfermidade, apenas após o abate do animal, as carcaças já podem estar comprometidas parcial ou totalmente, impossibilitando seu aproveitamento.
Algumas soluções para a detecção precoce da doença ativa no organismo dos animais tem sido propostas, como o uso do teste ELISA, que pode ser utilizado para identificar o antageno da cisticercose. Poranãm, ele possui diversas desvantagens em relação ao biossensor desenvolvido, pois além de demandar laboratórios equipados para a realização do exame, encarecendo o procedimento, a tecnologia leva um tempo maior para revelar os resultados (algumas horas) e apresenta dificuldades em detectar casos leves da doena§a.
Comum empaíses em desenvolvimento, a cisticercose bovina éuma zoonose presente nos rebanhos bovinos de corte do Brasil, onde a infraestrutura sanita¡ria inadequada e as ma¡s prática s na criação de gado muitas vezes facilitam a contaminação de pastagem e águacom fezes humanas contendo ovos do parasita Taenia saginata. Os ovos ingeridos pelo boi sofrem a ação de enzimas, liberando as larvas infectantes (oncosferas) que avana§am pela circulação sanguínea atéchegarem a órgãos e tecidos, onde permanecem sob a forma de cistos.
A patente concedida pelo INPI aos pesquisadores tem validade de 20 anos, contados a partir do dia 4 de dezembro de 2015, data em que o pedido foi depositado pelos autores da invenção.