Tecnologia Científica

Cientistas utilizam TVs e computadores antigos na fabricação de pea§as cera¢micas
Desenvolvido por pesquisadores da USP, novo esmalte para revestimentos cera¢micos éfeito com o vidro das telas das TVs de tubo e de monitores de computadores antigos, cujo descarte incorreto prejudica o meio ambiente
Por EESC/USP - 08/04/2021


Trabalho realizado no campus de Sa£o Carlos da USP deu novo destino a equipamentos eletra´nicos cujo descarte irregular pode prejudicar o meio ambiente osImagem: Doma­nio paºblico
 
Com a constante evolução da tecnologia utilizada nas atuais TVs e computadores disponí­veis no mercado, os “jura¡ssicos” monitores e televisores de tubo praticamente desapareceram, embora muitas pessoas ainda possuam tais equipamentos em casa. O descarte inconsciente desses aparelhos tem prejudicado o meio ambiente, por isso encontrar soluções sustenta¡veis para reaproveita¡-los éfundamental para proteger a natureza e, dependendo da aplicação, atécontribuir com as indaºstrias. Um novo destino para esses produtos foi proposto por pesquisadores da Escola de Engenharia de Sa£o Carlos (EESC) da USP, que desenvolveram um novo esmalte para revestimentos cera¢micos feito com o vidro das telas das TVs de tubo e de monitores de computadores antigos. Além de ser uma nova opção de reciclagem para o lixo eletra´nico, o produto tem o processo de produção mais barato, consome menos energia e ainda éfeito de forma mais rápida se comparada a  convencional encontrada no mercado.

Os cientistas criaram uma nova receita para os esmaltes cera¢micos, que normalmente são compostos de pa³ de argila, pa³ de caulim e pa³ de frita osa matéria-prima mais cara na produção do esmalte, usada para dar liga no produto após a queima. Os autores da pesquisa substitua­ram 20% da frita pelo vidro do painel dos equipamentos, um dos três diferentes tipos de vidro que compõem os tubos de aparelhos televisores e monitores, e, assim, encontraram uma finalidade para esse resíduo que antes poderia poluir o meio ambiente, pois o tubo não desmontado corretamente carrega substâncias ta³xicas.

O novo esmalte produzido na USP (que reveste a pea§a da direita) apresentou a
mesma qualidade dos tradicionais osFoto: Raul Revelo

O professor Eduardo Bellini Ferreira, docente do Departamento de Engenharia de Materiais (SMM) da EESC e coordenador da pesquisa que resultou na inovação, explica que o esmalte cera¢mico éo responsável por proteger as pea§as, sejam elas um azulejo, uma caneca ou um vaso sanita¡rio, por exemplo. “O esmalte tem funções técnicas e estanãticas. Ele impermeabiliza e da¡ durabilidade a  pea§a. Se a cera¢mica não for esmaltada, ela vai sugar qualquer la­quido que entre em contato. Além de manchar o produto, émuito anti-higiaªnico”, afirma o pesquisador.

Para chegar a  inovação, os pesquisadores testaram diferentes quantidades de vidro reciclado no lugar da frita atéencontrar o ponto ideal. Eles contaram com a ajuda de ferramentas computacionais que calculam as propriedades das composições baseadas em milhares de dados encontrados na literatura cienta­fica. “O software nos da¡ mais segurança e prevaª os parametros necessa¡rios para que o esmalte não perca suas propriedades”, explica Ferreira. Depois de produzir a substância para substituir a frita nos laboratórios da USP, o novo esmalte foi testado em parceria com o Centro Cera¢mico do Brasil (CCB), localizado em Santa Gertrudes, a aproximadamente 70 quila´metros (km) de Sa£o Carlos. La¡, a solução foi aplicada em cera¢micas simulando um processo industrial. “O nosso esmalte passou pelo teste de qualidade. Ficou transparente e se fixou sem formar bolhas nas pea§as. O estudo mostrou que épossí­vel descartar corretamente e reaproveitar os resíduos dos monitores e das TVs antigas na indústria cera¢mica”, comemora o professor.

O especialista em engenharia de materiais conta que não ésimples reciclar os vidros encontrados em tubos de TVs antigas e monitores de computadores, já que na composição destes aparelhos hásubstâncias ta³xicas. “Nãoéqualquer pessoa que pode abrir este tipo de equipamento”, ressalta. De acordo com o estudo, estima-se que em todo o mundo apenas 26% deste tipo de material descartado seja reciclado; 59% do total são aterrados e 15% incinerados. No Brasil, o a­ndice reciclado bem menor.

Para Eduardo Ferreira, a rápida evolução na tecnologia de monitores acelerou a busca por estratanãgias para reciclar o vidro dessas telas em larga escala, mas a implementação dessas novidades encontra muitos desafios no mercado. “Falta planejamento. a‰ muito difa­cil para uma empresa criar um processo de reaºso em cima de um produto eletra´nico, sendo que daqui a alguns anos isso muda. E aa­, aquele investimento enorme éperdido. Quem produz precisa ser responsável por pensar na composição dos materiais de uma forma que depois seja via¡vel a reciclagem”, defende o cientista. “Muitos monitores foram enterrados causando grande impacto ambiental por falta de reciclagem. Além disso, estamos perdendo dinheiro”, alerta.

Ainda épreciso mais recursos financeiros para o desenvolvimento de inovações nesta área. Para o pesquisador Raul Revelo, coautor do trabalho na USP durante sua pós-graduação, mais do que investimento nesse tipo de operação, épreciso mudar o pensamento de toda a sociedade. “Nãoésustenta¡vel comprar, usar e descartar, agravando ainda mais a poluição do meio ambiente. Muitos resíduos podem ser reaproveitados como matéria-prima para diferentes processos produtivos”, lembra. O cientista acredita que, devido a  crise ambiental global, a demanda por produtos sustenta¡veis serácada vez maior. Hoje em dia, ele ésãocio-proprieta¡rio da GAIA Green Tech, startup sediada em Sa£o Carlos que oferece gestãointeligente e soluções tecnologiicas na loga­stica para reciclar resíduos eletra´nicos. “Queremos promover a economia circular e incentivar o descarte responsável de equipamentos eletroeletra´nicos”, conclui.

A pesquisa foi realizada em colaboração com a Superintendaªncia de GestãoAmbiental da USP (SGA), do Recicl@tesc, do Centro de Pesquisa, Educação e Inovação em Vidros (CeRTEV) e contou com financiamento da Fundação de Amparo a  Pesquisa do Estado de Sa£o Paulo (Fapesp) e da Coordenação de Aperfeia§oamento de Pessoal de Na­vel Superior (Capes). O novo esmalte pode ser vendido tanto para produtores de frita como para fabricantes de esmalte. O Brasil éum dos maiores produtores e consumidores de revestimentos cera¢micos no mundo. Sa³ de fritas são usadas mais de 500 mil toneladas por ano.

 

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