Publicado no Journal of the American Chemical Society, estudo podera¡ ajudar a diminuir as emissaµes de gases de efeito estufa na atmosfera pela transformação de CO2 de combustaveis e produtos químicos aºteis
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Um estudo feito por pesquisadores da USP resultou em um protocolo para melhorar a eficiência de uma etapa crucial da conversão do dia³xido de carbono (CO2), um dos principais gases de efeito estufa (GEE), em produtos de alto valor agregado. Nela, o CO2 étransformado em mona³xido de carbono (CO) após passar por uma reação química de hidrogenação com o uso de um catalisador de naquel previamente tratado. Os resultados da pesquisa, coordenada por Liane Rossi, professora titular do Instituto de Química da USP, no a¢mbito do Fapesp Shell Research Centre for Gas Innovation (RCGI), foram publicados no prestigioso Journal of the American Chemical Society (JACS), no dia 4 de mara§o.
“Na³s conseguimos melhorar a seletividade do catalisador para produzir exclusivamente CO e elucidar a razãopela qual um catalisador de naquel fica mais eficiente após tratamento em alta temperaturaâ€, afirma Rossi, explicando que a seletividade nesse caso éimportante para evitar a produção de metano (CH4), outro GEE, durante o processo.
A conversão do CO2 em moléculas de alto valor agregado tem sido um grande desafio para cientistas, que veem na utilização comercial de produtos derivados de CO2 uma saada para diminuir as emissaµes desse gás, apontado como um dos principais causadores do efeito estufa e dasmudanças climáticas.
Eliminando o indesejado
Diferente do CO2 e do CH4, o CO émais reativo e um importante intermediário a partir do qual épossível produzir quase tudo que se obtanãm a partir do petra³leo, como combustaveis e precursores para polímeros com as mesmas propriedades dos petroquamicos, além de moléculas oxigenadas utilizadas por outros ramos da indústria química. Um dos possaveis produtos éo querosene de aviação.
O problema éque no processo de hidrogenação do CO2, normalmente obtanãm-se como produto uma mistura de mona³xido de carbono e metano. A proporção muda conforme o catalisador utilizado e de acordo com as condições de temperatura e pressão do processo. Um dos catalisadores mais amplamente utilizados éo de naquel, material barato e abundante que, no entanto, pode levar a uma proporção maior de metano. A produção concomitante de metano éindesejada quando o foco éa produção de hidrocarbonetos de cadeia mais longa, pois reduz o rendimento dos produtos desejados.
Os pesquisadores descobriram que, após ser submetido a temperaturas de 800 graus Celsius, em atmosfera de CO2/H2 ou de metano ou propano, o catalisador passa por uma sutil mudança estrutural, o que possibilita produzir somente mona³xido de carbono osevitando-se o metano, mesmo em uma temperatura a³tima para sua formação.
De acordo com Rossi, a elevação da temperatura leva a formação de carbeto de naquel (Ni3C) nasuperfÍcie do catalisador e éisso que faz toda a diferença na reação de hidrogenação. “Ha¡ uma mudança da interação do CO com asuperfÍcie do catalisador, de forma que, com o carbeto, écomo se o CO formado logo fosse expulso dessasuperfÍcie, sem ser convertido em metano pela reação com os hidrogaªnios que estãotambém adsorvidos nasuperfÍcie do catalisador osos hidretos, como chamamosâ€, explica.
Segundo Rossi, a formação de carbeto de naquel éuma etapa crucial para a produção de mona³xido de carbono, a partir de CO2, sem ser transformado em seguida em metano. Essa hipa³tese foi formulada com base nos resultados obtidos experimentalmente e confirmados por ca¡lculos teóricos. Os pesquisadores puderam estudar asuperfÍcie do catalisador em condições muito próximas das operacionais (in operando) no Laborata³rio Nacional de Luz Sancrotron (LNLS) e no Laborata³rio Nacional de Nanotecnologia (LNNano), em Campinas (SP), e no Pacific Northwest National Laboratory (PNNL), nos Estados Unidos.
O estudo teve a contribuição de membros do grupo da professora Rossi e de pesquisadores dos Institutos de Fasica da USP em Sa£o Paulo e em Sa£o Carlos, e do PNNL. Para os autores do trabalho, a publicação no JACS, um dos maiores e melhores jornais de química do mundo, fundado pela Sociedade Americana de Química em 1879, éum reconhecimento da importa¢ncia desse estudo. “a‰ ainda raro um pesquisador brasileiro ter um trabalho seu publicado nesse jornal; isso trara¡ visibilidade ao trabalho realizado e a ciência brasileiraâ€, afirma a professora do IQ.
Pra³ximo passo
De acordo com a professora, a pesquisa agora seguira¡ analisando como outros fatores osa pressão dos gases dentro do reator, por exemplo osinterferem no processo, de modo a estabelecer a melhor condição para o funcionamento dos catalisadores de naquel. Em seguida, avana§ara¡ para o possível desenvolvimento de um processo integrado que primeiro transforme CO2 em CO e depois em produtos químicos de maior valor. “Daqui pra frente, vamos montar as partes para, partindo do CO2, chegar a produtos de interesse comercial.â€
Os pesquisadores estãotrabalhando para agregar valor ao CO2 e assim mostrar que pode ser mais benanãfico usa¡-lo como matéria-prima do que simplesmente joga¡-lo na atmosfera, servindo como um estamulo para mitigar as emissaµes.
O resumo do artigo Optimizing Active Sites for High CO Selectivity during CO2 Hydrogenation over Supported Nickel Catalysts pode ser lido em https://pubs.acs.org/doi/10.1021/jacs.0c12689.