Tecnologia Científica

Resolvendo o mistério da geada escondida em Marte
Um novo estudo usando dados do orbitador Mars Odyssey da NASA pode explicar por que a geada marciana pode ser invisível a olho nu e por que as avalanches de poeira aparecem em algumas encostas.
Por Laboratório de Propulsão a Jato - 06/05/2022


A geada dasuperfÍcie marciana, composta principalmente de dia³xido de carbono, aparece branco-azulada nestas imagens da ca¢mera do Sistema de Imagens de Emissão Tanãrmica (THEMIS) a bordo do orbitador Odyssey da NASA em 2001. O THEMIS captura imagens tanto em luz visível percepta­vel ao olho humano quanto em infravermelhosensívelao calor. Crédito: NASA/JPL-Caltech/ASU

Um novo estudo usando dados do orbitador Mars Odyssey da NASA pode explicar por que a geada marciana pode ser invisível a olho nu e por que as avalanches de poeira aparecem em algumas encostas.

Os cientistas ficaram perplexos no ano passado ao estudar imagens dasuperfÍcie marciana tiradas ao amanhecer pela sonda Mars Odyssey da NASA. Quando eles olharam para asuperfÍcie usando luz visível oso tipo que o olho humano percebe oseles puderam ver a geada matinal fantasmaga³rica, azul-esbranquia§ada, iluminada pelo sol nascente. Mas usando a ca¢merasensívelao calor do orbitador, a geada apareceu mais amplamente, inclusive em áreas onde nenhuma era visível.

Os cientistas sabiam que estavam olhando para a geada que se forma durante a noite e écomposta principalmente de dia³xido de carbono osessencialmente, gelo seco, que geralmente aparece como geada no Planeta Vermelho, e não como gelo de a¡gua. Mas por que essa geada de gelo seco foi visível em alguns lugares e não em outros?

Em um artigo publicado no maªs passado no Journal of Geophysical Research: Planets , esses cientistas propuseram uma resposta surpreendente que também pode explicar como as avalanches de poeira, que estãoremodelando o planeta, são desencadeadas após o nascer do sol.

Da geada ao vapor

Lana§ada em 2001, a Odyssey éa missão a Marte de vida mais longa da NASA e carrega o Sistema de Imagens de Emissão Tanãrmica (THEMIS), uma ca¢mera infravermelha ousensívela  temperatura que fornece uma visão única dasuperfÍcie marciana. A a³rbita atual da Odyssey fornece uma visão única do planeta a s 7 da manha£, hora¡rio local de Marte.

Essas faixas escuras, também conhecidas como “estrias de declive”, resultaram de avalanches
de poeira em Marte. A ca¢mera HiRISE a bordo do Mars Reconnaissance Orbiter da NASA
os capturou em 26 de dezembro de 2017. Crédito: NASA/JPL-Caltech/UArizona

"A a³rbita matinal da Odyssey produz imagens espetaculares", disse Sylvain Piqueux, do Laborata³rio de Propulsão a Jato da NASA no sul da Califa³rnia, que liderou o artigo. "Podemos ver as longas sombras do nascer do sol a  medida que se estendem pelasuperfÍcie."

Como Marte tem tão pouca atmosfera (apenas 1% da densidade da Terra), o sol aquece rapidamente a geada que se acumula durante a noite. Em vez de derreter, o gelo seco vaporiza na atmosfera em poucos minutos.

Lucas Lange, um estagia¡rio do JPL que trabalha com Piqueux, notou pela primeira vez a assinatura de temperatura fria da geada em muitos lugares onde não podia ser vista nasuperfÍcie. Essas temperaturas estavam aparecendo a apenas dezenas de ma­crons no subsolo - menos do que a largura de um fio de cabelo humano "abaixo" dasuperfÍcie.

"Nosso primeiro pensamento foi que o gelo poderia estar enterrado la¡", disse Lange. "O gelo seco éabundante perto dos polos de Marte, mas esta¡vamos olhando mais perto do equador do planeta, onde geralmente émuito quente para a formação de gelo seco."
 
Em seu artigo, os autores propaµem que estavam vendo "geada suja" - gelo seco misturado com gra£os finos de poeira que a obscureciam na luz visível, mas não nas imagens infravermelhas.

Descongelamento de geadas e avalanches

O fena´meno levou os cientistas a suspeitar que a geada suja também pode explicar algumas das faixas escuras que podem se estender por 3.300 panãs (1.000 metros) ou mais nas encostas marcianas. Eles sabiam que as listras resultaram, essencialmente, de avalanches de poeira que remodelam lentamente as encostas das montanhas em todo o planeta. Os cientistas pensam que essas avalanches de poeira provavelmente se parecem com um rio de poeira que abraça o solo liberando um rastro de material fofo atrás. Amedida que a poeira desce ao longo de várias horas, expaµe faixas de material mais escuro por baixo.

Essas faixas escuras, também conhecidas como “estrias de declive”, resultaram de avalanches
de poeira em uma área de Marte chamada Acheron Fossae. A ca¢mera HiRISE a bordo do
Mars Reconnaissance Orbiter da NASA os capturou em 3 de dezembro de 2006 .
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UArizona

Essas faixas escuras não são as mesmas que uma variedade melhor documentada chamada de linhas de encosta recorrentes , que se repetem nos mesmos lugares, estação após estação, por semanas (em vez de horas) de cada vez. Uma vez pensado para resultar da águasalgada que escoa lentamente das encostas das montanhas, agora acredita-se que as linhas de encosta recorrentes resultem de fluxos de areia seca ou poeira.

Mapeando as faixas das encostas para seu estudo recente, os autores descobriram que elas tendem a aparecer em locais com geada matinal. Os pesquisadores propaµem que as listras resultaram da vaporização da geada criando pressão suficiente para soltar os gra£os de poeira, causando uma avalanche.

As hipa³teses são mais uma evidência de quanto surpreendente o Planeta Vermelho pode ser.

“Toda vez que enviamos uma missão a Marte, descobrimos novos processos exa³ticos”, disse Chris Edwards, coautor do artigo na Northern Arizona University em Flagstaff. "Nãotemos nada exatamente como uma faixa de declive na Terra. Vocaª tem que pensar além de suas experiências na Terra para entender Marte."

 

.
.

Leia mais a seguir